Ciência e Saúde

Equipe de cientistas conclui que o fim dos dinossauros foi mesmo causado pela queda de um meteoro no México

Paloma Oliveto
postado em 05/03/2010 07:00
Um dos maiores mistérios da humanidade pode ter sido resolvido por uma equipe de 41 pesquisadores de todo o mundo. Depois de rever 20 anos de estudos científicos, o time concluiu que foi mesmo um asteroide o responsável por varrer os dinossauros da face da Terra. Segundo a conclusão dos especialistas, publicada ontem do periódico especializado Science, o choque do corpo celeste com a superfície do planeta, há 65 milhões de anos, no Período Cretáceo-Terciário, teve um impacto tão grande que extinguiu mais de 50% das espécies animais, incluindo os répteis gigantes e os pássaros pterossauros, deixando o espaço livre para que os mamíferos passassem a dominar o mundo. A expectativa dos pesquisadores é colocar o ponto final em uma polêmica que já dura mais de três décadas.

Há 35 anos, o cientista norte-americano Luis Alvares apresentou, pela primeira vez, a teoria de que um asteroide poderia ter provocado o fim da era dos dinossauros. Em 1991, com a descoberta de uma cratera com 100km de largura em Chicxulub, na Península de Yucatán, no México, o assunto voltou à tona. Segundo os estudos geológicos, ela datava da mesma época da extinção dos répteis gigantes. Desde então, a hipótese de Alvares passou a ser discutida no meio científico, com opiniões contra e a favor. Um dos argumentos usados para refutar a ideia do norte-americano é que microfósseis encontrados no Golfo do México são mais recentes do que o choque do asteroide. No ano passado, pesquisadores da Universidade de Princeton afirmaram que a cratera seria pelo menos 300 mil anos mais velha que o fim do Cretáceo Terciário. Há também na comunidade científica a teoria de que a erupção de um vulcão na Índia teria sido a verdadeira responsável pela morte dos dinossauros.

Para afirmar categoricamente que o culpado é o asteroide, os 41 cientistas de 12 países tão diversos como Estados Unidos, Japão, Canadá e México debruçaram-se sobre todos os indícios favoráveis e contrários à hipótese de Luis Alvares. Trabalhos de paleontólogos, geoquímicos, especialistas em clima, geofísicos e sedimentologistas baseados em provas coletadas em mais de 350 regiões de todo o mundo foram exaustivamente analisados, e a conclusão foi a de que o impacto do corpo celeste é a única explicação plausível para a extinção da fauna pré-histórica.

O asteroide tinha cerca de 12km de largura e entrou na Terra com um bilhão de vezes mais potencial energético que a bomba atômica lançada sobre Hiroshima. Isso provavelmente provocou uma explosão em grande velocidade rumo à atmosfera, acionando uma cadeia de eventos que causaram o resfriamento do planeta e, consequentemente, extinguiram boa parte da vida em uma questão de dias.

Calcula-se que, com o choque, teria havido um terremoto de magnitude muito acima de 10 na escala Ritcher, ocasionando um colapso continental, com o aumento da gravidade, a perda de massa, incêndios e tsunamis. E, conforme escreveram os autores do estudo, em Chicxulub, os depósitos de sedimentos são a prova de que tudo isso ocorreu. ;O asteroide viajou a 20km por segundo e provocou um afundamento de 30km no solo ; é a maior cratera jamais vista. A força do terremoto foi mil vezes maior que o sentido recentemente no Chile. Então, pense: o que poderia ter havido com as vítimas desse acidente?;, questionou Kirk Johnson, um dos coautores do estudo, em uma teleconferência mundial para a imprensa, da qual o Correio participou.

Perguntado se os incêndios decorrentes do impacto não teriam também destruído as florestas, tornando o planeta um ambiente completamente inóspito, Johnson, que é pesquisador do Museu de História Natural de Denver, diz que o mais provável é que os episódios não tenham ocorrido em escala global, mas afetado localidades específicas. ;Caso tivessem ocorrido globalmente, haveria vazamento de petróleo, gás natural etc. Achamos que esse não foi o caso, pois não temos evidências de que as florestas foram afetadas em todo o globo. O que temos são provas de que ocorreram incêndios em alguns lugares, como na Nova Zelândia. Porém, em termos globais, o impacto do fogo não foi tão grave. Acreditamos que os incêndios foram, sim, locais;, disse.

De acordo com a pesquisa publicada na Science, a atividade vulcânica na Índia não poderia ter matado os dinossauros. Milhões de anos atrás, erupções em série no oeste do país espalharam mais de um milhão de quilômetros cúbicos de lava balsática. A quantidade de substância era suficiente para encher duas vezes o Mar Negro, e já se pensou que, por conta disso, a atmosfera resfriou, ao mesmo tempo em que ocorreu chuva ácida em escala global. Porém, reproduções da situação feitas por supercomputadores sugerem que a liberação de gases na atmosfera depois das erupções teria afetado pouco a vida no planeta, não causando danos suficientes para desencadear a rápida extinção de espécies animais.

;Temos agora uma grande confiança de que foi mesmo um asteroide o responsável pelo fim do Cretáceo-Terciário;, afirmou uma das coautoras do estudo, a professora de engenharia e ciências da Terra Joanna Morgan, por meio da assessoria de imprensa do London College. ;Esses acontecimentos em larga escala, como terremotos e tsunamis, são bons indícios. Porém, o que realmente acabou com os dinossauros foi o fato de que, após a explosão, a matéria foi ejetada em alta velocidade na atmosfera. Isso deixou o planeta na escuridão e causou um inverno global, matando muitas espécies que não conseguiram se adaptar a esse ambiente infernal;, completou.

Substância rara

Uma das provas químicas de que o asteroide provocou a extinção dos dinossauros é a quantidade do elemento irídio, encontrado em amostras geológicas em todo o mundo, datadas da época do fim dos grandes répteis. A substância é muito rara na crosta terrestre e bastante comum na composição de asteroides. O curioso é que, em locais onde existem camadas milenares de irídio, há um declínio grande da abundância de fósseis, o que indica que o fim do Cretáceo-Terciário seguiu rapidamente o choque do asteroide.

Em resposta ao fato de que a queda do corpo celeste teria ocorrido 300 mil anos antes da extinção do período, os pesquisadores afirmam que esses estudos interpretaram de forma errônea os sedimentos geológicos encontrados próximos ao local de impacto. Isso se deve ao fato de que, logo depois do choque, as rochas perto da zona atingida sofreram alterações químicas, mascarando a real idade dos fragmentos estudados. ;Não há como negar. Foi mesmo o asteroide que decretou o fim da era dos dinossauros;, conclui Kirk Johnson.

Veja animação mostrando o choque do asteroide com a Terra:

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