Ciência e Saúde

Suspensas desde julho, missões à Estação Espacial são retomadas

postado em 15/11/2011 07:49
Após uma série de lançamentos malsucedidos de satélites, foguetes e sondas, a Rússia fez ontem mais uma tentativa de recuperar a imagem de seu programa espacial. O país enviou o foguete Soyuz do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, rumo à Estação Espacial Internacional (ISS), onde a nave deve acoplar na madrugada de amanhã. A bordo estão os russos Anton Shkaplerov e Anatoly Ivanishin e o norte-americano Dan Burbank, os primeiros tripulantes a ir à ISS desde julho, quando ocorreu o desastre com o cargueiro de suprimentos russo Progress. O desastre fez com que as missões rumo à ISS fossem suspensas para a realização de verificações técnicas nos foguetes.

Stephanie L. Schierholz, representante do Centro Espacial Kennedy, nos Estados Unidos, explicou ao Correio que essa é a 29; missão a levar uma equipe para viver a bordo da estação. ;Burban, Shkaplerov e Ivanishin vão se juntar aos três astronautas que já estão lá;, afirmou a especialista, em referência ao norte-americano Mike Fossum, ao japonês Satoshi Furukawa e ao russo Serguei Volkov, que se encontram no local desde junho. A cápsula decolou às 2h14 de ontem com êxito, de acordo com o centro de controle. ;A nave atingiu a órbita;, informou Shkaplerov, engenheiro de voo, por rádio. ;Tudo está normal e estamos nos sentindo bem;, ressaltou o astronauta.

;Eles vão conduzir uma variedade de experimentos em pesquisas com humanos, nas áreas de biologia, biotecnologia, física, ciências dos materiais, desenvolvimento tecnológico e ciências da Terra e do espaço;, afirmou Stephanie, acrescentando que a agência espacial dos EUA (Nasa) vai disponibilizar em seu site (www.nasa.gov), semanalmente, resumos dos estudos conduzidos. Ela destacou que, com essa missão, os astronautas vão ajudar na compreensão do processo de viver e trabalhar no espaço.

Os três astronautas que já se encontram na ISS voltarão à Terra em 22 de novembro, para serem substituídos, em 21 de dezembro, pelo norte-americano Don Pettit, o russo Oleg Kononenko e o holandês André Kuippers. ;Depois desse lançamento, a estação funcionará normalmente;, garantiu o chefe da Roskosmos, Vladimir Popovkine. Além de mais experimentos, o sexteto deve participar de uma nova era dos serviços de reabastecimento comercial dos Estados Unidos. A equipe deve estar na ISS quando forem feitos os primeiros testes de acoplamento da Dragon, uma nave de suprimentos desenvolvida na Califórnia, e da cápsula Cygnus, criada no estado da Virgínia. Os astronautas que devem chegar amanhã à estação ;vão ficar no espaço até março, quando voltarão na mesma cápsula Soyuz em que viajaram;, detalhou Stephanie.

Para o diretor de política espacial e investimentos estratégicos da Agência Espacial Brasileira (AEB), Himilcon de Castro Carvalho, a missão de ontem provou que os problemas operacionais do Soyuz estão resolvidos. ;O lançamento também mostra que a agência espacial russa tem confiança no próprio trabalho;, ressaltou. Castro lembrou que o Soyuz é o único foguete disponível atualmente para levar pessoas e materiais à estação espacial. ;Apesar dos problemas recentes, o foguete tem um histórico muito bom de missões no espaço;, afirmou. Até a falha do cargueiro Progress, que era levada pelo Soyuz, a nave havia passado por 1,8 mil lançamentos bem-sucedidos.

O problema com a cápsula de suprimentos, que caiu na Sibéria, foi considerado o pior da indústria espacial russa nos últimos anos. Na época, agências espaciais cogitaram retirar seus astronautas da estação. ;Se um Soyuz não voar até 16 de novembro ou por volta dessa data, será preciso evacuar a ISS;, disse, em 29 de agosto passado, o chefe da estação na Nasa, Mike Suffredini. Esse abandono seria uma situação inédita, já que o local é ocupado por astronautas desde as primeiras missões tripuladas, em 2000.

Sonda sem rumo
O último incidente do programa espacial russo ocorreu na semana passada, com o lançamento da sonda Phobos-Grunt a Marte, no dia 8. A sonda deveria aterrissar em uma das luas de Marte, marcando a volta da Rússia a missões de exploração interplanetárias. Ao retornar à Terra, ela traria amostras de solo do satélite. A Phobos-Grunt, no entanto, não conseguiu deixar a órbita terrestre e, até ontem, o programa russo não havia conseguido estabelecer contato com a espaçonave.

A Roskosmos ; que tem até 3 de dezembro para entrar novamente em contato com a sonda, reprogramá-la e enviá-la para sua rota original ; admite que há poucas chances de capturar o aparelho. Estima-se que ele cairá na Terra em 12 de janeiro de 2012 e que, ao entrar na atmosfera, se desintegrará. ;Foi uma decepção para a astrofísica russa;, admitiu Vladimir Popovkine, da agência russa. ;Marte não gosta dos terráqueos;, concluiu.

Ônibus aposentados
Os foguetes Soyuz passaram a ser a única forma de transporte rumo à Estação Espacial Internacional desde que os Estados Unidos suspenderam seu programa de ônibus espaciais, em 21 de julho passado, quando o Atlantis retornou de sua última missão. ;O ônibus espacial mudou a forma como vemos o mundo e o universo;, afirmou o comandante Chris Ferguson na aterrissagem. E completou: ;Uma coisa é indiscutível: os EUA não vão parar de explorar (o espaço);.

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