Ciência e Saúde

Zika não tem vez entre os pernilongos, mostra pesquisa da Fiocruz

O vírus até existe em algumas muriçocas, mas ele estaciona dentro delas e não consegue ser transmitido para humanos

Paloma Oliveto
postado em 07/09/2016 06:00

O vírus até existe em algumas muriçocas, mas ele estaciona dentro delas e não consegue ser transmitido para humanos


Quando a epidemia de zika explodiu pelo país, foi lançada a suspeita de que, além do Aedes aegypti ; o vetor da dengue, da febre amarela e do chikungunha ;, o pernilongo, o Culex quinquefasciatus, transmitiria o vírus. Em junho, a teoria ganhou força com a identificação, no Recife, de muriçocas contendo partículas do micro-organismo. Contudo, agora, uma nova pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) com colaboração do Instituto Pasteur de Paris exclui a possibilidade de o zika ser disseminado pelo mosquitinho comum.

De acordo com os autores do trabalho, publicado na revista Plos Neglected Tropical Diseases, o pernilongo pode até conter material genético viral, mas é incapaz de transmiti-lo a outros animais, incluindo o homem. Para eles, a principal mensagem do estudo é que as políticas de controle e prevenção de zika devem se concentrar no Aedes. ;O controle do culex se faz com o uso de inseticidas, que devem ser espalhados amplamente ao ar livre, nos locais de reprodução. Esse não é o caso do Aedes aegypti, que se reproduz em ambientes domésticos pequenos e limpos. Apenas remover esses criadouros ajuda a diminuir a densidade de mosquitos;, compara Anna-Bella Failloux, pesquisadora do Instituto Pasteur de Paris.

A cientista lembra que a constatação feita agora em relação ao Culex quinquefasciatus também vale para o Culex pipiens, subgênero do pernilongo, encontrado em países como Estados Unidos, França e Uruguai. Neste mês, outro estudo do Instituto Pasteur e do IOC/Fiocruz, publicado na revista Eurosurveillance, evidenciou que amostras do C. quinquefasciatus coletadas na Califórnia e do C. pipiens provenientes da Tunísia também não transmitem o zika. Na mesma edição da revista, um estudo italiano com as muriçocas C. pipiens chegou à mesma conclusão.

No Brasil, os cientistas da Fiocruz e do Instituto Pasteur usaram abordagens semelhantes para testar duas linhagens do zika circulantes no Rio de Janeiro. Eles coletaram ovos e larvas do Culex quinquefasciatus em quatro bairros (Manguinhos e Triagem, na zona norte; Jacarepaguá, na zona oeste; e Copacabana, na zona sul) entre janeiro e março e levaram o material para o Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC/Fiocruz. Quando os insetos alcançaram a fase adulta, foram alimentados com sangue de dois pacientes humanos infectados pelo zika.

Mil testes
O chefe do laboratório e coordenador do estudo, Ricardo Lourenço, explica que, quando o vírus entra no organismo do mosquito, vai direto para o estômago, de onde se dissemina pela corrente sanguínea até chegar à saliva do inseto. Os cientistas fizeram mais de mil testes com os pernilongos sete, 14 e 21 dias após a ingestão do sangue contaminado, analisando o abdômen/tórax (onde ficam o estômago e as glândulas salivares), a cabeça (para verificar se o vírus havia se disseminado) e a saliva (que é o fluido pelo qual o zika é transmitido, quando o mosquito dá a picada).

;Nenhum dos mosquitos coletados nesses quatro lugares do Rio foi capaz de transmitir o zika;, afirma Lourenço. Em apenas dois, provenientes de Manguinhos e Triagem, os pesquisadores encontraram partículas virais ; ainda assim, elas não haviam se disseminado pela corrente sanguínea dos insetos. ;Depois, inoculamos diretamente no abdômen dos mosquitos milhões de partículas virais e, mesmo assim, eles não foram infectados;, relata o cientista.

O que aconteceu é que, embora o vírus tenha chegado ao organismo do Culex quinquefasciatus ; seja pela ingestão do sangue infectado, seja pela inoculação direta do zika no corpo do mosquito ;, o micro-organismo não saiu do estômago e, consequentemente, ficou incapaz de migrar até a saliva, onde é feita a transmissão. Para fins de comparação, os cientistas fizeram testes idênticos com exemplares do Aedes aegypti coletados na Urca (zona sul) e na Ilha de Paquetá (Baía de Guanabara). Dessa vez, até 97% dos insetos ficaram infectados, com presença do vírus na saliva, indicando alto potencial de transmissão do zika.

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