Ciência e Saúde

Estudo revela que a hipertensão tem crescido muito entre jovens

postado em 14/06/2011 09:07
A hipertensão é um inimigo silencioso. Ela ocorre quando o sangue bombeado do coração para as artérias encontra dificuldades no caminho que percorre pelo organismo. A maioria das vítimas da doença não sente absolutamente nada, o que contribui para que o diagnóstico e o tratamento sejam postergados. Um novo estudo norte-americano indica que o mal tem acometido a população jovem em escalas bem maiores do que se imaginava.

Pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill apontam que, nos Estados Unidos, quase 20% das pessoas entre 24 e 32 anos têm hipertensão. Metade desse contingente nem sequer imagina que esteja com o problema. O trabalho foi publicado recentemente na revista Epidemiology.

O epidemiologista e professor assistente em medicina Eric Whitsel, um dos coordenadores da pesquisa, considera o resultado do estudo como uma ;tragédia anunciada;. Os pesquisadores examinaram 14 mil homens e mulheres que apresentaram pressão arterial igual ou superior a 14/9. ;Verificamos que quase um em cada cinco jovens em nosso país tem pressão alta. Mudanças na dieta, sedentarismo e obesidade têm contribuído para esse aumento. Embora seja um estudo local, sabemos que o mesmo tem ocorrido em diversos locais do mundo;, pondera.

Redução de sal
O pesquisador sustenta que mais alarmante que o crescimento do problema entre indivíduos tão novos é a falta de zelo com a própria saúde. ;A hipertensão é detectada de forma simples, basta fazer a medição pelo menos uma vez ao ano com um aparelho calibrado. Se os jovens não sabem que estão doentes, é porque estão abrindo mão de um cuidado capaz de salvar vidas;, lamenta. Whitsel acrescenta que a chave para evitar o mal inclui a redução de sódio na dieta para menos de 2.300mg/dia, a moderação no consumo de álcool e a manutenção do índice de massa corporal inferior a 25kg/m;.

No Brasil, a situação não é menos preocupante. Dados do Ministério da Saúde apontam que a hipertensão atinge mais de 50% da população idosa e está presente em 5% das crianças e adolescentes. Embora não existam estudos que apontem como o problema atinge os jovens em especial, médicos confirmam que a ocorrência dele entre os brasileiros com menos de 35 anos tem aumentado a cada ano. A doença é responsável por 50% dos enfartos, 80% dos acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e 25% dos casos de insuficiência renal, danos cada dia mais comuns na faixa etária analisada no estudo americano.

Segundo o nefrologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), Décio Mion Júnior, o descontrole é tanto que nem os pacientes diagnosticados levam o tratamento a sério ; a maioria negligencia os cuidados e a terapia medicamentosa. ;Até os médicos que sofrem com o problema não dão a ele a devida atenção. Um levantamento feito no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) constatou que apenas 35% dos médicos hipertensos declaram se tratar;, assegura. Para Mion Júnior, o descuido é injustificável porque os medicamentos disponíveis atualmente não provocam os efeitos colaterais relatados no passado. ;As pessoas não aceitam ter uma doença crônica e param de se tratar. Os homens têm medo da impotência, mas ela não ocorre com as drogas receitadas hoje em dia;, garante.

Tempos modernos
A pressão alta é uma doença multifatorial e as situações que a desencadeiam estão cada dia mais presentes na vida contemporânea. Dieta inadequada, consumo exagerado de alimentos industrializados e de fast foods, sobrepeso e sedentarismo são as principais. O nefrologista acrescenta que indivíduos com casos de hipertensão na família ou que estão fora do peso ideal e não se exercitam regularmente devem averiguar a pressão de seis em seis meses. ;Aqueles que estão fora desse grupo de risco devem medir uma vez ao ano;, indica.

A administradora de empresas Sabrina Lima e Silva, 28 anos, sofre de hipertensão há pelo menos quatro anos. ;Não sentia nada. Por acaso, durante um tratamento odontológico, o dentista foi averiguar minha pressão e levou um susto. Recomendou que eu procurasse imediatamente um serviço médico. Confesso que ignorei o aviso;, admite. ;Não ficava com medo, porque achava que meu corpo avisaria se minha saúde estivesse em risco. Uma vez, cheguei a ser internada depois que um médico mediu minha pressão.

Meu caso é hereditário, minha mãe também é hipertensa;, conta. Sabrina rendeu-se aos avisos e passou a seguir as recomendações médicas. Ela toma dois remédios para controlar a doença, aprendeu a não exagerar no sal e a mexer o corpo com mais disciplina.

O cardiologista e gerente médico do programa Total Care, da Amil, Bruno Ganen, observa que não existe um sintoma específico da hipertensão. Ocorrem manifestações generalizadas, como dor de cabeça, vômitos, náuseas, alterações visuais. ;Tudo isso é mais comum em quem tem a doença há anos. A hipertensão é um mal realmente assintomático e traiçoeiro para a maioria das pessoas. O diagnóstico é fácil, mas é preciso que o paciente tenha a iniciativa de medir;, reforça Bruno. O tratamento pode ser não farmacológico, quando a hipertensão está ligada à obesidade. ;Muitas vezes, conseguimos reverter o quadro com perda de peso, disciplina na dieta e controle na ingestão de álcool. Quando não é possível regularizar a pressão com todas essas medidas, o paciente deve realmente tomar medicação para o resto da vida;, acrescenta.

A professora Thaís da Silva Tomé, 24 anos, foi diagnosticada com hipertensão no início de 2010. Ela desconfia que vinha sofrendo com a doença há algum tempo, mas que somente depois de sentir alguns sintomas relacionados ao mal procurou atendimento médico. ;Peso 120kg e tenho casos de pressão alta na família. Acabo de aderir a um programa de emagrecimento. Tenho esperança de reverter esse quadro. Por enquanto, tomo medicamentos uma vez ao dia;, revela.

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