Ciência e Saúde

Cirurgia ortognática pode ser a cura para problema de respiração e digestão

postado em 01/03/2011 07:00
O administrador de empresas Ronilson Ramos, 44 anos, não imaginava que, por trás do ronco, transtorno que roubava o descanso dele e da companheira, havia uma apneia severa, que colocava sua vida em risco. O distúrbio, que interrompe a respiração por até 20 segundos diversas vezes durante o sono, era decorrente da chamada hipoplasia de mandíbula. Em palavras mais simples, o queixo de Ronilson era recuado e, para essa deformidade na face, não há tratamento clínico. A cirurgia ortognática é a única alternativa de correção. ;Fiquei assustado, porque, até então, nunca ouvira falar nesse procedimento. Esteticamente, esse recuo não me incomodava, mas minha qualidade de vida estava tão afetada que não vacilei. Encarei a operação;, revela.

A cirurgia ortognática ainda é pouco conhecida entre a população brasileira, mas existe justamente para corrigir deformidades ósseas no rosto. As imperfeições podem ser congênitas ou surgir com o tempo. O relato de Ronilson ilustra uma ponderação sempre reforçada pelos profissionais que a realizam: a mazela não interfere apenas na questão estética, mas na funcionalidade dos sistemas respiratório e digestivo. Problemas oftalmológicos e nos ouvidos também podem ocorrer devido a essas alterações. O procedimento cirúrgico permite a correção de deformidades dentofaciais, como retrognatismo, prognatismo, hipocrescimento da maxila e sorriso gengival; de assimetrias na face; da perda da capacidade ortodôntica; de defeitos inatos; e de outros transtornos, que podem ser resultado de traumas envolvendo a região.

Na maioria dos casos, principalmente nas cirurgias dento-faciais, a intervenção é feita pela boca, sem cortes externos. Os ossos são seccionados, para que o cirurgião avance ou retraia a região da arcada que promove a deformidade. Placas e parafusos de titânio são usados para fixar o tecido ósseo novamente. O otorrinolaringologista Diderot Parreira observa que a apneia do sono é um problema que pode interferir seriamente na saúde do paciente. A cirurgia é indispensável em casos graves, pois o ronco é apenas um dos sintomas. ;É fundamental um estudo detalhado, para saber se o que está provocando o problema tem indicação cirúrgica. A cirurgia ortognática traz, no mínimo, três benefícios: melhora a via aérea, a oclusão e a harmonia facial;, pontua.

Os exames radiológicos e tomográficos são essenciais tanto para a confirmação da necessidade do procedimento quanto para que o cirurgião programe a cirurgia milimetricamente. Por envolver a região do nariz e da boca, a anestesia é geral. O procedimento dura no mínimo duas horas e o pós-operatório tem restrição de alimentos sólidos nos primeiros 15 dias. Atividades físicas ficam proibidas por um mês. ;Fiquei nove horas na mesa de operação, me alimentei uma semana com canudinho, mas nunca mais ronquei. A indisposição que me atormentava por não conseguir dormir ficou no passado;, conta Ronilson.

Riscos
A cirurgia ortognática pode ser realizada somente por médicos ou dentistas bucomaxilofaciais. Na medicina, ela é uma área de atuação de cirurgiões plásticos, otorrinolaringologistas e cirurgiões de cabeça e pescoço especializados em cirurgia craniomaxilofacial. A advogada Kátia Cristina Oliveira, 33 anos, resolveu o problema de projeção da mandíbula com um dentista, já que seu caso também demandava um tratamento ortodôntico. A mordida cruzada foi detectada há algum tempo e não pode ser tratada apenas com aparelhos, porque havia também uma assimetria nos ossos da face.

Como consequência, a articulação temporomandibular (ATM) já estava desgastada e Kátia passou a ter cefaleias. A cirurgia foi feita em duas etapas, com intervalo de um ano. Uma para expandir a maxila e outra para avançá-la. O aparelho ortodôntico foi colocado nesse meio tempo. ;O inchaço no pós-cirúrgico é inevitável, mas os benefícios foram sentidos em pouco tempo. Minha mordida foi corrigida, minha dicção melhorou e acabei ganhando esteticamente também;, afirma.

O cirurgião plástico Gustavo Guimarães explica que os riscos são os mesmos de qualquer procedimento cirúrgico e estão relacionados a possíveis infecções e problemas anestésicos. Em casos muito raros, pode haver rejeição das placas e dos parafusos de fixação. ;Eu, particularmente, nunca tive um paciente que passou por esse inconveniente. Os materiais usados hoje trouxeram avanços importantes para cirurgiões e pacientes;, destaca.

No passado, a cirurgia ortognática era feita com fios de titânio, o que deixava a correção sensível, por conta da possibilidade de mobilidade do material. ;Hoje, as placas fixam muito melhor. Em crianças que necessitam da intervenção, o material é absorvível, para não atrapalhar o desenvolvimento;, afirma o médico. Segundo ele, quanto mais a cirurgia for postergada, mais danos agregados podem surgir na vida do paciente. Dificuldades respiratórias, rinites e sinusites de repetição, dores na articulação temporomandibular (ATM), disfunção mastigatória e na deglutição, má oclusão dentária, apneia do sono e voz anasalada são alguns deles.

Acidentes esportivos, desastres de carro e de moto também levam muitos pacientes a necessitar da cirurgia ortognática. O engenheiro mecânico Victor Hugo Farias, 24 anos, passou recentemente pelo procedimento devido a um trauma que provocou o afundamento da face orbital da maxila ; região ao redor dos olhos. Uma cabeçada durante uma partida de futebol fraturou o osso em três lugares. A cirurgia foi necessária para impedir que o olho caísse e houvesse o comprometimento funcional. ;A pancada provocou tanta dor e inchaço que precisei esperar sete dias para fazer a operação. Três placas de titânio fixaram o osso. As cicatrizes são imperceptíveis e já estou jogando bola novamente;, brinca.

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