Cidades

PT pode chegar sem candidato ao Buriti pela primeira vez em 28 anos

Denúncias de superfaturamento, ausência de nomes influentes e julgamento de Luiz Inácio Lula da Silva obrigam o partido a postergar o lançamento de uma candidatura própria ao Buriti. Sigla também estuda possibilidade de coligações

Ana Viriato
postado em 22/01/2018 06:00
Militância do PT nas ruas de Brasília em 2006: pela primeira vez em quase três décadas, o partido pode não ter um candidato próprio ao Buriti

Pela primeira vez em 28 anos, o PT pode chegar à corrida eleitoral sem um candidato próprio ao Palácio do Buriti. O partido está dividido. Alguns correligionários acreditam que não é o momento de a sigla, desgastada por escândalos de corrupção, lançar um concorrente. Outros destacam a importância de uma nominata para mostrar que, apesar dos contratempos, a legenda ainda detém força e influência, além de servir como palanque eleitoral para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ; ele será julgado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro na quarta-feira. Independentemente da decisão final, caciques petistas não pretendem abrir mão dos cargos proporcionais para concorrer ao Executivo local, uma vez que preveem poucas chances de vitória (veja quadro).

A resistência deve-se ao desgaste da imagem no Distrito Federal. Ainda mais após a deflagração da Operação Panatenaico, que investiga um superfaturamento de R$ 900 milhões nas obras do Estádio Nacional Mané Garrincha, principal legado do ex-governador Agnelo Queiroz (PT). Para petistas, disputar o comando do GDF, neste momento, representa o risco de perder a chance da obtenção do foro privilegiado ou de mais espaço no meio político.

A dificuldade da sigla em encontrar um representante próprio ao Executivo local é visível quando comparadas as articulações deste ano às das eleições anteriores. Logo ao início de 2010, Agnelo e o ex-deputado federal Geraldo Magela disputavam a pré-candidatura ao Palácio do Buriti, o que causou um racha no partido à época ; a decisão ocorreu nas prévias. Quatro anos depois, pela reeleição, Agnelo foi o primeiro candidato a confirmar participação no pleito.

De olho nas eleições de outubro, entretanto, apenas uma pessoa colocou o nome à disposição do PT para a disputa pelo GDF: a diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) Rosilene Corrêa. Mas a pré-candidatura não está lançada. ;As discussões estão muito precoces, e o DF não está isolado do resto do país. O partido está amadurecendo as articulações e buscamos unidade;, despistou. Apesar da possibilidade, correligionários acreditam que a candidatura não teria fôlego nem mesmo para chegar a um eventual segundo turno.

Presidente da regional do partido e deputada federal, Erika Kokay defende que, por ora, ;o momento é de construção;. Ela destaca que o PT busca alianças e aguarda o registro de pré-candidatos até 31 de março. ;Precisamos de uma unidade programática. Esse é um quadro que envolve muitas siglas. A única candidatura certa é a do governador (Rodrigo Rollemberg). Nós nos preparamos principalmente para a possibilidade de lançarmos um representante próprio, mas também para a eventualidade de apoiar outra pessoa;, pontuou.

A iniciativa de formar alianças antes de propor pré-candidaturas também é defendida pela ex-vice-governadora e líder petista Arlete Sampaio. ;Fizemos um congresso em maio, no qual decidimos que trabalharíamos para construir uma coligação política, com partidos como PSol, PDT e PCdoB. Enquanto isso não se concretizar, não podemos lançar nomes por fora. As coisas devem se ajustar após março;, afirmou.
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Efeito Lula

As estratégias para a capital devem ser definidas após 25 de janeiro, quando o partido confirmará a candidatura de Lula ao Palácio do Planalto. Conforme caciques da agremiação e mensagem encaminhada ao grupo do Diretório Nacional pelo braço direito do petista, Gilberto Carvalho, o nome do ex-presidente será lançado independentemente do resultado do julgamento do caso do triplex do Guarujá, marcado para o dia anterior no Tribunal Regional Federal da 4; Região (TRF-4), em Porto Alegre.

O PT-DF analisará duas linhas de posicionamento: o lançamento d e um candidato próprio, ainda que desconhecido pela maior parte da população, para realizar a defesa de Lula ou o apoio a um partido alinhado que fique na cabeça da chapa majoritária, mas acompanhe a campanha do ex-presidente nacionalmente.

Ainda assim, os nomes mais fortes do PT-DF devem concorrer às proporcionais (deputado federal e distrital). Sem mandato, o ex-deputado federal Geraldo Magela está em busca de foro privilegiado por conta de citações em delações premiadas no âmbito da Lava-Jato. Ex-executivo da Odebrecht, Paul Elie o acusou de recebimento de R$ 1,4 milhão em caixa 2 à época em que era secretário de Habitação. O valor seria referente a irregularidades nas obras do Setor Habitacional Jardins Mangueiral. Magela nega envolvimento no esquema de corrupção.

O ex-deputado federal pretende concorrer ao cargo de distrital, mas os planos podem ser frustrados por determinações do alto escalão do Diretório Nacional. A prioridade do partido é a reeleição de Erika Kokay, voz ativa no Congresso Nacional. Isso porque o partido precisa manter a representação na Câmara dos Deputados, onde tem perdido as principais batalhas, como a reforma trabalhista. Erika precisa de correligionários conhecidos que disputem o mesmo cargo para que, em conjunto, alcancem o coeficiente eleitoral de mais de 200 mil votos. Para garantir essa vitória, Arlete Sampaio também pode ter de concorrer ao posto de deputada federal. Até então, a ex-vice-governadora tem articulado pela Câmara Legislativa.

A dificuldade do PT em apresentar um candidato próprio ao Palácio do Buriti estende-se às alianças políticas ; a sigla parece não encontrar um denominador comum com as demais agremiações de centro-esquerda, como PDT e PSol. Entretanto, a situação pode mudar a depender da força de Lula em datas próximas às convenções, quando as legendas e as coligações escolhem seus candidatos, previstas para o período entre 20 de julho e 5 de agosto.

Cartazes anônimos em apoio ao ex-presidente Lula foram fixados em paradas de ônibus do Distrito Federal no fim de semana, dias antes do julgamento do caso do triplex do Guarujá, no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre.




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