Exportação - PME

Welber Barral: nichos de mercado abrem oportunidades a empresas

Alimentos processados são uma das áreas em que o Brasil tem competitividade, diz ex-secretário de Comércio Exterior

postado em 28/11/2017 06:00
Barral: gargalos como burocracia e sistema tributário complexo mostram que o Brasil não é para principiantes

O empresário de pequeno ou médio portes que queira vender no exterior deve priorizar a busca de nichos de mercado, com projetos estruturados. No momento, há demanda de calçados de alto valor na China e de alimentos processados nos países árabes. Algumas empresas de tecnologia da informação (TI) estão entrando na União Europeia, outras, vendendo tecnologia na América Latina. Os exemplos foram citados pelo ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral no evento Correio Debate: Pequenas e Médias Empresas ; O Caminho para a Exportação.

Consultor requisitado, especialmente sobre negócios com a China, Barral aponta alimentos processados como uma das áreas em que, dificilmente, o Brasil tem concorrência. ;Claro que o ciclo é longo, você precisa certificar o produto, registrar a marca, ter um representante, um canal de distribuição, calcular os custos. Dá trabalho. Mas quando falamos de competitividade, sem grandes esforços de marketing, é em alimentos processados que o Brasil tem competitividade natural;, afirma.

Para Barral, a exportação compensa, mas há uma longa lista de entraves que atrapalham as empresas. ;O Brasil não é para principiantes;, cita, parafraseando Tom Jobim. ;É um país em que é difícil fazer negócios, em qualquer área.; Sócio da BarralMJorge Consultores, ele critica a ausência de planejamento estratégico, numa política de longo prazo para o comércio exterior, lembrando que ;o Brasil ainda é um país muito fechado;.

Intervencionismo exagerado, burocracia muito grande, sistema tributário que é o pior do mundo. A lista de obstáculos começa, mas não acaba nesses três itens, destaca Barral. Um gargalo de peso é o fato de o Brasil ter os mais altos custos da América Latina para o transporte de mercadorias, da origem até o ponto de saída para a exportação. Além do crédito escasso e caro, que a pequena empresa não tem condições de tomar, ou ao qual, simplesmente, não tem acesso. Somam-se a isso deficiências tecnológicas, procedimentos gravosos, barreiras tarifárias e regras instáveis, incluindo a corrupção.

Desafios
Segundo Barral, não bastasse a situação política ;instável; do país, que pode travar investimentos e impedir medidas econômicas para favorecer o setor, o comércio internacional tem cara nova. Integração econômica e mudanças tecnológicas, como o e-commerce, desafiam paradigmas estabelecidos há muito tempo. ;Há várias mudanças de integração econômicas e tecnológicas que desafiam tudo o que nós conhecemos;, afirma. Hoje, por exemplo, grande parte dos negócios se faz nas chamadas cadeias globais de valor, cadeias de integração produtiva em que um produto tem peças provenientes de centenas de outros países. A relevância crescente do comércio eletrônico e ganhos de competitividade por meio de logística eficiente são outros fatores.

Há um fenômeno chamado ;servicificação; da produção industrial. Com isso, serviços de logística, design, marketing, publicidade, transporte e financiamento têm cada vez mais valor para o produto final da indústria, explicou. O efeito principal dessa mudança é que ;não existe mais mercado local. A concorrência, agora, é global;, diz o ex-secretário de Comércio Exterior.

Apesar de toda essa modernidade, no Brasil ;continua se discutindo como é que tira os impostos da exportação;. Barral vê o risco de um atraso enorme ao país, provocado pelo período eleitoral em 2018. ;A história está se acelerando muito. Os avanços tecnológicos se apresentam em uma conjuntura em que há diminuição no crescimento do comércio mundial e riscos de aumento do protecionismo;, assinala.

O especialista diz que pequenas e médias empresas devem exigir das autoridades um sistema tributário ;mais simples e racional;. Também devem buscar a redução de custos logísticos, além de maior acesso ao crédito. ;Eu vi uma situação, outro dia, em que uma empresa brasileira ganhou uma licitação lá fora, foi buscar financiamento e o banco disse que ela deveria depositar R$ 10 milhões, aí abriria para ela um crédito de R$ 10 milhões;, conta.

É preciso ainda ter ;persistência de longo prazo;, diz o consultor. Isso significa que não se deve abandonar o que foi conquistado lá fora em função do mais conhecido, que é o mercado interno. ;Nos últimos três anos, vi empresa desesperada para exportar. Agora, a situação começa a melhorar internamente e poucas têm um projeto de exportação de, no mínimo, três anos;, comenta.

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