Diversão e Arte

Culinária argentina reflete o contraste de suas regiões

postado em 06/08/2009 08:18

Tiago Boita Laude: paixão pela parrilha fez com que abrisse restauranteO que imaginar da gastronomia de um país tão grande, que se estende da Antártida até o centro da América do Sul e que coleciona vales descampados, cordilheiras dentre as mais altas do mundo, e a segunda maior costa do continente? Assim é a Argentina, um país de grande diversidade física que reflete na culinária. Os contrastes entre as diferentes regiões geraram pratos únicos, como os famosos vinhos da Patagônia, o doce de leite dos Pampas e as empanadas de Santa Fé.

Além dos aspectos físicos, a colonização feita por diversos povos também influenciou na culinária. Os nativos pré-colombianos deixaram a erva mate, infusão semelhante à consumida no sul do Brasil. Os espanhóis, que descobriram o país em 1502, contribuíram com o consumo da carne bovina, uma das bases da alimentação argentina. Já os italianos, que chegaram no fim do século 19, trouxeram a farinha de trigo, amplamente usada em empanadas, panquecas e medialunas.

Grande parte dos temperos consumidos no Brasil é de origem africana. Como na Argentina, durante a colonização não houve a importação de mão de obra desse continente, o usos de especiarias, como açafrão e pimenta-do-reino, é bastante raro. Com menos tempero, a comida fica com um sabor mais leve. O azeite, trazido pelos espanhóis, é item básico, fazendo com que os outros tipos de óleos, como o de soja, sejam pouco utilizados.

A batata, cultivada desde antes da chegada dos europeus, é a principal fonte de carboidrato, e é consumida principalmente frita, assada junto com carne, ou em purês. As massas, que combinam perfeitamente com os vinhos tintos da Patagônia, também são muito presentes. As pizzas argentinas se diferenciam das europeias pela espessura. São muito mais grossas e levam menos tomate do que as italianas.

Sucesso argentino
Uma das opções para quem quer experimentar um pouquinho do sabor argentino, sem ter que atravessar os 2.300km que separam Brasília de Buenos Aires, e principalmente, sem gastar muito, são as empanadas. Elas estão disponíveis em 25 pontos da cidade que incluem cantinas de escolas de inglês, lojas de conveniência e lanchonetes de hospitais. ;Existem argentinos que não gostam de tango ou de vinho, mas é impossível encontrar algum que não goste de empanadas;, brinca o gourmet argentino Gustavo Mariasis, 45 anos, dono de uma casa de empanadas. ;Em breve, será difícil encontrar um brasiliense que também não tenha se apaixonado por elas;, afirma. Estima-se que por mês sejam consumidas na cidade até 10 mil unidades do produto.

Clique na imagem para ampliarMariasis conta que uma das principais vantagens da iguaria é o fato de la poder ser consumida a qualquer hora. ;Na Argentina, as empanadas são obrigatórias antes do churrasco, mas podem ser transformadas em lanche, substituir uma refeição, ou virem como aperitivo para uma bebida.; Os sabores são variados, vão das tradicionais carnes suaves e carnes com pimenta à sabores mais exóticos, como a mediterrânea, feita com beringela, cenoura e abobrinha italiana ; desenvolvida especialmente para quem tem intolerância à lactose ; e para vegetarianos.

Mas não só de empanadas vive a culinária argentina, outro prato onipresente nas mesas dos hermanos, e mundialmente conhecido, é a parrilla (churrasco para os brasileiros). Para os argentinos, o preparo da carne é uma arte e começa desde a criação do boi ; que deve ter uma alimentação balanceada e rica em fibras ;, passando pela conservação da carne, que não leva sal grosso. Para assá-la, sempre assada na brasa, de maneira que não absorva cheiro, ou sabor de fumaça. O ponto ideal é outro diferencial: os argentinos preferem a carne malpassada e com menos sal, o que garante a ela um sabor mais leve.

Tradição
O advogado Tiago Boita Laude, 31 anos, é um apaixonado pelo churrasco argentino. ;Sempre que eu viajava, não abria mão de visitar uma casa de parilla, é de um sabor inigualável.; A paixão é tamanha que em 2006 ele resolveu dar fim à loja de materiais de construção e transformá-la em restaurante, claro, especializado na cozinha argentina: o Corrientes 348. Lá todos os produtos são trazidos especialmente do país vizinho, para que o sabor seja o mais fiel possível. ;Desde a farinha até a carne, tudo é trazido de lá. O preparo dos alimentos e os utensílios de cozinha também seguem rigorosamente a tradição argentina.;

Um dos destaques do cardápio é o Ojo del Bife, um corte de carne bovina com pouca gordura, assado na brasa em uma grelha especial, com pouco sal e temperos argentinos, servido com batatas e acompanhado de vinho tinto. ;Temos que orientar o cliente sobre o ponto da carne, que em geral vem malpassada para os padrões daqui. Com o tempo, ao invés de pedir a carne bempassada, os clientes vão aprendendo a apreciá-la no ponto argentino;, diz Tiago. Para completar, na sobremesa é servido panqueca com doce de leite, feita com matérias-primas da região do Pampa, no norte do país.

Quem não gosta de carne, tem como saída a salada Juliana, feita com legumes, mostarda e batata palha, frita à maneira portenha. Laude conta que ;muita gente nem come carne, mas vai ao restaurante só para experimentar a salada;. Para quem não dispensa um bom vinho, vale lembrar que as uvas argentinas estão entre as melhores do mundo, nas variedades Cabernet Sauvignon e Merlot. Entretanto, as de maior produção são da variedade Malbec, produzidas na região de Mendoza, em plena Cordilheira dos Andes, com um sabor único, já que se tratam das vinícolas mais ao sul do planeta.

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