Ciência e Saúde

Micróbios encontrados em placenta quebram mito de que órgão é estéril

Diferentemente do que se pensava, a placenta não é um órgão estéril, pois micro-organismos convivem com o bebê durante a gravidez. A descoberta pode esclarecer alguns casos de parto prematuro e ajudar a evitá-los

Roberta Machado
postado em 22/05/2014 06:00
A segurança do ventre materno é mais povoada do que se pensava. Pesquisadores descobriram que a placenta é habitada por uma variada comunidade de micróbios naturalmente transmitidos para o órgão por meio da corrente sanguínea. Até então, acreditava-se que esse era um ambiente estéril, livre de quaisquer micro-organismos. Mas, depois de estudar o DNA de 320 placentas, cientistas encontraram códigos genéticos correspondentes a vários tipos de bactérias, similares às que existem na boca das pessoas. Acredita-se que essa microbiota tenha uma função na transmissão de nutrientes para o feto, como vitaminas e ácido fólico. A descoberta também pode ser importante para diagnosticar e evitar partos prematuros.

O artigo que descreve o estudo foi publicado hoje na revista especializada Science Translational Medicine. Depois de extrair o DNA de placentas recolhidas em partos feitos com todo cuidado e em ambientes estéreis, os pesquisadores separaram as sequências bacterianas das humanas e conseguiram identificar os tipos de micróbios que coexistiam com os bebês durante a gravidez. ;Isso nos permitiu entender que atividades metabólicas essas bactérias são capazes de executar. Por exemplo, metabolismo de substâncias e vitaminas;, explica Kjersti Aagaard, pesquisadora da Faculdade Baylor de Medicina e do Hospital Pediátrico do Texas (EUA).



Os resultados foram comparados com os DNAs bacterianos presentes na boca, na pele, na vagina e no intestino. O resultado surpreendeu ao mostrar que os micróbios encontrados na placenta não têm similaridade com as culturas próximas ao útero, mas sim com as da boca. Os pesquisadores acreditam que as bactérias viajam para o ventre por meio da corrente sanguínea, num processo chamado propagação hematogênica.

;A princípio, a placenta deveria ser estéril;, comenta Jorge Timenetsky, pesquisador do Laboratório de Microplasma do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP). Mas a pesquisa norte-americana mostrou que esses pequenos seres são capazes de chegar ao interior do útero e conviver em harmonia com o feto, apesar do sistema imunológico da mãe, capaz de acabar com colônias de bactérias inconvenientes. ;É importante também lembrar que, sem bactérias, não existiríamos, precisamos delas. Mas conhece-se apenas parte dessa necessidade. Se elas estão lá boiando e não causam nenhum mal, então deve ter alguma contribuição;, afirma o especialista.

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