Ciência e Saúde

Tratamento contra hiperplasia prostática benigna tem mais de 90% de êxito

postado em 20/11/2011 16:30
Sensação de bexiga cheia, vontade de urinar a todo instante e dores são alguns dos sintomas da hiperplasia prostática benigna (HPB). Caracterizada pelo aumento da próstata, que cresce com a irrigação excessiva de sangue, a glândula inchada obstrui a uretra e, com isso, a urina é impedida de sair. Comum em homens com mais de 50 anos, um dos fatores de risco da enfermidade é a presença de testosterona na próstata ; o hormônio da masculinidade produzido pelos testículos.

Segundo especialistas do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC), de 80% a 90% dos homens nessa faixa etária podem ou vão desenvolver a doença. Contudo, pesquisadores do HC desenvolveram um tratamento eficaz e minimamente invasivo denominado embolização das artérias da próstata. Com a técnica ; aplicada a doenças ginecológicas desde a década de 1990 ;, a pessoa volta a urinar poucos dias após ao procedimento, além de ter as funções sexuais preservadas.

O novo procedimento cirúrgico não exige internação do paciente e é feito com anestesia local. O chefe do Serviço de Radiologia Intervencionista do Hospital das Clínicas, Francisco Cesar Carnevale, explica que o método é semelhante ao cateterismo, em que um tubo flexível de 2mm é introduzido na artéria femoral (virilha) e com a orientação de um aparelho que emite raios X, o tubo navega até a próstata injetando uma substância feita de resina acrílica, parecida com um grão de areia. O objetivo do procedimento é interromper a circulação sanguínea que irriga a próstata, resolvendo o problema e preservando o órgão.

Sem irrigação sanguínea, a próstata atrofia-se e os sintomas desaparecem. A técnica não provoca dor nem perda de sangue. ;Depois da intervenção, a próstata diminui de tamanho e alivia a obstrução da uretra permitindo a passagem da urina;, descreve Carnevale. A embolização é utilizada também em tratamentos de miomas uterinos e outros tumores.

Bateria de exames
De acordo com o especialista, o estudo inicial foi realizado com 11 pacientes com casos agudos de HPB e que usavam sonda vesical (cateter introduzido na bexiga, através da uretra, para drenagem de urina)devido à falha do tratamento medicamentoso. Antes, os pacientes foram submetidos a exames físicos pelo urologista, dosagem no sangue do antígeno específico da próstata (PSA), ultrassonografia e ressonância magnética da próstata. O sucesso do tratamento alcançou 91%, com redução de aproximadamente 30% do tamanho da próstata. ;Dos 11 pacientes tratados no estudo inicial, 10 voltaram a urinar espontaneamente nos dias seguintes ao procedimento;, recorda.

O professor da divisão de urologia do HC Alberto Antunes explica que o tratamento cirúrgico atual e padrão ouro para a doença é a ressecção transuretral (RTU), prescrito quando a glândula tem até 80g, consiste na remoção do tecido interno da próstata. O procedimento é realizado por visualização da próstata via uretra e da remoção do tecido com uso de eletrocautério. É considerado o tratamento mais eficiente para HPB. Os resultados são considerados excelentes para 80% a 90% dos pacientes. ;A aplicação de laser pode ser feita com segurança e eficácia para desobstrução urinária;, afirma o médico.

Um dos principais benefícios da embolização se dá exatamente por ela ser minimamente invasiva, pois não necessita de corte nem de internação, e é feita com anestesia local além de ser indicada para próstatas de diversos tamanhos. ;Não compromete a função sexual e, caso necessário, não impossibilita a realização de outros tipos de tratamentos cirúrgicos tradicionais;, destaca Francisco Carnevale.

A técnica não é a cura da doença, ponderam os médicos, mas pode proporcionar a melhora parcial ou total dos sintomas do trato urinário baixo (prostatismo) causados pelo crescimento da próstata. ;É mais uma alternativa de tratamento para os pacientes;, opina Antunes.

Para o aposentado Frederico (*) de 58 anos, a notícia sobre o novo tratamento é a certeza de que em breve o problema dele será resolvido. Ele afirma que a doença mexeu tanto com a autoestima quanto com a qualidade de vida. ;Quando chego em um local, a primeira coisa que procuro é o banheiro porque a vontade de fazer xixi é sempre urgente;, descreve. Para Frederico, esse descontrole é a pior parte da doença.

Ele conta que os sintomas começaram há 10 anos, porém a doença só foi diagnosticada há menos de dois. Mesmo sentindo algumas dores, o aposentando diz preferir tomar os medicamentos a se submeter às cirurgias tradicionais por temer os efeitos colaterais. ;Existe um risco de interferir na questão sexual e quanto a isso eu não quero arriscar;, preocupa-se.

O urologista Alberto Antunes explica que o diagnóstico da HPB é realizado verificando o aumento de volume da próstata, por meio do toque retal. ;O teste de PSA deve sempre ser realizado para descartar a presença de câncer da próstata;, aconselha. Segundo ele, nos pacientes sintomáticos, exames complementares como ultrassonografia e urofluxometria devem ser feitos para ajudar a avaliar a repercussão da obstrução prostática sobre o trato urinário.

Evolução
Antes de se submeter à técnica, Antunes ressalta que é necessário o paciente passar por uma avaliação em que pode ser classificado como um sintomático leve, moderado ou grave. ;Por fim, podem surgir complicações como sangramentos urinários de repetição, infecções urinárias, dilatação dos rins e retenção urinária aguda;, pontua.

Para o médico, que também orientou as pesquisas do HC, a diferença entre o tratamento tradicional e a embolização é que este pode ser feito com anestesia local e a pessoa pode ter alta no mesmo dia. ;Apenas não sabemos ainda como é a evolução a longo prazo da embolização, pois trata-se de um método mais recente;, pondera.

Carnevale destaca que o sucesso do tratamento já aparece em estudos publicados pela equipe do HC em periódicos científicos internacionais e vem sendo apresentado em congressos nacionais e internacionais. O próximo passo da pesquisa é comparar a cirurgia por ressecção transuretral com a embolização das artérias da próstata. ;Médicos de vários países estão sendo treinados nessa técnica para realizar um estudo multicêntrico internacional;, conta.

*nome fictício

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação