Ciência e Saúde

Estudo sobre plâncton reúne o maior banco de DNA oceânico já realizado

Esses seres são fundamentais para o equilíbrio natural, produzindo mais da metade do oxigênio da Terra

Paloma Oliveto
postado em 22/05/2015 06:20

Um novo mundo, tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe da vida na superfície começa a se descortinar. Depois de quatro anos percorrendo os oceanos, o projeto francês Tara Oceans, que contou com a participação de 160 pesquisadores de 40 nacionalidades, publica o resultado da expedição na capa da revista Science. A ambiciosa viagem, inspirada nas grandes jornadas de descobertas científicas do século 19, trouxe à luz, de forma detalhada, uma parte fundamental da população marinha. O banco de dados, que ficará disponível a quem se interessar, traz a maior sequência de DNA oceânico já realizada: 40 milhões de genes ; a maior parte desconhecida até então ; presentes em mais de 35 mil diferentes espécies.

;É como chegar a um planeta novo;, compara o professor do Departamento de Hidrobiologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) Hugo Sarmento, coautor de um dos cinco artigos sobre o trabalho publicados na Science. Radicado no Brasil, o português de nascença trabalhava no Instituto de Ciências Marinhas de Barcelona quando participou da expedição, ficando um mês a bordo do veleiro Tara. Nesse período, Sarmento era o responsável pela coleta e pela análise das bactérias, seres que, além de integrar a cadeia alimentar oceânica, desempenham diversas funções metabólicas e estão presentes em um número assustadoramente grande: até 10 bilhões por litro d;água.

No total, a ;filtragem; do mar capturou 35 mil amostras de seres que formam o plâncton, ou seja, os pequenos organismos que flutuam nas camadas mais superficiais de mares, rios e lagos. Trata-se de um conjunto quase todo microscópico, mas de importância imensurável para a vida no planeta. ;As pessoas imaginam que o oxigênio é produzido na atmosfera, mas mais da metade do oxigênio vem do plâncton;, observa Sarmento. Além disso, esses pequenos seres capturam carbono, influenciam no clima e alimentam peixes e grandes mamíferos aquáticos, fazendo deles um verdadeiro termômetro das mudanças climáticas induzidas pela atividade humana.

;Nos últimos três séculos, a biologia e a ecologia se focaram muito tanto em organismos grandes, como plantas e animais, quanto em pequenos micróbios, bactérias e vírus terrestres, negligenciando os outros espectros da vida, que sabemos ter um grande valor para o planeta;, ressaltou, em uma coletiva de imprensa, o biólogo Colomban de Vargas. Ele é pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, sigla em francês), principal financiador do projeto. Contudo, a biosfera é muito mais rica do que jamais se imaginou, e o veleiro Tara conseguiu provar isso. ;Estimamos que o plâncton contenha cerca de 150 mil seres de tipos genéticos distintos, o que é muito maior que as 11 mil espécies descritas até hoje. A grande maioria deles vem de organismos desconhecidos. De fato, cerca de dois terços dessa diversidade não pertencem a plantas ou a animais, mas a esses seres muito particulares;, observou.

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