Ciência e Saúde

Remédio de leucemia com glúbulos vermelhos prolonga tratamento

Cientistas descobrem que a combinação consegue fazer com que o organismo do paciente deixe de tratá-lo como um invasor

Vilhena Soares
postado em 18/07/2015 08:00

Os medicamentos são uma das principais armas no combate a doenças. Mas muitos perdem eficácia ao longo do tratamento porque começam a ser interpretados pelo corpo como uma ameaça. Para driblar essa defesa do organismo e garantir o poder dos remédios, um grupo de cientistas internacionais sugere a combinação das drogas com glóbulos vermelhos humanos, fazendo, assim, com que elas deixem de ser interpretadas como corpos estranhos.

Detalhada na edição de hoje da revista Science Advances, a técnica foi testada em ratos com uma droga usada para tratar a leucemia linfoblástica aguda, o câncer mais frequente nas crianças. Os cientistas disfarçaram a L-asparaginase nos glóbulos vermelhos e aplicaram nas cobaias uma única vez. A combinação aumentou a ação do medicamento na corrente sanguínea dos roedores.

;Nós demonstramos que a ligação da enzima L-asparaginase a eritrócitos (glóbulos vermelhos) anula o desenvolvimento de anticorpos do medicamento e estende-se a um efeito da droga de 10 vezes em ratinhos;, destacam os pesquisadores no estudo divulgado. A equipe foi liderada por Jeffrey Hubbell, cientista do Instituto de Engenharia Molecular da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos.

A L-asparaginase é usada sozinha para tratar a leucemia linfoblástica aguda há mais de 40 anos. Paulo Henrique Soares, hematologista do Hospital Santa Luzia, em Brasília, conta que, no início, o efeito dela progredia com o tempo. ;Agora, o sistema imune a interpreta como proteína invasora, mas a nova técnica permite driblar esse efeito.; O especialista explica que algumas classes de remédio são proteínas, maiores que substâncias como as aspirinas, um tipo de ácido. Por isso são mais facilmente identificadas como estranhas. ;Assim como uma proteína alimentar, que provoca alergias;, compara.

Dose única

Os pesquisadores acreditam que os resultados são ainda mais positivos devido à quantidade de doses aplicadas: apenas uma. Isso dá mais segurança ao tratamento, já que o risco de resistência do corpo à bactéria ; que tem a sua enzima presente, mesmo que com o glóbulo vermelho ; aumenta com a injeção de mais remédio.

Soares também ressalta essa vantagem. ;Como o aumento da dose não é necessário, impede uma toxicidade causada pelo excesso da droga. Com certeza, esse ganho seria muito útil se, futuramente, for possível usar a mesma técnica para outros medicamentos;, avalia o hematologista.

Andre Murad, oncologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), conta que outras técnicas com inspiração parecida já foram testadas, mas falharam porque os desenvolvedores escolherem alternativas caras e trabalhosas. ;Esta é mais barata. Um conjugado com glóbulos vermelhos é algo simples e que pode funcionar para diversos outros remédios que apresentam o mesmo tipo de problema;, ressalta.

Os participantes do estudo também acreditam que, caso o mesmo efeito seja reproduzido em humanos, há a possibilidade de a técnica ser usada no combate a mais doenças. ;Essa estratégia para reduzir respostas humorais (imunológicas) específicas pode ser mais eficaz e segura para o tratamento com proteínas terapêuticas e candidatos a fármacos que são prejudicados pela imunogenicidade (reação do sistema imunológico);, escreveram.

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