Ciência e Saúde

Reconstrução da mama muda a autoestima

postado em 30/03/2010 09:35
Poucas situações alteram tanto com o universo feminino quanto os procedimentos cirúrgicos que retiram nódulos ou tumores na região mamária. Os seios refletem a feminilidade e a maternidade, são o símbolo da mulher. Para a maioria delas, as intervenções que modificam a anatomia da mama são encaradas como uma mutilação, que mexe profundamente com a autoestima e transforma a referência que se tem do próprio corpo. Mais do que minimizar os danos estéticos, o objetivo da cirurgia plástica que reconstitui os seios é ajudar as pacientes na superação do trauma psicológico que uma operação na mama pode trazer. Atualmente, mastologistas e cirurgiões plásticos podem atuar juntos na mesma intervenção, aproveitando uma única internação para tratar o problema de saúde e corrigir as imperfeições estéticas causadas por ele. A cabeleireira Viviane e a cirurgiã plástica Ivanoska: reconstrução imediataA cirurgiã plástica Ivanoska Filgueira explica que a proposta de aliar as duas especialidades é justamente evitar que a mulher se sinta mutilada. "Nosso objetivo é manter a simetria entre as duas mamas, impedir que a retirada do tecido comprometido afete a funcionalidade, a feminilidade e a vaidade da mulher. Tentamos, ao máximo, reparar o dano estético. Mesmo em casos de mastectomias radicais - retirada total da mama -, temos condições de fazer a reconstrução para amenizar a deformidade, deixá-la menos perceptível", avalia. Quase sempre é possível aliar os dois procedimentos, desde que não existam processos infecciosos relacionados ao problema da paciente. As duas intervenções são realizadas com anestesia geral e demandam, em média, quatro horas. "Por isso, a mulher deve estar bem clinicamente", pontua Ivanoska. Em patologias benignas, as reconstruções são mais simples do que quando se faz necessário retirar um quadrante do seio ou toda a estrutura mamária. A mastologista e oncologista Márcia Ayres observa que os nódulos benignos são retirados sem muito prejuízo para a aparência da mama, mas os suspeitos são extraídos com margem de segurança. "Tiramos o nódulo e 2cm do tecido que o circunda, o que promove assimetria e deformidade", diz. Medo e alívio A cabelereira Viviane Franco, 37 anos, já passou pela experiência de retirada de nódulos na mama em quatro ocasiões. Na última delas, feita há 15 dias, a intervenção cirúrgica também contemplou a colocação de próteses que corrigiram as imperfeições deixadas pelas cirurgias anteriores. "Desde a adolescência venho retirando os nódulos. A mama ficou flácida e eu estava me preparando para colocar próteses de silicone. Nos exames pré-operatórios, porém, foi detectado mais um gânglio. A primeira preocupação foi retirá-lo, mas meu quadro clínico permitiu que a cirurgia plástica fosse realizada no mesmo procedimento. Pude até escolher o tamanho dos seios. Me senti aliviada", conta. Viviane confessa, no entanto, que ainda não conseguiu se olhar no espelho. "Meu marido e meu filho já viram e adoraram o resultado. Estou aguardando a biópsia. De certa forma, acho que temo olhar, gostar e ter que mexer novamente caso o exame determine a retirada de mais tecido", admite. A servidora pública Maria do Socorro Silva, 46 anos, viveu momentos difíceis quando recebeu o diagnóstico de um câncer de mama, há oito anos. "Precisei fazer uma mastectomia radical. É inevitável não pensar que uma parte importante da gente simplesmente desaparecerá. Eu tinha seios muito bonitos, queria viver, mas sabia que ficaria abalada. A reconstrução imediata, feita com tecidos do meu próprio corpo, permitiu que eu me estabilizasse emocionalmente para enfrentar o tratamento", revela. O câncer foi vencido e, há três anos, Maria colocou próteses de silicone. "Hoje, olho no espelho e me sinto novamente uma mulher completa. Superei a tristeza. Não tenho dúvidas de que a reconstrução foi a responsável por isso." Expectativas Os cirurgiões plásticos podem lançar mão de músculos do próprio corpo da mulher para trabalhar na reconstrução da mama ou das próteses de silicone, as mesmas usadas na intervenção de Viviane e popularizadas em cirurgias estéticas. O planejamento é importante, assim como a conversa sincera entre os profissionais e a paciente, para evitar falsas expectativas. O tamanho do nódulo e o que pode ser feito para evitar a deformidade da mama e a cicatriz são fatores avaliados pelos especialistas. "É claro que, em alguns casos, principalmente para aquelas que retiram um tumor avançado e reconstroem toda a mama, é preciso uma segunda cirurgia para o refinamento do procedimento. Em um primeiro momento, nossa preocupação é com o volume e a cicatriz. Mas os resultados, mesmo quando são necessários outros pequenos procedimentos, estão cada dia melhores", garante a cirurgiã plástica. A mastectologista Márcia Ayres pondera que a maioria das alterações mamárias é benigna. São gânglios que não precisam de remoção. Os nódulos que aumentam de volume, aqueles que exibem uma porção líquida e sólida e os que apresentam suspeita de malignidade demandam a cirurgia, assim como os pólipos formados dentro do ducto mamário. "Buscamos fazer a reconstituição com o próprio tecido, mas a continuidade do tratamento oncológico não impede a colocação de próteses de silicone. O acessório é colocado embaixo dos músculos peitorais. Caso a paciente necessite de sessões de radioterapia, a prótese é preservada", esclarece. Técnicas O tipo de reconstrução mamária depende da quantidade de tecido retirado da mama, das formas do seio, da situação clínica da paciente e até do seu estilo de vida. Confira: COM OS PRÓPRIOS TECIDOS DO CORPO Retalho do músculo grande dorsal Uma ilha de pele e músculo é retirada da região dorsal. O tecido é usado para criar uma nova mama. A cirurgia resulta em uma cicatriz no dorso horizontal que pode ser escondida pelo sutiã ou pela roupa de banho Retalho tram São removidos os tecidos da parte inferior do abdômen. Nessa cirurgia, a paciente precisa ter algum tipo de sobra de pele no abdômen. As cicatrizes resultantes acometem a mama reconstruída e o abdômen inferior (cicatriz horizontal e ao redor da cicatriz umbilical) COM IMPLANTES DE MAMAS Técnica com expansores de tecidos É um tipo de implante temporário semelhante a um balão. Ele é colocado vazio, geralmente abaixo da pele e do músculo da parede torácica, sendo gradualmente inflado com soro fisiológico, por meio de uma válvula Técnica sem expansores de tecidos Nesse caso, a prótese de silicone é colocada na primeira cirurgia no local desejado. Essa técnica está restrita aos casos de mastectomia em que não é retirada grande quantidade de pele

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