Ciência e Saúde

Pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo sofrem para conseguir controlar compulsões

Lavar as mãos até feri-las, girar a chave de casa 10 ou 20 vezes ou colecionar lixo são exemplos de manias exacerbadas. Tratamento une remédios e terapia

postado em 05/09/2009 08:00
Todo mundo tem suas manias. Não passar debaixo da escada, verificar o registro do gás antes de dormir ou colecionar coisas estão entre as mais comuns. Entretanto, quando essas manias saem do controle, gerando angústia e ansiedade quando não praticadas, pode ser um sinal de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), doença que, só no Brasil, atinge aproximadamente 4,5 milhões de pessoas, mas que pode ser controlada.

Não há nada de errado em lavar as mãos várias vezes, o problema é quando essa lavagens são tão frequentes e intensas que chegam a feri-las. Outras vezes, a compulsão por verificar se a porta está devidamente trancada faz uma pessoa ir e voltar do trabalho diversas vezes, simplesmente para se certificar de que a fechou corretamente. Há ainda casos em que a mania de guardar coisas toma tal proporção que o espaço da casa fica tomado por objetos, muitas vezes inúteis, dos quais o colecionador não consegue se livrar.

De acordo com o psiquiatra e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Raphael Boechat, o limite entre uma simples mania e o TOC está no quanto essas obsessões prejudicam a vida do paciente. ;Se a mania não gera nenhuma consequência ruim para a pessoa, tudo bem, mas quando o paciente não consegue levar uma vida normal caso não a realize, é hora de se preocupar;, explica o médico.

Segundo ele, os pacientes obsessivos-compulsivos, quando não podem realizar a sua compulsão, são tomados por uma ansiedade extrema, ficam nervosos e não conseguem se concentrar em outras atividades. ;Quando uma pessoa que tem TOC relacionado a lavar as mãos se vê em uma situação em que isso não pode ser feito, ela fica transtornada, muito ansiosa, e procura a qualquer custo realizar sua mania. É algo incontrolável;, exemplifica.

Ainda não se sabe exatamente o que causa o TOC. Os médicos acreditam que o distúrbio possa estar ligado a fatores genéticos, já que é mais recorrente em indivíduos que possuem o histórico da doença na família, ou pode ser desencadeado por alterações químicas no sistema nervoso. Podem haver ainda, causas sociais para o desenvolvimento de TOC, como a depressão, situações traumáticas ; como criar obsessão por segurança, após ter a casa roubada, ou por ter recebido uma educação pouco, ou excessivamente severa.

Incompreensão
A estudante Ana Carla Viegas, 24 anos, sabe que tem TOC há pelo menos dois. Em seu caso, a obsessão é por conferir coisas. Ana gasta boa parte do dia verificando, por exemplo, se as janelas estão fechadas, o gás, desligado e o ferro de passar, fora da tomada ; além disso, não para de repassar mentalmente percursos e atividades que realizou durante o dia. ;A maioria das pessoas não consegue compreender como é angustiante sentir que você precisa desses rituais para ter um dia menos ruim;, desabafa.

Clique na imagem para ampliarEla conta que o principal problema é dar às coisas o seu real valor. ;Você supervaloriza certos detalhes, que, para a maioria das pessoas, não tem a menor importância. Me sinto uma pessoa excessivamente perfeccionista, mas procurei ajuda médica e estou tentando melhorar.; Além de fazer terapia, Ana usa um medicamento para ajudar a diminuir a ansiedade, que aumenta sempre que ela não realiza os seus rituais diários de conferência.

Depois de se engasgar ao ponto de desmaiar, o estudante Marcelo Silva, 21 anos , desenvolveu o ritual de engolir várias vezes a saliva. Mesmo com a garganta inchada e dolorida, ele não consegue controlar o hábito. ;Muitas vezes não consigo nem comer. Depois que me engasguei, comecei a achar que a saliva iria me sufocar então passei a engoli-la várias vezes por minuto;, conta.

Vergonha
O sentimento de culpa e a incompreensão são as reclamações mais comuns da maioria dos portadores do transtorno. ;Morro de vergonha do que faço. Tento esconder ao máximo que tenho TOC. Muitas pessoas, ao saberem da doença, acham que é besteira, ou te olham como se você fosse maluco;, desabafa Marcelo.

O tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo é feito por meio da associação do uso de medicamentos com a psicoterapia. ;O objetivo da medicação é controlar a ansiedade. Em seguida, a terapia ajudará o paciente a identificar os rituais compulsivos e controlá-los;, explica Raphael Boechat. Em casos extremos, existe ainda a possibilidade de intervenção cirúrgica. ;A operação só é utilizada em casos muito raros, quando a combinação de tratamentos falhou e o TOC é altamente prejudicial para o paciente;, completa.

Na cirurgia, conhecida como capsulotomia anterior, os médicos provocam uma pequena lesão na cápsula anterior, uma das regiões do cérebro responsável pela sensação de ansiedade. O objetivo é diminuir a atividade na região e, por consequência, minimizar a necessidade que o paciente tem de realizar seus rituais compulsivos.

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