Ciência e Saúde

Estudo identifica depressão em homens durante o fim da gravidez da parceira

Falta de ânimo e insatisfação com a família estão entre as principais queixas

Vilhena Soares
postado em 11/10/2015 08:05





Um turbilhão fisiológico acompanhado por mudanças emocionais. Não bastassem as alterações no corpo causadas pela gravidez, as mulheres podem ser acometidas por desânimo e depressão durante e após o parto. Não só elas. Cientistas do Canadá asseguram que os homens vivem as mesmas experiências. Ao analisar o perfil de futuros pais do fim da gestação aos primeiros meses de vida dos filhos, a equipe observou que eles também enfrentam problemas, como dificuldade para dormir e abatimento. Os resultados foram divulgados na edição mais recente do American Journal of Men;s Health.

Deborah Da Costa, professora adjunta do Departamento de Medicina da Universidade McGill e autora principal do trabalho, conta que decidiu investigar o tema a partir de reflexões que surgiram em pesquisas sobre saúde mental que conduz desde 1995. ;Elas mostram a importância do apoio do pai como um protetor para as mães em termos de desenvolvimento de depressão durante a gravidez e o pós-parto. Então, me perguntei se existiriam fatores que serviriam como barreira para as novas famílias em termos de apoio.; A especialista também notou falta de informações sobre o tema. ;Busquei na literatura científica e percebi que não existem muitos estudos voltados para depressão em novos pais;, completa.

O experimento realizado por Costa e a equipe contou com a participação de 622 homens durante um ano e meio ; desde o terceiro trimestre da gravidez da parceira até o filho completar 1 ano. Os participantes responderam a questionários que mediram fatores determinantes de depressão, como humor, prática de atividade física, qualidade de sono e estresse. Os pesquisadores descobriram que 13,3% dos pais apresentaram níveis elevados de sintomas depressivos. Entre as principais queixas, estavam problemas de sono, baixo apoio social e menos satisfação na relação com a parceira.

Para Marco Antônio Brasil, chefe do Serviço de Psiquiatria do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo indica a existência de um desgaste gerado pela expectativa em torno da gravidez. ;É importante enfatizar que qualquer situação de estresse atua como um fator influenciador da depressão, mesmo quando ela faz parte de algo positivo que está prestes a acontecer, como um casamento ou uma promoção;, explica.

Brasil acredita que a preocupação ligada à responsabilidade em decorrência do nascimento de um bebê seja o maior agravante aos sintomas detectados pelos canadenses. ;O pai passa por um momento de estresse. Há a dúvida se a criança vai nascer bem, se ele vai ter condições de provê-la;, diz. ;Além disso, pode se sentir meio à parte, excluído do processo, não só durante a gravidez, como depois do parto também. Ele pode achar que sua presença é secundária.;

Tratamento
A boa notícia é que, segundo os pesquisadores, a maioria dos casos de depressão detectada nos participantes podia ser tratada sem grandes dificuldades. ;Táticas para melhorar o sono, gestão do estresse, aumento do apoio social e definição de estratégias adaptativa para o casal, como dividir os trabalhos e melhorar a comunicação, fazem parte de uma intervenção sob medida para pais em risco;, sugere Costa.

A autora também frisa que tratar os homens é importante não só para a saúde deles, mas de toda a família. ;Filhos de pais deprimidos são afetados emocionalmente, socialmente e cognitivamente. Precisamos entender melhor quais os fatores que contribuem para a depressão em homens e em mulheres durante esse período e usar essas provas para desenvolver e avaliar estratégias que evitem dificuldades emocionais, principalmente em casais de primeira viagem;, defende.

Mario Pereira, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Campinas (Unicamp), destaca a importância de o homem se convencer de que haverá mudança na rotina e na relação com a parceira antes mesmo do início da gestação. ;Ele precisa estar preparado para o risco de ser ;colocado de lado; e entender que pode ficar na periferia, mas para dar suporte à mãe e ao bebê. Em situações normais, não há razões para sofrer com a falta de atenção;, destaca.

Segundo Pereira, o ponto alto do estudo canadense é chamar a atenção para o fato de que as consequências da depressão pós-parto podem ser ainda mais preocupantes do que o imaginado. Daí, segundo ele, a importância de pensar em abordagens de prevenção que envolvam toda a família. ;Esse estudo toca em uma questão que é pouco lembrada. Quando pensamos nesse tipo de transtorno, achamos que ele só ocorre com as mulheres e esquecemos que os homens podem sofrer dele também. A depressão acaba sendo vista, nesse momento, como uma questão apenas biológica, ligada só à mãe. Mas toda a experiência envolve o casal;, explica.

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