Cidades

Saudade e emoção marcam velório do vice-presidente do Correio

Familiares, amigos e nomes da música se lembram com carinho dos momentos que viveram ao lado do pioneiro Evaristo de Oliveira

Pedro Grigori - Especial para o Correio, Ricardo Daehn, Luiz Calcagno
postado em 25/11/2017 09:27
Coroa de flores homenageia Evaristo de Oliveira
O velório do vice-presidente Executivo do Correio, Evaristo de Oliveira, começou às 8h deste sábado (25/11), marcado por lembranças. Desde familiares, representantes do governo, funcionários do jornal até músicos da cidade se reuniram para se despedir do pioneiro, que chegou a Brasília em 1965.
O mais novo dos cinco irmãos de Evaristo, Abílio Antônio de Oliveira, 64 anos, se emociona ao comentar a importância do vice-presidente do jornal. "É uma dor muito grande. Perdemos os pais muito cedo e ele foi um segundo pai para nós todos. Era o Norte da família", lamentou.

Abílio contou, também, que o primeiro emprego que teve foi aos 15 anos, com o irmão mais velho, no Correio. "Durante toda a vida, o Evaristo foi uma pessoa especial. Sempre dedicado, competente e sério. Aconteceu em 1969/1970. Foi onde comecei minha vida", recordou.
Valda Luzia de Oliveira, 69 anos, é a quarta dos irmãos. Moradora de Planaltina, ela relata a tristeza da família com a morte de Evaristo. "Estamos passando por uma grande dor. Mas sabemos que, quando chega a hora, Deus leva. E leva primeiro os melhores. Ele era um irmão maravilhoso. Uma pessoa que cuidou da família a vida inteira. Era venerado por todos. Um grande líder e um grande executivo. Grande pessoa. Deixou o legado de um guerreiro. Um jovem que veio de Brasília no começo de tudo. Conquistou um trabalho de datilógrafo e chegou onde chegou."
Os filhos de Evaristo, Guilherme Oliveira, 36 anos, e a irmã, Gabriela Macpherson, 39, exaltaram o exemplo do pai em suas vidas. "Foi meu grande exemplo de pessoa, de profissional, de tudo. Deixa um legado enorme, marcado pela honestidade, simplicidade, profissionalismo e amizade. Recebemos tantas mensagens de carinho que acho que nem ele mesmo imaginava o tamanho que tinha", afirmou Guilherme. "Ele foi um ótimo exemplo. Sempre nos incentivou a estudar, viajar e conhecer o mundo", lembrou Gabriela.
Aposentado do Banco de Goiás, Jader de Oliveira, 75 anos, é o único tio Vivo de Evaristo. "Ele deixa as melhores lembranças. Era uma pessoa trabalhadora e dedicou toda a vida ao Correio Braziliense."
Ainda muito emocionado, o diretor presidente do Correio, Álvaro Teixeira da Costa, chegou ao cemitério Campo da Esperança por volta das 10h, onde prestou homenagem ao amigo e companheiro de trabalho. ;Eu perdi um irmão muito querido. Nós começamos juntos no Correio e trabalhamos como parceiros por mais de 50 anos;, conta.

Para Álvaro, Evaristo será lembrado como uma pessoa calma e amena. ;Ele tinha um excelente humor, não tinha inimigos e nunca levantava a voz para ninguém. Tratava todos com um respeito que não é facilmente visto nos dias de hoje;, relembrou.
Diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia também era primo de Evaristo. "Na família sempre foi um exemplo de tranquilidade e dedicação. Um exemplo de ser humano e de pai de família. Uma pessoa muito cara a todos nós. Fica a lembrança. Um primo que fez a diferença nessa terra. Plantou união, paz, mansidão. Sabemos que ele está com Deus e com todos nós."
Diretor presidente do Correio, Álvaro Teixeira da Costa, estava muito emocionado

Companheiros de trabalho e amigos

Antigos funcionários do Correio compareceram ao funeral do vice-presidente do jornal. Mesmo tendo saído da empresa há mais de 15 anos, Miguel Libanês veio se despedir de Evaristo, que foi um de seus primeiros chefes. ;Entrei no Correio aos 18 anos, em 1982, como office boy. Sempre tive uma relação de muito respeito com o Evaristo, que me ajudou a entrar para o Departamento Financeiro, onde trabalhamos juntos por mais de 15 anos;, relembra.

Nos anos 2000, Evaristo ainda indicou Miguel para um novo emprego. ;Ele se importava muito com cada pessoa que trabalhava no Correio. Tanto que quando disse que tinha desejo de ir para outra empresa, ele que me indicou para uma nova vaga;.
"Mais do que um amigo, perdi um protetor, um anjo da guarda", comentou a ex-secretária do Correio Tânia Oliveira. Ela foi secretária, entre 1978 e 1990, de figuras fundamentais para o jornal, como Ari Cunha, Renato Riela e Ronaldo Junqueira. "Conheci o Evaristo jovem, lindo e meigo - o lorde que o Correio tão bem descreve. Tínhamos um vínculo, como se fosse um irmão", relembrou. "Numa situação especial, com a internação de uma das minhas filhas num hospital particular, ele me acalmou. Nunca esqueço, disse: ;Tania, você tem salário, décimo-terceiro, FGTS e tem o Correio;. Ele sentia o que nós, funcionários, sentíamos", comentou.

Antes de assumir o cargo de diretor de redação do jornal Estado de Minas, o editor Carlos Marcelo contou com a convivência sempre cheia de incentivos com o vice-presidente executivo Evaristo de Oliveira. "Em quase 20 anos de Correio, estive perto da marca primeira de Evaristo: era um homem gentil e cordial. Percebi, na minha trajetória, fosse como repórter, editor e editor executivo do Correio, que o trato não mudava", observou. Mesmo nos momentos mais difíceis, o sorriso de Evaristo era a marca registrada. "Estava entre as características mais marcantes", destacou. Outra qualidade era o apreço e carinho pelos colaboradores. "Independentemente de hierarquias, ele sempre valorizou na empresa o respeito por todos", destacou.
Amigo de longa data de Evaristo, Heli Ferreira lamentou a morte dele. ;Conheço o Evaristo há mais de 20 anos. Ele era um cara jovial, sereno e que estava cheio de planos para o futuro", ressaltou.
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Pioneiros

O pioneiro Geraldo Vasconcelos, 84 anos, pioneiro, se lembrou de Evaristo como uma pessoa honrada. "Todo o bem que falam dele é pouco. Caminhei com ele desde o início do Correio Braziliense, na década de 1960. Além de um lord, era um diplomata. Com um sorriso aberto, sempre acudia a todos que dele precisava. É uma perda irreparável. Deixa uma lacuna enorme para amigos, conhecidos e para a cidade", reforçou.

Lembranças entre artistas

Também pioneiro, o músico Rênio Quintas, 62, lembrou de Evaristo com carinho. O vínculo com o vice-presidente executivo estreitou-se pela proximidade dos pais de Rênio que, juntos, somaram quase 70 anos de colaboração com o Correio. Filho da ex-cronista do jornal Regina Estela e do jornalista Expedito Quintas, Rênio lembrou do carinho e respeito de Evaristo com a cultura da capital.

"Existia, com Evaristo, uma relação autônoma e de referência. Ele me recebia na sala me chamando de maestro soberano e eu correspondia com um ;dileto amigo;. Tive a satisfação de dar um último abraço no Evaristo, há 20 dias. Era um ser humano de grande capacidade. Preocupado com seu tempo, sempre em plena elaboração de perspectivas para a capital", comentou Rênio Quintas.
Durante a execução do longa de 2012 Dino Cazzola ; uma filmografia de Brasília, o vice-presidente executivo do Correio, Evaristo de Oliveira, foi uma das figuras fundamentais. "Tudo o que consegui de divulgação e apoio, na hora de fazer o filme, e mesmo depois, devo ao Evaristo, que deu visibilidade ao projeto. Guardarei sempre a imagem dele me recebendo com braços abertos e sorriso verdadeiro. Pela nossa amizade, entreguei uma rara câmera do meu pai, usada nos anos de 1970, para ele. Permanece em destaque, na sala dele", comentou o empreendedor Júlio Cazzola, que chegou à cidade com 5 anos. Dino, o pai dele, trabalhou por 40 anos, até a morte, em 1998, em defesa da preservação de imagens que ajudam a contar contrastes sociais e hábitos dos brasilienses.
Programador de cinema e agitador cultural, José Damata destacou a integridade de Evaristo. "Ele sempre será uma unanimidade. Éramos amigos, desde a adolescência, quando frequentavamos a missa, na Igreja da Praça do Relógio (Taguatinga). Era uma união forte, junto com o irmão dele, Emivaldo", destacou. Damata também relembrou a atuação do vice-presidente do Correio em iniciativas em prol da cultura.

Prestígio entre empreendedores

Há 30 anos proprietário do Cofee Break, Osmar Figueiredo foi um dos empresários presentes ao velório de Evaristo de Oliveira. Por 18 anos, foi proprietário da cantina instalada na empresa. "Perdemos um grande homem, um grande administrador e amigo. Ele contribuiu muito para a cidade. Como profissional, conduziu magnificamente para a empresa. Enquanto colaborador, sou sempre muito grato pelo que fez por mim", comentou Figueiredo.
Para o empresário Osório Adriano Filho, Evaristo fez parte da consolidação da cidade. "O doutor Evaristo foi e continuará sendo pioneiro, amigo, companheiro, que ajudou a construir a cidade. Brasília custou o sacrifício dos pioneiros e, hoje, é a terceira maior cidade em população do país. Ele faz parte desse trabalho. Desse crescimento. É a memória de Brasília que partiu."
O empresário e ex-vice-governador do DF, Paulo Octávio, que conviveu com Evaristo por mais de 40 anos, citou o comportamento ético e humano de Evaristo. "Encontrei nele uma figura extraordinária. Ele tinha um enorme equilíbrio ao relacionar o setor produtivo com a imprensa. Era muito presente nos eventos de Brasília, e sempre muito atencioso. Vamos sentir muita falta da postura dele, da vontade de entender dos problemas empresariais, de viver a cidade e ajudar com que ela se consolidasse. O Evaristo é um amigo que vai fazer uma falta muito grande.;


Respeito no meio político

O governador do Distrito Federal (GDF), Rodrigo Rollemberg (PSB), marcou presença na despedida do vice-presidente do Correio. ;O Evaristo foi uma pessoa que soube construir varias amizades ao longo da vida e todos estão muito tristes com essa morte inesperada. Tínhamos algo em comum além da política, pois tenho uma fazenda muito próxima da região onde ele nasceu, em Luziânia. Então tive a oportunidade de conhecer sua cidade, seus parentes e sua trajetória", ressaltou.
Para Rollemberg, chamava atenção em Evaristo, além do amor que ele tinha por Brasília, o equilíbrio. "Ele era uma pessoa muito sensata, que sempre utilizou o poder que tinha para fazer o bem em prol das nossas cidades e das pessoas. Brasília sofreu uma perda muito grande, mas vai ficar uma referência para todos nós que queremos um mundo melhor e que buscamos uma cidade melhor.;
"O Evaristo é um dos pioneiros da comunicação democrática de Brasília. Cumpriu um importante papel junto à sociedade. Era um líder em seu segmento. Mas, acima disso, era um ser humano incrível. Um homem educado e gentil. Sempre tinha uma palavra doce para dizer. Brasília, a imprensa e o Legislativo estão de luto", comentou a deputada distrital Celina Leão (PPS) durante o velório.
Valmir Campelo, ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) também compareceu. "Conheço o Evaristo desde 1962, quando cheguei a Brasília. É uma pessoa que deixará saudades para a família, para os amigos e para Brasília. A cidade perde um filho ilustre, humilde, transparente e educado. Um amigo de todos", resumiu.
Ex-ministro chefe da Casa Civil do governo Itamar Franco, Henrique Agreaves, ressaltou que a perda foi irreparável. "Tem várias formas de falar sobre o Evaristo. Como pessoa, era probo,de capacidade intelectual inestimável. Um amigo fiel. É uma perda irreparável. Ele era uma pessoa essencial. Respeitado por todos. É a que que, quando falta, não preenche lacuna. Fará muita falta."
O secretário de Comunicação do GDF, Paulo Fona, se lembrou de como conheceu o vice-presidente executivo do Correio. "Eu o conheci como diretor sindical. O doutor Evaristo, do outro lado da mesa, representando os patrões. Ele respeitava as propostas, dialogava, sempre muito seguro e educado. Mesmo nos momentos mais críticos. Ele buscava o diálogo. É uma perda para a cidade, para o Correio e para o Diários Associados", lamentou.
Presidente da Câmara Legislativa do DF, o deputado Joe Valle relembrou que, nos últimos meses, teve contato frequente com Evaristo. "Ele era uma pessoa preocupada com a cidade e com a democratização dos meios de comunicação. Trabalhamos em alguns projetos envolvendo o Correio e a Câmara Legislativa. Era uma pessoa que sabia ouvir e que eu gostava de escutar. Tinha opiniões importantes nas tomadas de decisão. Responsável, sério e maduro. É uma grande perda para a cidade. "
Ex-governador do DF, José Roberto Arruda também compareceu ao velório e lamentou a morte de Evaristo. "A grande marca que fica, o exemplo, é a gentileza e a elegância. Era um mestre na arte da convivência humana. Um aparador de arestas de uma elegância incrível. E deixa um exemplo de que é possível viver em um mundo tão difícil e ainda manter o contorno entre os seres humanos", ressaltou.

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