Ciência e Saúde

Mudanças climáticas: risco de fracasso em Copenhague

Paloma Oliveto
postado em 15/08/2009 10:00
Bonn (Alemanha) ; Um jogo de empurra marcou o tom da reunião preparatória para a 15; Conferência das Partes (COP 15), encontro sobre alterações do clima marcada para dezembro em Copenhague, na Dinamarca. ;De quem é a culpa, afinal?; A pergunta traduz bem o teor das conversas diplomáticas entre as delegações de países industrializados e em desenvolvimento presentes em Bonn, na Alemanha ; cada um dos grupos pesando sobre o outro a responsabilidade de apresentar planos ousados no combate ao aquecimento global.

Enquanto os representantes do G8 afirmavam que fazem mais para o planeta, já que, pelo Protocolo de Kyoto, são obrigados a cumprir metas de redução de emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, os países em desenvolvimento, principalmente Brasil, China e Índia, garantiam que estão correndo atrás do prejuízo provocado pelos primos ricos, que, por terem se industrializado antes, possuiriam mais responsabilidade sobre os danos ao meio ambiente.

[SAIBAMAIS]Ontem, em coletiva de imprensa, Yvo de Boer, diretor executivo do Secretariado de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, reafirmou que o tempo está passando sem que se chegue a determinações práticas. ;Só temos mais 15 dias para discutir antes de Copenhague. E, nesse ritmo, não vamos conseguir;, avisou. Ainda haverá mais duas reuniões informais antes da conferência, marcadas para setembro e novembro. Segundo ele, os países industrializados precisam mostrar ;um grande nível de ambição;. Copenhague corre o risco de ser um fracasso.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) afirma que seria necessário reduzir os níveis entre 25% a 40% até 2020, tendo 1990 como referência. Porém, a oferta dos desenvolvidos tem ficado abaixo do esperado. Os Estados Unidos propõem, por exemplo, taxa de 16%. Já a China e a Índia defendem que o percentual a ser seguido seja de 40%. As delegações argumentam que os efeitos do aquecimento global estão cada vez mais severos, como os degelos atípicos verificados na Antártica.

O Brasil é um dos países que mais cobram comprometimento dos industrializados. ;A principal cobrança é que eles cumpram com as suas obrigações e atentem ao que a ciência está dizendo, que o nível de redução deles para 2020 tem de ser muito maior do que eles têm apresentado;, argumentou o ministro Luiz Figueiredo, chefe da delegação brasileira. Yvo de Boer elogiou a postura do país nas negociações. ;O Brasil tem desenvolvido o diálogo entre os países industrializados e os em desenvolvimento;, disse. Ele também cobrou das nações ricas investimentos para ajudar os demais a buscar tecnologias de desenvolvimento sustentável.

O financiamento por parte dos desenvolvidos é um dos itens mais controversos da pauta. Nos bastidores, os negociadores têm conversado que, caso não se chegue a um acordo em Copenhague, a reunião pode chegar a ser adiada.

Do outro lado, o grupo dos desenvolvidos querem que nações como Brasil, Índia e China também sejam obrigadas a cumprir metas traçadas em acordos internacionais. O chefe da delegação dos Estados Unidos, Johnnatan Pershing, deixou claro que ;o único meio de fazer um acordo forte internacional é com a participação de todos;. O delegado da União Europeia Arthur Runge-Metzger fez a mesma cobrança.

As declarações pegaram de surpresa a delegação brasileira. ;O Brasil vai apresentar o que for necessário de acordo com o resultado de Copenhague. Se for exigido um número, nós vamos apresentá-lo. Nada é unilateral;, afirmou o ministro Figueiredo.

A repórter viajou a convite da organização da COP 15

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