Ciência e Saúde

Pesquisadores mostram pedra maia que fala de fim do mundo e negam teoria

Pesquisadores apresentam pedra maia que deu origem aos rumores de que o planeta seria destruído no ano que vem. Segundo eles, o antigo calendário apenas menciona o fim de uma era e o início de outra

postado em 31/03/2011 07:00

O antigo calendário maia, exposto para dar fim a teorias sobre o fim do mundo:  fantasia surgida nos anos 1970Quem tem planos para depois de 2012 pode ficar aliviado. Não, o mundo não vai acabar. Todo o reboliço criado em torno do calendário maia, que supostamente previa o apocalipse em 23 de dezembro do ano que vem, foi apenas uma interpretação errada das presciências indígenas, afirmaram pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH). Eles apresentaram, em Tabasco, a famosa pedra que deu origem ao mito e explicaram a forma correta de interpretá-la.

Formada de calcário e esculpida com martelo e cinzel, a peça tem talhada, de fato, a inscrição ;23 de dezembro de 2012;, o que provocou rumores de que os maias teriam previsto o fim do mundo para esse dia. Até uma produção hollywoodiana foi lançada sobre o apocalipse. A pedra foi encontrada na década de 1960 e contém inscrições que preveem o acontecimento de algum evento em 2012 envolvendo Bolon Yokte, um misterioso deus maia associado tanto à guerra quanto à criação. Porém, o fim da passagem é quase ilegível, porque a pedra está muito danificada.

;No que podemos apreciá-la, em nenhum de seus lados é dito que o mundo vai acabar em 2012;, garantiu José Luis Romero, diretor adjunto do instituto. ;Sobre a data, os maias se referiam à chegada de um senhor dos céus, coincidindo com o encerramento de um ciclo numérico. Trata-se ao Bactum 13, que significa o início de uma nova era;, esclareceu.

As teorias do juízo final deixaram algumas pessoas em pânico. A cientista Ann Martin, que cuida do site Curious? Ask an astronomer (Curioso? Pergunte a um astrônomo), disse que, na época do lançamento do filme 2012, baseado na falsa previsão, recebeu muitos e-mails desesperados. ;É muito ruim receber mensagens de crianças dizendo que são muito jovens para morrer. Uma mãe escreveu dizendo que estava com medo de não ver seus filhos crescer;, contou, no site.

O diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maia, ligado ao INAH, Carlos Pallán, já havia explicitado sua opinião contrária à ocorrência do apocalipse. No ano passado, ele afirmou que em nenhum dos 15 mil textos deixados pelos antigos maias existem citações a cataclismos no ano que vem, uma crença, segundo ele, originada em escritos esotéricos da década de 1970. Pallán também defendeu que a data 2012 aparece nos documentos antigos em referência ao fim de uma era, e não de todo o mundo.

Profetas
De acordo com Pallán, nos místicos anos 1970, profetas do apocalipse começaram a divulgar que, com o fim do 13; ciclo do calendário maia, o alinhamento de um buraco negro com o Sol romperia o equilíbrio da Via Láctea, modificando o eixo magnético da Terra, com consequências nefastas. Tudo isso, garante o arqueólogo, não passa de uma bobagem. ;Para os antigos maias, o tempo não era algo abstrato, mas formado por ciclos. Esses, às vezes, eram tão concretos que tinham nomes e podiam ser personificados. O ciclo de 400 anos, por exemplo, era representado por uma ave mitológica;, explicou. O cientista insistiu que os maias ;jamais mencionam que o mundo vai acabar, jamais pensaram que o tempo terminaria em nossa época;. Os maias simplesmente celebravam com grandes festas o fim de um novo ciclo.

O mesmo diz Sandra Noble, diretora-executiva da Fundação para o Avanço de Estudos da Mesoamérica, nos Estados Unidos. Em entrevista ao jornal norte-americano USA Today, ela esclareceu que 2012 seria, para a civilização, um momento comemorativo, e não apocalíptico. ;Esse momento cósmico de mudança é uma completa invenção, e uma chance encontrada por muita gente para aparecer;, criticou. ;Não existe nenhum registro de que os maias pensariam que o mundo iria acabar no ano que vem.;

Se a opinião dos especialistas não bastar para convencer a população, uma boa ideia é ouvir os descendentes dos maias, como o indígena Apolinário Chile Pixtun, da Guatemala. Ele contou ao The Telegraph que está cansado de ser bombardeado com perguntas sobre o fim do mundo. ;Essas teorias ocidentais sobre o juízo final não existiam na civilização maia. Existem outras inscrições em sítios arqueológicos que citam datas muito além, incluindo uma que fala do ano 4771. Os maias nunca disseram que o mundo vai acabar e nunca afirmaram que nada de ruim iria acontecer;, garantiu Pixtun, com a sabedoria de um legítimo representante moderno da civilização.

Número sagrado
A civilização maia, conhecida por avançada escrita, matemática e astronomia, floresceu na América Central, tendo seu ápice especialmente entre os anos 300 e 900. O longo calendário, interrompido com a colonização espanhola, começa em 3114 a.C. e marca períodos de 394 anos, conhecidos como Bactuns. O ano de 2012 seria o Bactun 13, e esse era um número significativo e sagrado para os maias.

Catástrofe
Em 2009, o cineasta alemão Roland Emmerich, diretor de Independence Day e O dia depois de amanhã, aproveitou os rumores sobre a suposta previsão apocalíptica maia para realizar o filme-catástrofe 2012. Na trama, o planeta realmente entra em colapso e, em uma das cenas, o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, aparece submerso, depois de ser atingido por um tsunami.

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