Ciência e Saúde

Estudo mostra que opinião de especialistas sobre arte influencia apreciação

O valor financeiro atribuído a ela influencia na forma como as pessoas a apreciam

Vilhena Soares
postado em 18/12/2016 08:01
Oscar Wilde define a arte como a forma mais intensa de individualismo que o mundo conhece. A singularidade é emitida pelo artista, destaca o dramaturgo irlandês. Mas a opinião dos apreciadores pode ser influenciada por terceiros, segundo estudo conduzido por cientistas austríacos. Os pesquisadores analisaram a opinião de um grupo de voluntários sobre obras de arte e descobriram que eles eram afetados pelo ponto de vista de especialistas e pelo valor monetário dos trabalhos ao fazerem as próprias avaliações. Para os investigadores, a constatação confirma teorias sobre influência social levantadas por sociólogos e filósofos.

Os autores basearam-se em pesquisas na área artística e sociológica em que especialistas tratam a opinião artística como uma questão passível de influências externas. ;Vários pensadores argumentam que as pessoas geralmente procuram a arte para se unir ou se excluir de grupos sociais. Isso sugere que, em se tratando de arte, o nosso gosto não é completamente pessoal ou objetivo, pode mudar dependendo do contexto social. No entanto, isso ainda não tinha sido testado empiricamente;, explica ao Correio Matthew Pelowski, um dos autores do estudo e pesquisador da Faculdade de Psicologia da Universidade de Viena, na Áustria.

No experimento, um grupo de voluntários tinha que avaliar uma série de pinturas de acordo com o seu prazer pessoal. Antes da apresentação, porém, eles foram informados que alguns grupos sociais haviam avaliado as obras anteriormente: colegas universitários, peritos (curadores) e jovens que largaram a faculdade e estavam sem trabalhar. ;Os resultados mostram que, quando os participantes pensavam que os especialistas ou os colegas de faculdade gostavam de uma pintura, eles também gostavam;, conta Pelowski. ;No entanto, quando eles pensavam que os desempregados não gostavam de uma pintura, os participantes foram na direção oposta e disseram que gostavam mais;, completa o autor.

Em uma segunda etapa, os pesquisadores mostraram aos voluntários o preço fictício de venda de uma pintura em um leilão de arte, o que também mudou significativamente a forma como eles definiram seu posicionamento diante da peça. Preços muito baixos deixaram os participantes menos interessados e admirados pela obra, preços muito altos provocaram o efeito contrário. Segundo a equipe de investigadores, as constatações mostram como a arte pode ser usada para demonstrar tipos de afinidade em grupos sociais. ;Esses resultados fornecem apoio empírico para uma teoria de distinção social introduzida pelo sociólogo e filósofo francês Pierre Bourdieu. A forma como usamos a nossa avaliação e o nosso engajamento com a arte pode demonstrar lealdade aos grupos sociais desejáveis;, destaca Pelowski.


Influência social


Fábio de Cristo, professor do Centro Universitário Uniceub, ressalta que o trabalho austríaco também vai ao encontro de teorias da psicologia. ;Trabalho com psicologia social e muitos estudos dessa área vão nessa direção, de tentar entender de que forma as pessoas podem mudar o seu comportamento. Chamamos isso de influência social. O que foi observado nesse experimento também pode ser visto em outros contextos, como no trânsito, onde o que outros motoristas ou pedestres fazem pode afetar as suas ações;, ilustra.

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