Ciência e Saúde

Estudo japonês vincula sonolência durante o dia a risco maior de diabetes

postado em 02/10/2015 06:04

Dormir pouco é uma característica típica da modernidade, marcada também por um estilo de vida cada vez mais acelerado dentro e fora de casa. Cientistas têm observado, no entanto, que o hábito de fechar os olhos por menos de oito horas durante a noite aumenta o risco de desenvolver ou agravar o diabetes tipo 2, além de problemas cardiovasculares e neurológicos. Um estudo da Universidade de Tóquio, no Japão, mostra que pessoas com sonolência excessiva durante o dia e que tiram cochilos por horas apresentam mais chances de ter a complicação metabólica, ao contrário de quem se contenta com sonecas de até 30 minutos.

;Essa sonolência e esses longos cochilos podem ser consequência de distúrbios do sono durante a noite, como a apneia obstrutiva do sono;, explica o especialista em epidemiologia e doenças metabólicas Tomohide Yamada, líder da pesquisa japonesa, que foi detalhada, no mês passado, no encontro da Associação Europeia para o Estudo da Diabetes (EASD, na sigla em inglês). Ele e a equipe fizeram uma meta-análise para investigar a relação entre sonolência diurna e/ou cochilos e o risco de desencadeamento do diabetes tipo 2. A pesquisa considerou três bases internacionais de publicações científicas ; Medline, Cochrane Library e Web of Science ; e foram selecionados artigos publicados a partir de novembro de 2014.

Dos 683 estudos identificados, 10 se enquadraram nos critérios estabelecidos por eles para o estudo aprofundado. As pesquisas selecionadas foram realizadas na Suíça, na China, na Espanha, na Alemanha, nos Estados Unidos e na Finlândia. A análise mostrou que o risco de diabetes tipo 2 era aumentado em 56% entre aqueles que sofriam sonolência durante o dia. Para quem afirmou tirar cochilos longos, o incremento foi de 46%. Os autores concluíram que cochilos curtos, de meia hora, não apresentam riscos para a doença metabólica.

Yamada alerta, porém, que ainda não é possível estabelecer uma relação de causa entre problemas de sono e diabetes. ;A sonolência excessiva e os cochilos longos podem ser apenas algumas marcas dessa doença, ainda não há uma evidência da causa;, ressaltou o pesquisador em entrevista ao Correio. Há, no entanto, outros estudos que chegaram à mesma conclusão.

Especialista em endocrinologia e diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes, Antônio Carlos Lerário acredita que as complicações noturnas e as consequências delas ao longo do dia possam ser, na verdade, mais um fator atrelado ao desenvolvimento de doenças. ;Os distúrbios do sono podem ser fatores de risco comuns de alguns males, mas não são os únicos. Existem também a genética, a falta de exercícios, o estresse, a má alimentação, tudo isso pode levar ao diabetes e a outros prejuízos à saúde;, ressalta.

A especialista em medicina do sono Luciane Mello, do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro, complementa: ;Há indícios de que cochilos prolongados estão associados ao risco de desenvolver doenças cardiovasculares, mas existem várias condições para essas doenças. O hábito de dormir pouco nem sempre é determinante;. Lerário considera importante que haja mais pesquisas para identificar, de forma detalhada, como o sono pode provocar prejuízos graves ao organismo. ;Ainda é confuso, difícil, separar uma coisa da outra. Por que um indivíduo aumentou a taxa de glicemia? Por ele estar obeso ou por dormir mal? Essa obesidade causou apneia do sono, ou o contrário? Algumas pessoas têm apneia e não têm diabetes. Não foi explicado o que desencadeia o quê;, observa.

Mesmo sem consenso, a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta outro indício para a ligação entre o sono e o desencadeamento de doenças. ;Ocorre durante o sono uma limpeza de toxinas que se acumulam no cérebro. Sem ele, o acúmulo é maior. Por isso, dormir alivia os sintomas da enxaqueca e o Alzheimer, por exemplo;, explica. ;No mundo moderno, com tantas pressões sociais, respeitar a necessidade de repouso é importante. Quem tenta dormir o quanto quer e não consegue, ou acorda no meio da noite sem sono, precisa procurar auxílio médico;, recomenda.

Defesa em alerta
O que acontece com o corpo quando ele está em repouso intriga e move pesquisadores pelo mundo. Uma das descobertas é de que não há tanta inatividade assim; ao contrário, diversos mecanismos são acionados durante o período, como a liberação de hormônios, a consolidação do aprendizado e até mesmo a criação de uma memória imunológica. Um artigo publicado no último dia 30, na revista Trends of Neurosciences, segue essa última linha. Segundo o estudo alemão, no sono profundo, o sistema imunológico, responsável pelo combate de bactérias e vírus, faz uma espécie de arquivo com características desses invasores para identificá-los em uma próxima infecção.

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