Ciência e Saúde

Terapia asfixia o câncer ao privar novos vasos sanguíneos de oxigênio

Com isso, o crescimento do mal é impedido

postado em 06/04/2011 07:00
Durante 13 anos, José Alencar travou uma árdua batalha contra o câncer, até que a doença não mais respondeu aos tratamentos. Se ainda estivesse vivo, o ex-vice-presidente da República teria ao menos o alento de saber que outros pacientes acabam de ganhar uma esperança de cura. A boa notícia vem da Faculdade de Farmácia da Queen;s University Belfast, na Irlanda do Norte. Em colaboração com pesquisadores do instituto Almac Discovery, a cientista e professora Tracy Robson desenvolveu uma terapia que já é considerada uma revolução. Em vez de atacar o câncer diretamente, a nova droga combate a raiz do mal: ela previne o crescimento de novos vasos sanguíneos no tumor, privando-os de oxigênio e de nutrientes e impedindo sua evolução.

À esquerda, os traços brancos são os vasos sanguíneos dentro de um tumor em pleno crescimento; à direita, na imagem dos mesmos vasos depois do uso da nova substância, é possível notar claramente como foram rompidos

A arma criada por Tracy teve como ponto de partida a FKBPL. ;Trata-se de uma proteína natural encontrada dentro das células, que possui uma atividade natural contra os vasos sanguíneos do tumor;, explicou ao Correio, por e-mail, a autora do estudo publicado pela revista científica Clinical Cancer Research, da Associação Americana para Pesquisa do Câncer. ;Essencialmente, a FKBPL detém o desenvolvimento de novos vasos ; um processo chamado de angiogênese, que não ocorre em adultos, mas apenas em pessoas acometidas pelo câncer;, acrescentou. De acordo com ela, tais vasos dependem do sangue para garantir o crescimento tumoral. ;O combate ao crescimento de novos vasos sanguíneos leva as células do tumor à morte;, comenta.

A medicina dispõe de outras terapias cujo alvo são os vasos sanguíneos do tumor. No entanto, nada se compara ao método projetado por Tracy ; a nova técnica utiliza um caminho totalmente diferente e já mostrou-se uma alternativa eficiente a tratamentos atuais que não estejam funcionando. ;Nós desenhamos um pequeno peptídeo (biomolécula) baseado na região ativa da proteína FKBPL. Nossa droga utiliza um receptor chamado CD44, presente na superfície celular, para invadir aquelas células necessárias para o crescimento do vaso sanguíneo do tumor;, afirma a norte-irlandesa. ;Uma vez lá dentro, o medicamento interfere em uma proteína envolvida na migração das células, prevenindo a angiogênese.;

Multieficiência
O estudo, ao qual a reportagem teve acesso, assegura que a ;eficácia antitumoral foi determinada em dois tumores humanos que cresceram em ratos com grave imunodeficiência;. O artigo revela que a área responsável pelo potencial antiangiogênico foi identificada como um peptídeo de 24 aminoácidos, cuja sequência foi sintetizada e utilizada como medicamento.

Como a nova droga funciona alvejando os vasos sanguíneos ainda em formação do tumor, Tracy Robson aposta que ela seja apropriada a uma vasta gama de tumores, inclusive sólidos. Até agora, ela e sua equipe comprovaram boas respostas para os cânceres de mama e de próstata. ;O projeto está em desenvolvimento pré-clínico e a primeira fase dos testes clínicos deve começar em 12 meses. Se eles forem bem-sucedidos, o tratamento deverá estar disponível em todo o mundo nos próximos cinco ou 10 anos;, estima a cientista.

De acordo com Tracy, os atuais tratamentos antiangiogênicos não são eficazes contra todos os tumores. Muitas vezes, quando demonstram eficiência, esbarram na resistência do organismo. ;Como essa nova abordagem utiliza um mecanismo antiangiogênico diferente, esperamos que funcione com um padrão de tumores, diferentemente de outras drogas. É provável que nosso método seja complementar a outras terapias, estendendo o leque de abordagens possíveis;, revela a líder do estudo. Stephe Barr, presidente da Almac Discovery, destaca o caráter inovador da pesquisa. ;Trata-se de um exemplo de primeira classe de colaboração entre a universidade e a indústria para produzir uma nova técnica para tratar o câncer, com chance real de ajudar pacientes;, diz.

Outra pesquisa, divulgada no 102; Encontro Anual da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, sustenta que a análise de um grupo com aproximadamente 10 trilhões de pares-base de sequências de DNA de tecidos do tumor de mama e de mulheres saudáveis rendeu informações valiosas sobre as variantes genéticas da doença. O norte-americano Matthew J. Ellis, professor de medicina da Washington University, disse acreditar que a descoberta levará a diagnósticos mais precisos, capazes de propiciar resultados melhores no tratamento do mal.

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