Cidades

Pesquisadores apresentam projetos de proteção a meninas e mulheres

Amanhã (6/10) serão apresentados os projetos aprovados na Seleção Pública de Propostas de Pesquisas sobre o Sistema de Proteção e Promoção dos Direitos de Meninas e Mulheres no Distrito Federal lançada em 8 de março

Júlia Campos - Especial para o Correio, Deborah Fortuna
postado em 06/10/2017 09:00

Janara Kalline Leal Lopes de Sousa, professora da Faculdade de Comunicação (FAC) da UnB irá coordenar o projeto

Uma mulher liga para o 190. A denúncia não é inédita: o marido a ameaça e a polícia tem que intervir. A vítima luta pela vida, mas, naquele momento, não sabe se vai conseguir. Sente medo e quer proteção, e o único que pode salvá-la agora é o Estado. No último semestre, 7.764 mulheres passaram por situações como esta e sofreram alguma violência doméstica no Distrito Federal, segundo a Secretaria de Segurança Pública. Nesta sexta-feira (6/10), as pesquisas da Secretaria Adjunta de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos apresentam os projetos aprovados na Seleção Pública de Propostas de Pesquisas sobre o Sistema de Proteção e Promoção dos Direitos de Meninas e Mulheres no Distrito Federal lançada em 8 de março.

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A pasta escolheu seis projetos que estudarão a sociedade no próximo ano para concluir quais são as ações públicas necessárias para evitar que uma mulher seja violentada. A ideia é que até 2019, a secretaria tenha em mãos um estudo claro de quais deverão ser os passos a serem tomados para uma nova estrutura social. "A gente vê claramente que, quando as pessoas conversam, elas só falam de enfrentamento para frente. Mas não falam de prevenção. E isso é o pilar da política pública. Nós dependemos disso para eu dizer que vai haver uma mudança de cultura daqui a 20 anos;, afirmou a secretária Márcia Alencar.

Mas, para isso, é necessário que os estudos também mostrem as diferentes geográficas do problema. Assim como as mulheres são violentadas de formas diferentes nas regiões do DF, as ações devem entender essas diferenças e agir de forma a combater as agressões em qualquer território.

Além disso, para a secretária, todos os elementos que promoveram uma cultura patriarcal são históricos, ou seja, já estão enraizados na mente dos brasileiros, de uma forma geral. Por isso, é necessário começar a desconstruir os pensamentos ultrapassados. "A grande importância da pesquisa é exatamente fazer com que esse sistema tenha elementos para induzir políticas e realocar recursos para romper os ciclos da violência contra a mulher", comentou Márcia Alencar. Com esse novo modelo, será possível mudar o entendimento sobre as questões de gênero na sociedade, e começar uma transformação para garantir os direitos da mulher dentro do mundo.

O projeto "Mulher & Cidadania: desenvolvimento de tecnologia lúdico-educativa no enfrentamento da violência contra a mulher (Etapa 2 ; Vidas Violetas: Um jogo em que as mulheres dão as cartas!” da professora da Universidade de Brasília (UnB), Maria Raquel Gomes Maia Pires é um dos selecionados. Ele é a segunda parte de uma proposta lançada em 2016. A primeira etapa era um jogo de tabuleiro voltado, principalmente, para os profissionais da rede de enfrentamento de violência contra mulher. ;Com este edital vamos continuar trabalhando em um primeiro momento com esses especialistas. Depois vamos partir para comunidade, que é o que faz parte deste edital. Nosso público alvo são homens e mulheres jovens adultos;, explica.

Nessa etapa, o jogo será de cartas e o objetivo será a desconstrução de estereótipos que reproduzem ideias preconceituosas. De acordo com Maria Raquel, o edital é uma forma de incentivar que outros sejam lançados. ;É uma excelente iniciativa. É difícil ver pesquisas relacionadas a este tema e essa é uma forma de se criar uma cultura de investigação em um assunto que é não pouco valorizado;, destaca.

Janara Kalline Leal Lopes de Sousa, professora da Faculdade de Comunicação (Fac) da UnB irá coordenar o projeto ;Escola de App: enfrentando a violência on-line contra meninas;. Além de dar empoderamento, a inicitiva tem como objetivo fazer com que elas se aproximem mais da tecnologia. ;A internet é um ambiente nada seguro quando se trata do feminino. Por não conhecerem, elas não sabem lidar com as situações e estão sujeitas a diversas violências. E a ideia é essa, fazer que aprofundem no tema para não serem mais vítimas;, aponta Janara.

O projeto dela vai ser de pesquisa e extensão. Vai iniciar com a ida em escolas para conversas com diretoras e alunas e com isso fazer grupos focais. Depois a parte prática terá como alvo workshop;s que irão mostrar quais são os riscos e dicas de como navegar com segurança. ;Essa iniciativa por parte do governo, é fundamental. Isso faz com que o DF avance no debate de gênero;, acredita.

A pesquisa Estudo sobre a prática pedagógica das Promotoras Legais Populares do Distrito Federal e Entorno no enfrentamento à violência contra mulheres e meninas será coordenada pelo professor da Faculdade de Direito da UnB, José Geraldo de Sousa, o único homem selecionado. O projeto que está à frente no edital, é um programa de extensão da instituição federal e existe desde 2013. ;Representa uma preocupação de conhecer como são e como se empoderam. O objetivo é fazer um levantamento dessas mulheres e como elas se engajam na defesa dos direitos das mulheres;, destaca.

José Geraldo, conta que, atualmente, mulheres coordenam o programa na universidade, mas o escolheram para representar no edital. ;Sempre mantive vínculo com o projeto e como estava disponível para me responsabilizar academicamente. Na época que começou, eu era o professor mais engajado na atuação. Agora, sou, apenas, um gestor e uma pessoa de confiança;, declara. Para ele, a proposta mostra o protagonismo das docentes mulheres. ;Reconheço a capacidade empoderada de pesquisadoras femininas. Tudo que vamos fazer é um compromisso solidário, é dar apoio tanto de forma teórica acadêmica como política.;

Combate

Para combater a violência contra a mulher, o Estado atua em três frentes diferentes: com as políticas de enfrentamento ; que combatem o flagrante, por exemplo quando a polícia age em casos de agressão. Assim como há as ações para proteção das vítimas, quando elas vão para abrigos e são protegidas para que fiquem sob tutela do governo. E por último, a prevenção, que atua para evitar que haja o cenário violento. Para a secretária, Márcia Alencar, esse é o mais importante passo, já que evita todas as ações futuras.

Segundo a secretária, apesar do bom atendimento de resgatar às vítimas, é necessário apostar em uma política para evitar as ocorrências. O problema, no entanto, também está nos modos de agir da sociedade. ;A gente sabe que homens e mulheres foram forçados em uma cultura patriarcal. Por isso ela (mulher) já tem uma violência simbólica internalizada na nossa cultura. Para que a mulher e a menina tenham direitos assegurados, ela tem que, desde seu processo de formação, desconstruir essa cultura;, explicou Márcia.

Os outros pesquisadores selecionados são três mulheres. Claudia Mara Pedrosa, coordenadora do projeto "Identificação, Fortalecimento e Articulação das Iniciativas de Promoção dos Direitos Humanos das Meninas e Mulheres em Situação de Violência no Distrito Federa", Ioneide de Oliveira Campos respnsável pela pesquisa "Saúde Mental e Economia Solidária: possibilidades de inclusão social de mulheres vítimas de violência em um CAPS II" e Luciana da Silva Santos com "Violência(s) contra mulheres donas-de-casa: Ausência de direitos e impactos na saúde mental". Ao todo, serão investidos R$ 455 mil.

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