Ciência e Saúde

Pesquisadores publicam primeiro grande estudo sobre Plutão e suas luas

Os dados, colhidos pela sonda New Horizons, revelam um corpo celeste com geologia dinâmica e rico em gelo e nitrogênio líquido

Roberta Machado
postado em 16/10/2015 06:05

Plutão captado pelas lentes da sonda espacial New Horizons: variedade de cores é sinal da diversidade geológica existente no objeto

Pouco mais de três meses após a passagem da sonda New Horizons por Plutão ; o corpo celeste que já teve o status de nono planeta do Sistema Solar ;, os primeiros dados colhidos pelos instrumentos científicos da espaçonave começam a ser conhecidos na Terra. As imagens e medições descrevem o objeto como sendo rico em gelo e bastante irregular, marcado por valas, montes e planícies de origem ainda inexplicada. Plutão e suas luas, cuja idade é especulada em mais de 4 bilhões de anos, são mais dinâmicos do que se pensava, e parecem manter ativo algum tipo de atividade geológica que guarda importantes pistas sobre a formação do Sol e dos corpos que o orbitam.

Os primeiros resultados científicos da missão, lançada em 2006, aparecem na edição desta semana da revista Science. No artigo, os pesquisadores descrevem impressões baseadas nos dados preliminares enviados pela New Horizons desde que chegou à vizinhança do planeta-anão, em 14 de julho. A sonda deve continuar fornecendo informações sobre as medições que fez a 13 mil quilômetros de distância do centro do astro até o fim do ano que vem. Os sete instrumentos da sonda produziram mais de 50 gigabites de dados, que precisam ser selecionados e enviados em ordem numa transmissão que demora cinco horas. As fotos de maior qualidade, com resolução de 70 metros por pixel, devem chegar no mês que vem.

Revelações surpreendentes, contudo, já foram fornecidas pelo conjunto de dados inicial. ;Ficamos muito surpresos pelo nível de complexidade e pelo fato de que Plutão é atualmente geologicamente ativo. Isso é algo inesperado e que está revolucionando a nossa compreensão geofísica dos planetas;, comentou Alan Stern, principal cientista da missão New Horizons. Stern começou a trabalhar para o envio de uma sonda ao plantea-anão no fim da década de 1980 e comemora os frutos colhidos depois de quase três décadas de investimento científico. ;É muito gratificante ter realizado essa exploração e ter os dados agora, para realmente começar a explorar Plutão e seu sistema de satélites;, afirmou.

Outra surpresa que empolgou os cientistas são misteriosas formações que cobrem a superfície do objeto. Chamam a atenção nas imagens estruturas similares a geleiras encontradas na Terra, flutuando sobre um mar de nitrogênio líquido. ;(O nitrogênio) pode estar percorrendo através da crosta de gelo e ele poderia, talvez, abrir caminho no terreno e levar ao deslocamento dos blocos de crosta;, apontou, em entrevista à própria Science, Jeff Moore, cientista da missão no Centro de Pesquisa Ames, da Nasa. De acordo com ele, dados mais detalhados da topografia do planeta devem chegar em breve, e indicar com precisão se Plutão tem mesmo ondas aquecidas de nitrogênio líquido no seu interior.

Heterogênea
As análises indicam que, além de gelo e nitrogênio, há metano, monóxido de carbono e compostos orgânicos distribuídos de forma bastante irregular. ;Sabíamos que a superfície de Plutão era heterogênea, com base nos dados colhidos daqui. No entanto, eu fiquei impressionada em ver uma superfície de cor tão espetacular e essa diversidade geológica;, ressaltou, por meio de um comunicado, a astrônoma Silvia Protopapa, da Universidade de Maryland, que também assina o artigo da Science.

A variedade da composição da superfície de Plutão revela ainda que o objeto passou por processos como erosão que renovaram sua crosta. A ausência de crateras nessas regiões indica que a mudança geológica é recente ; o que, em termos do Cosmos, pode significar algo entre centenas de milhões de anos no passado e o tempo presente. ;Isso quer dizer que algum processo está renovando a superfície, como ocorre na Terra e em outros objetos do Sistema Solar. O problema é que esses objetos estão muito distantes, e não é muito claro qual seria a fonte de energia capaz de causar essa renovação da superfície;, avaliou Jorge Márcio Carvano, pesquisador do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro.

As análises indicam também que a pressão atmosférica é mais baixa do que esperavam os especialistas, cerca de 100 mil vezes menor do que a da Terra. Isso indica que os ventos que varrem o planeta-anão são, na verdade, bastante fracos, o que levanta ainda mais questões sobre o processo que poderia ter levado à formação de montanhas. Os cientistas acreditam que, no passado, quando Plutão orbitava por regiões mais quentes do Sistema Solar, o cenário possa ter sido diferente, semelhante ao encontrado hoje em Marte, talvez com um ar dinâmico o suficiente para causar a modificação do terreno. Atualmente, é possível notar uma névoa de etileno, acetileno e outras moléculas cobrindo o planeta, mas os dados indicam que a camada de gás que cerca o objeto acabará se congelando nos próximos anos.

Satélites
Os dados colhidos pela New Horizons também revelaram uma semelhança entre o planeta-anão e seu maior satélite, Caronte. Isso indica que os dois objetos têm uma origem semelhante, o que fornece pistas sobre o processo que levou à formação da Lua terrestre. Nos dois casos, os pesquisadores acreditam que os satélites tenham sido formados a partir da colisão de um objeto com o planeta. Assim como Plutão, Caronte é complexa e apresenta depressões geográficas e evidências de atividades tectônicas. O satélite se destaca, no entanto, por um Polo Norte coberto por um material escuro, de origem ainda desconhecida.

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