Ciência e Saúde

Novo sistema é capaz de identificar tsunamis cinco minutos após terremoto

Consórcio de instituições científicas liderado por centro alemão conclui sistema capaz de detectar a formação de ondas gigantes no Oceano Pacífico apenas cinco minutos depois da ocorrência de um terremoto em alto-mar

Paloma Oliveto
postado em 19/01/2011 08:00
Consórcio de instituições científicas liderado por centro alemão conclui sistema capaz de detectar a formação de ondas gigantes no Oceano Pacífico apenas cinco minutos depois da ocorrência de um terremoto em alto-marSeis anos depois das ondas gigantes que varreram a Indonésia, matando 250 mil pessoas, o projeto do Sistema de Alerta Precoce de Tsunamis Germânico-Indonésio (Gitews, sigla internacional) chega ao fim. Em 31 de março, a Alemanha encerra sua parte da parceria, e o país asiático assume, sozinho, o conjunto de softwares, satélites e sensores que visam a evitar tragédias como a de dezembro de 2004.

Desde a ocorrência do tsunami, um consórcio de 10 instituições internacionais, liderado pelo centro de pesquisas de geociências alemão GFZ, começou a investir em tecnologia de ponta para lançar um sistema de alerta mais preciso. A iniciativa foi do governo da Alemanha, que, imediatamente após o desastre de 26 de dezembro, contratou o GFZ para desenvolver e implementar um sistema de alarme precoce para o Oceano Índico. Foram investidos cerca de 45 milhões de euros.

Em operação desde 2008, as 300 estações do Gitews conseguem detectar a iminência de um tsunami menos de cinco minutos depois da formação de um terremoto submarino. Embora não seja possível evitar a formação das ondas gigantes, quanto mais rápido elas forem identificadas, maiores as chances de alertar a população para que evacue as áreas de risco. O sistema Gitews não beneficia apenas a Indonésia, mas todos os países banhados pelo Índico.

;Um fenômeno natural como o tsunami de 2004 não pode ser prevenido, e desastres semelhantes continuarão a fazer vítimas, mesmo com um sistema de alarme funcionando perfeitamente. Mas as repercussões desses desastres podem ser minimizadas com um projeto de alarme precoce. Esse é o objetivo do Gitews;, explica o professor Reinhard Hüttl, diretor científico do GFZ. De acordo com ele, a abordagem tecnológica utilizada é inovadora, ao combinar diferentes tipos de sensores, ;cujo elemento central é uma rápida e precisa detecção e análise dos terremotos, baseadas em dados GPS;.

Segundo o centro GFZ, mais de 90% dos tsunamis surgem a partir de fortes terremotos. A catástrofe de 2004 foi, com a magnitude de 9,3 na escala Richter, o segundo maior terremoto já registrado na história do planeta. Quinze minutos depois do tremor submarino, as ondas atingiram a província de Banda Aceh, resultando na morte de 140 mil pessoas, somente naquele local. Daí a importância de medir com precisão a localidade, a fonte e a magnitude dos terremotos, algo extremamente difícil de fazer. No Gitews, foi preciso desenvolver um software específico, o SeisComP3, que faz esse trabalho. O programa de computador consegue, em cerca de dois minutos, indicar a localização e a força do terremoto.

Sensores
O professor Reinhard Hüttl explica que nem todo tremor submarino resulta em um tsunami. Por isso, ele afirma que é preciso determinar, ainda no mar, se um terremoto vai dar origem às ondas gigantes. Para tanto, a equipe de pesquisadores instalou no Oceano Índico sensores que conseguem reconhecer as mudanças da pressão da água, que ocorrem quando há formação de tsunamis. Se esses equipamentos detectam alterações, boias instaladas na superfície do mar recebem a informação e a transmitem imediatamente para o centro de alarme, onde trabalham equipes de cientistas.

Consideradas importantes inovações no sistema, as boias funcionam não apenas como estações de retransmissão, mas como detectoras de tsunamis. Elas são importantes porque, caso os sensores submarinos estejam muito próximos à origem do tremor, esses instrumentos não conseguem diferenciar se o fenômeno seguinte será apenas um terremoto ou se haverá um tsunami, podendo passar falsos alarmes. Equipadas com computador e painéis solares, as boias possuem também uma antena GPS que determina precisamente o movimento e o nível do mar. O instrumento consegue perceber ondas que viajam a uma velocidade de até 800km/h.

De acordo com Hüttl, a geografia da Indonésia dificulta a detecção precoce de tsunamis, mas, mesmo assim, ele afirma que o sistema Gitews conseguiu provar que é funcional do ponto de vista técnico e de organizacional. Desde setembro de 2007, quatro fenômenos foram detectados e houve tempo hábil para alertar a população. ;Mas principalmente os habitantes das ilhas pequenas e isoladas precisam receber também treinamentos para saber como agir quando atingidos. Isso inclui não apenas a resposta correta durante o alarme de tsunami, mas também o comportamento correto antes, durante e depois dos terremotos;, defende o cientista.

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