Ciência e Saúde

Estudo de cientistas canadenses sugere o controle da asma pelo intestino

Cientistas do Canadá descobrem que a carência de quatro bactérias na microbiota de bebês aumenta o risco de surgimento da doença respiratória. Eles sugerem a recolonização das vísceras com os micróbios

Paloma Oliveto
postado em 01/10/2015 06:03
No mundo moderno, a limpeza é uma obsessão. Com tantos produtos nas gôndolas dos supermercados, é fácil encher o carrinho de sabonetes antimicrobianos, escovões que retiram a mais escondida das poeiras, rolinhos adesivos que não deixam passar um fio de pelo de cachorro. Sem falar nos purificadores de ar, protetores antiácaro de sofá e colchão, travesseiros especiais... Ainda assim, 300 milhões de pessoas ao redor do planeta sofrem de asma. E esse número está aumentando ; especialmente nos países desenvolvidos.

Nas nações em desenvolvimento e nas de baixa renda, onde o parto normal é mais comum que a cesária, os bebês se alimentam exclusivamente de leite materno, e a preocupação com substâncias antimicrobianas não é tão grande, porém os casos de asma estão estáveis. Essa foi uma das pistas que levou um grupo de pesquisadores a desconfiar que a exposição precoce a bactérias que entram no organismo por diversas vias e migram para o intestino influenciaria na proteção contra a doença respiratória. Depois de dois estudos ; um com humanos e outro com ratos ;, eles viram que estavam certos.



Níveis mais baixos de quatro tipos de bactérias benéficas que colonizam o cólon estão associados ao risco de desenvolver a inflamação das vias respiratórias, afirmam, na edição de hoje da revista Science Translational Medicine, cientistas da Universidade de British Columbia, no Canadá. A descoberta é importante porque abre caminho para uma abordagem terapêutica inédita contra a asma: ao recolonizar o intestino com os micro-organismos deficitários, evitaram-se a doença e a propagação dela para a descendência.

Contágio benéfico
O corpo humano é um repositório de bactérias boas e más. No intestino, um adulto pode carregar por volta de 1kg de micróbios ; parte deles é fundamental ao funcionamento correto do órgão e do sistema imunológico em geral. A exposição bacteriana começa cedo. No parto normal, a passagem do bebê pelo canal vaginal o retira de um ambiente estéril e o coloca em contato, pela primeira vez, com uma grande quantidade de micro-organismos presentes no corpo da mãe.

O aleitamento materno é outra importante fonte de probióticos: ao menos, 700 tipos são passados pelo leite. Ao se optar pela cesária e incluir o leite em pó muito cedo na alimentação da criança, priva-se ela das bactérias benéficas. Contudo, excesso de antibióticos e de produtos de higiene e limpeza antibacterianos também coloca, ao longo da vida, uma barreira entre o organismo e os micróbios do bem.

De acordo com os autores do artigo, a chamada hipótese da microflora sugere que a microbiota intestinal é a ligação entre fatores ambientais e sistema imunológico. ;Estudos recentes identificaram a microbiota do intestino como um alvo terapêutico em potencial na prevenção de asma e de doenças atópicas. Há evidências em ratos e em humanos de uma janela crítica no início da vida na qual os efeitos do desequilíbrio da flora intestinal têm grande influência no desenvolvimento imunológico;, escreveram. Há pouco tempo, o mesmo grupo canadense demonstrou, em camundongos, que o tratamento de recém-nascidos com antibiótico exacerba a inflamação das vias aéreas em um processo que envolve a produção excessiva, no intestino, de células de defesa.

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