Cidades

Tiroteios e falta de segurança em Ceilândia amedrontam população

Crimes ocorridos ontem na cidade mais populosa do Distrito Federal aumentam sensação de insegurança dos moradores e reacendem a discussão sobre a recomendação emitida pelo governo norte-americano para seus cidadãos evitarem localidades daqui

Geison Guedes - Especial para o Correio, Augusto Fernandes
postado em 14/01/2018 08:00 / atualizado em 17/09/2020 11:50
Seis pessoas que estavam em um Vectra branco foram baleadas. Ontem à tarde, um jovem que dirigia um Hyundai  morreu após levar vários tiros

Na mesma semana em que o Departamento de Estado dos Estados Unidos (EUA) emitiu nota recomendando seus cidadãos a não frequentarem diversas áreas pelo mundo, incluindo a Ceilândia (leia memória), moradores da maior cidade do Distrito Federal se viram diante de dois crimes atrozes. O primeiro ocorreu na noite de sexta, em um posto de gasolina no Pró-DF, altura da via P2, no P-Sul. No ato, um homem ainda não identificado disparou diversas vezes, atingindo seis pessoas e dois veículos, um deles um Vectra branco.

No segundo caso, também no P-Sul, um veículo não identificado de cor vermelha atravessou o caminho de um Hyundai Santa Fé preto, na tarde de ontem, em um cruzamento próximo à QNP 38/40, atirou diversas vezes contra o carro e fugiu. O motorista, um jovem de 19 anos, foi atingido na cabeça e morreu no Hospital Regional da Ceilândia (HRC). O carona, um rapaz de 18 anos, também foi alvejado na perna, e foi encontrado por policiais em uma via pública. Até o fechamento desta edição, ainda não havia informação da ligação dele com qualquer crime, nem a identidade dos atingidos ou dos suspeitos.

[SAIBAMAIS]Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o crime do posto de gasolina seria motivado por acerto de contas e o alvo do atirador era Rosivaldo de Jesus, conhecido com Buiu, 29. Uma perícia foi feita no local para determinar quantos disparos e qual tipo de arma foi utilizada. Na área foram encontrados cartuchos de 9mm. Entre os atingidos, Rosivaldo foi o único socorrido pelo Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).
Ele foi encaminhado ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT) em estado grave, inconsciente e instável. De acordo com o delegado da 23; Delegacia de Polícia (Ceilândia), responsável pela investigação, a vítima corre risco de morte. Os demais atingidos foram conduzidos, com ajuda de populares, para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde receberam os primeiros socorros. Desses, nenhum está em estado grave

Ameaça à comunidade


Trabalhadores e moradores da região informaram que não é de hoje que a região do posto de gasolina é uma ameaça à comunidade. A principal reclamação dos frentistas é a altura do mato ao redor da área. Rafael Gomes, 25 anos, conta que não se sente seguro. ;Com o mato alto, os bandidos se escondem e nós nem percebemos. Sem contar que não tem iluminação em todos os lugares. Isso acaba facilitando a ação dos criminosos. A situação aqui é complicada, principalmente, à noite. É um lugar que fica deserto e muito perigoso, tanto que pouca gente transita por aqui nesse horário;, relata.

Rafael Gomes não se sente seguro com o mato alto ao redor do posto de gasolina, que serve de esconderijo para bandidos. Marley dos Santos evita sair de casa à noite, mas, se necessitar, só vai à rua acompanhada do marido

Os cidadãos que passam frequentemente pelo local também dizem que é preciso se prevenir para evitar transtornos. A comerciante Marley dos Santos, 28 anos, diz que não é aconselhável sair de casa muito tarde. ;Tenho medo de vir aqui à noite. Geralmente, abasteço mais cedo ou se o movimento estive maior;. Além disso, ela adota outras medidas de segurança. ;Quando eu preciso sair à noite, sempre vou acompanhada do meu marido. Assim que entramos no carro, o nosso costume é não demorar para dar a partida. Tem pessoas que ficam dentro do veículo parado e, infelizmente, são atacadas;, conclui.

Alerta internacional


Os dois casos parecem corroborar com a recomendação do governo dos EUA. Com os tiroteios de sexta e sábado, segundo a população, o alerta ganha ainda mais força. ;Para uma pessoa que não conhece o lugar, acredito que o recomendado é vir acompanhada por alguém mais experiente. Vir sem orientação não é uma boa opção;, comenta o frentista Rafael Gomes.

O administrador de empresas Daniel Araújo, 34 anos, sempre morou no P-Sul. Para ele, apesar de o anúncio ter sido exagerado, quem não conhece esses lugares pode passar por problemas. ;Não tem como negar que a cidade oferece riscos. Os moradores já sabem quais são os horários perigosos. De qualquer forma, todos nós estamos vulneráveis. Para um turista ou alguém de fora, eu também recomendaria não passar aqui. Não por preconceito, mas por segurança. Uma vez eu hospedei um arquiteto chinês na minha casa, e tinha receio de que ele saísse à noite;, conta.

Crimes ocorridos ontem na cidade mais populosa do Distrito Federal aumentam sensação de insegurança dos moradores e reacendem a discussão sobre a recomendação emitida pelo governo norte-americano para seus cidadãos evitarem localidades daqui

Memória


Crime organizado assusta

Na última quarta, o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América divulgou relatório anual sobre áreas de risco que seus cidadãos deveriam evitar. Entre zonas de guerras no Oriente Médio, áreas de risco de atentados terroristas na Europa e favelas do Rio de Janeiro, os EUA incluíram cidades do Distrito Federal, mais precisamente Ceilândia, Paranoá, Santa Maria e São Sebastião. Segundo o comunicado, essas regiões devem ser evitadas à noite, entre 18h e 6h devido a ;crimes violentos, como assassinatos e assaltos à mão armada;.

A nota ainda ressalta que as atividades do crime organizado são generalizadas no país. As quatro cidades brasilienses foram enquadradas em risco nível dois, em uma escala de um a quatro. A recomendação é a mesma para locais que possam sofrer atentados terroristas. Além do alerta, o governo norte-americano divulgou dicas básicas de segurança. Entre elas estão o cuidado de dirigir e caminhar à noite, de não reagir a assaltos e não pedir ajuda a desconhecidos, de não exibir sinais de riqueza e o cuidado ao utilizar transporte público também no período noturno.
 
 

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