Exportação - PME

China precisa ser vista como aliada, não como rival

Lia destaca que a China consegue concorrer em todos os nichos: tanto exportando itens de baixo teor tecnológico como também na área de produtos de alta intensidade tecnológica

postado em 28/11/2017 06:00
Em vez de espernear e acusar os chineses de concorrência desleal, o empresário brasileiro deveria cuidar melhor de seus produtos exportáveis e pressionar o governo por uma política focada no comércio exterior. Com planejamento, diagnósticos, crédito, incentivos fiscais, definição de prioridades e, sobretudo, articulação. ;Não é batendo de frente com a China que vai nos ajudar a ganhar. É fazendo parcerias;, diz a especialista em negócios com os chineses, Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV-Rio).

;Eles sabem muito bem o que estão fazendo, sabem onde querem investir e têm projetos para 150 anos. Nós não sabemos;, detalha outro especialista em China, Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior. ;Não adianta criticá-los, porque eles têm planejamento;, continua ele.

Durante o Correio Debate, os especialistas foram questionados pela plateia sobre como o empresário brasileiro poderia ;superar a concorrência da China, onde a indústria é movida por trabalho escravo;. ;Não acho que a competitividade chinesa seja resumida a uma questão de mão de obra barata. Até porque, o preço da mão de obra na China está aumentando;, diz Lia, explicando que já visitou o país asiático várias vezes. ;Eu trabalho muito com os chineses e acho um pouco forte falar de trabalho escravo. Não tem trabalho escravo na China. Senão, vamos dizer que aqui no Brasil também tem.;

Lia destaca que a China consegue concorrer em todos os nichos: tanto exportando itens de baixo teor tecnológico como também na área de produtos de alta intensidade tecnológica. Para ela, o crescente interesse dos chineses em startups abre espaço para empresas brasileiras fazerem parcerias.

Barral conta que lida com chineses há muito tempo e que, recentemente, auxiliou em uma pesquisa de grande empresa americana que queria contratar 35 engenheiros para uma fábrica aqui ou na China. Ao final, a fábrica foi para a Ásia. ;O custo do engenheiro era mais barato aqui, mas, quando se acresciam os encargos trabalhistas, ficava bem mais caro;, diz. ;As garantias trabalhistas não, necessariamente, geram mais empregos no Brasil, porque a concorrência é global;, prossegue.

Sobre a questão do trabalho escravo, Barral cita que atuou nos Estados Unidos tentando reverter denúncias de produtores americanos de laranja sobre trabalho infantil no Brasil. ;Exibiam filmes com imagens de crianças em laranjais de Sergipe, o que não é verdade;, afirma. ;Na realidade, temos de ver até que ponto situações indignas de trabalho existem em vários lugares, e não, simplesmente, achar que o mundo vai nos acompanhar;, conclui.

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