Ciência e Saúde

Relacionamentos transcendem fronteiras com a ajuda da tecnologia

postado em 04/01/2011 08:00
A tão propalada globalização virou do avesso a teoria econômica, embalou revoluções políticas em dezenas de países e criou séria interdependência mundial. Os avanços exponenciais da tecnologia, por sua vez, viraram os principais instrumentos da criação desse novo mundo. Como subproduto da união entre esses dois fatores, uma outra transformação vem ocorrendo: o surgimento de um novo tipo de amizade, a virtual, na qual as pessoas se conhecem apenas pela tela do computador ; e, mesmo assim, criam fortes laços.

Para ilustrar essa nova realidade, o Facebook apresentou, em dezembro, um mapa desenhado a partir das amizades estabelecidas na rede social. O resultado foi um mundo iluminado por linhas ligando os mais diversos pontos do planeta. A estudante de arquitetura Gabriela Mesquita, 25 anos, por exemplo, tem uma linha que vai de Brasília à Inglaterra. A amizade virtual começou quando ela decidiu realizar o sonho de morar em outro país e pesquisou no Orkut comunidades de Bournemouth, cidade onde iria ficar. Ela queria melhorar o inglês e optou por não ter contato com brasileiros.

Ao ver, porém, a resposta da também brasileira Adriana Ramos em um dos fóruns da comunidade, gostou e a adicionou no site de relacionamento. Dias depois, já estavam trocando mensagens. Descobriram que tinham muito em comum e combinaram de se encontrar quando Gabriela chegasse em Bournemouth, mas não deu certo. ;No dia em que cheguei na cidade, ela desembarcou no Brasil, de férias;, conta Gabriela. O encontro teve de ser adiado por três meses.

O encontro ;real; ocorreu, mas, hoje em dia, as duas se comunicam apenas via e-mail, Twitter e Facebook. Ela considera a experiência de ter um relacionamento virtual que atravessa oceanos ;mais fácil;, porém menos prazerosa. ;Você manda um recado de vez em quando, fala as novidades e fica tudo bem. Faz falta chamar para sair, bater um papo;, admite.

Gabriela não tem grandes preocupações com um dos temas mais delicados desse tipo de relacionamento, a segurança. Ela acredita que ;dá para confiar;, mas deixa a dica: ;Quando começam a nos perguntar sobre assuntos mais íntimos, é bom dar um tempo. Agora, se a amizade fluir tranquilamente não tem problema;. Mesmo aprovando o relacionamento ;tecnológico;, a estudante sentencia: ;Acho que amigos virtuais são divertidos, mas os reais ainda ganham de mil a zero;.

Laços estreitos
O empresário Bruno Carvalho, 21 anos, adora esse mundo interligado. Ele tem muitos amigos virtuais, conhecidos essencialmente em salas de bate-papo e por meio de jogos on-line. ;A minha intenção sempre foi praticar línguas e conhecer a cultura de outros países;, explica. Os relacionamentos virtuais do jovem se dividem, principalmente, entre Inglaterra e Portugal. ;Atualmente, é o contato social que mais utilizo. Me mudei há pouco tempo para a cidade e não conheço quase ninguém;, conta.

Os relacionamentos que Bruno firmou são tão estreitos que um casal de amigos que mora em Portugal já está de malas prontas para visitá-lo. Ele diz que sente confiança e não vê diferenças expressivas entre um relacionamento virtual e um presencial. ;É normal, como qualquer outra amizade. Pode até haver diferença na aproximação, porque com os presenciais o vínculo é maior, mas os virtuais se tornam bem próximos;, afirma o empresário.

Outra dona de uma linha brilhante no Facebook é Biondina Bionde, 17 anos. O traço sai de Brasília e vai até Los Angeles, onde está a amiga Andréia. O relacionamento surgiu de maneira espontânea, quando a estudante do 2; ano do ensino médio entrou em um grupo de amizades do Yahoo! e conheceu a amiga, que falava espanhol. Trocaram os endereços do Messenger e não pararam mais de conversar. ;Ela me ensinava um pouco do espanhol e eu ensinava para ela um pouco de português. Era bem difícil o nosso diálogo, mas era engraçado;, recorda-se a estudante.

Hoje, porém, a linha do Facebook de Biondina está desativada. Como teve de se dedicar aos estudos e não pôde mais entrar na internet, a brasiliense perdeu contato com Andréia. A amizade virtual que tiveram, mesmo que pouco duradoura, foi importante. Hoje, Biondina chega a dizer que prefere os amigos virtuais aos presenciais. ;Com o virtual, não há como ele combinar uma coisa com você e furar;, avalia. ;Tenho amigos virtuais de anos. Costumo falar que eles são mais verdadeiros e companheiros do que muitos que estão aqui pertinho de mim.;

Para a psicóloga do Hospital de Base Cibelle Antunes, o mundo virtual pode até oferecer rapidez e quantidade de oportunidades, mas as perdas para quem se fecha nele são imensuráveis. ;Um relacionamento virtual não permite o contato olho no olho, nem tocar e sentir. A ruptura das relações interpessoais provoca até depressão, já que o contato é quase sempre mediado por um objeto. Na internet, não há algo duradouro e profundo, porque somos seres humanos e os nossos afetos são dependentes das nossas percepções;, opina a psicóloga, também professora da Universidade Católica de Brasília

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação