Paloma Oliveto
postado em 23/08/2015 08:00
;No princípio, o mundo todo era América;
Um paraíso intocado, habitado por pequenos agrupamentos de gentis homens que, passivamente, tomavam da natureza apenas o que lhes era oferecido. Assim pareceu a Amazônia brasileira pré-colombiana aos olhos do mundo ; uma visão que, ainda hoje, é predominante. Mas essa história está sendo recontada pela própria floresta que, explorada por cientistas de diversas áreas do conhecimento, traz à luz pistas sobre um passado muito mais complexo do que sugere a imagem tradicional.
Achados arqueológicos, antropológicos, botânicos e geológicos, nas últimas décadas, reescrevem a história da ocupação amazônica antes da chegada dos europeus. Um apanhado dessas pesquisas foi publicado recentemente na Proceedings B, revista da Sociedade Real da Inglaterra. No texto, cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Embrapa Solos, da Universidade de São Paulo (USP) e de instituições estrangeiras sugerem que, no período pré-colombiano, a região era um grande centro de domesticação de grãos, habitada por pelo menos 8 milhões de pessoas que não apenas manejavam os recursos naturais, como se organizavam em sociedades complexas.
O arqueólogo Eduardo G. Neves, pesquisador do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e um dos autores do artigo, explica que a imagem de uma Amazônia inviolada, povoada por caçadores-coletores, foi desenhada nos séculos 18 e 19, quando os índios haviam sofrido o impacto da colonização portuguesa. Os primeiros relatos da região datam ainda do século 16 e foram elaborados por cronistas espanhóis que visitaram essa parte do novo mundo em expedições comandadas pelo Reino da Espanha. Nesses registros ; especialmente os saídos da pena do frade dominicano Gaspar de Carvajal ;, o cenário amazônico é bem diferente daquele que, mais tarde, vai dominar o imaginário.
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