Diversão e Arte

Vencedores do Prêmio Iate Clube adotaram Brasília como fonte de inspiração

Nahima Maciel
postado em 01/09/2009 09:21
Os quatros vencedores do 9º Prêmio de Artes Visuais Contemporâneas do Iate Clube de Brasília não nasceram na cidade. Três sequer são brasileiros. A capital, no entanto, arrebatou os artistas. Aqui eles decidiram plantar suas raízes porque Brasília assim pediu. E, eles confessam, o encanto pela cor, luz, arquitetura e dinâmica da capital tornou o caminho natural. De certa forma, a vivência da cidade influenciou os trabalhos premiados no único salão de arte do Distrito Federal. As obras premiadas e expostas no Iate Clube até amanhã são inéditas e foram criadas sob a influência e experiência adquirida no cenário brasiliense de arte contemporânea. Para o júri formado por cinco críticos de arte, representam a diversidade que caracterizou as 150 obras candidatas aos prêmios. Rodrigo Paglieri, 40 anos e vencedor do primeiro prêmio (R$ 10 mil), deixou o Chile em 1988 para estudar computação no Brasil. A ditadura no país natal fez o então estudante optar pelo Brasil, mas a intenção era morar em São Paulo. Paglieri pouco ouvira falar de Brasília ao pisar na cidade após ser aceito em um programa de bolsas da Universidade de Brasília (UnB). Estudaria ciências da computação, mas migrou rapidamente para artes. %u201CEu tinha hábitos de produzir arte, desenhava, escrevia, esse tipo de coisa. Vivi numa ditadura e o contato com arte e cultura no Chile era restrito. Mas aqui era muito efervescente. O que me seduziu foi a possibilidade de trabalhar com arte contemporânea, que é menos dependente de uma técnica e mais produto de uma construção lógica, um jogo semântico que gosto de fazer%u201D, conta. Os trabalhos do chileno ficaram conhecidos nos espaços públicos da cidade. Em intervenções urbanas, como as realizadas no buraco do tatu da Rodoviária, Paglieri interagia com a população. Livro corpo, obra com a qual ganhou o prêmio, é bem diferente. A incursão no universo dos objetos gerou um projeto delicado. Graças a uma máquina escondida dentro da peça, o livro parece respirar. É o primeiro de uma série que toma forma lentamente no ateliê do artista. %u201CDe modo geral, meus trabalhos mais representativos buscam a sutileza. Trabalho com o que já está lá, procurando o que é evidente, natural. Livro é uma coisa que todo mundo conhece, mas retirei a capa, revelando camadas pouco evidentes. O miolo sozinho se torna mais corpóreo.%u201D Um corpo também pauta a obra do franco-italiano Gaspare di Caro, vencedor do segundo lugar no prêmio do Iate. Na imagem O salto no vazio métrico, ele calcula as coordenadas geométricas do corpo do artista francês Yves Klein em uma fotomontagem realizada em 1960. Com quatro medidas usadas para localizar Klein em relação ao sol, a um ciclista e ao solo, Di Caro apresenta coordenadas GPS para um momento perdido no tempo. %u201CO gesto efêmero, congelado no espaço e no tempo, se torna visível pelo traço de luz azul, realçando tais medidas. O salto no vazio métrico é um manifesto ao monomovimento%u201D, explica. Pop Campbell%u2019s soup, o outro trabalho premiado, traz as mesmas coordenadas GPS da localização da célebre obra de Andy Warhol, o artista pop norte-americano que transformou a popular lata de sopa em objeto de arte. %u201CMaterializando por meio de seu ponto GPS o lugar onde foi achada e escolhida, a obra ascende a uma dimensão universal, espaço-temporal. Cada objeto escreve sua própria história quando está atracada a seu ponto de partida, rendendo-a visível a seu próprio percurso%u201D, acredita o artista, que trocou o sul da França por Brasília desde que realizou uma série de projeções coloridas na cúpula do Museu Nacional da República, no ano passado. %u201COs lugares são muito importantes para mim. Por isso decidi viver em Brasília%u201D, conta. %u201CConsiderando que um artista deve encontrar seu próprio território de criação, e sendo meu trabalho baseado em medições e números, Brasília se impõe para mim como uma fonte de inspiração evidente.%u201D A dupla formada por Gustav e Liliá Liliequist, que levou o terceiro prêmio, também veio de fora. Gustav, 31, é sueco e formado em relações internacionais. Trabalha para a Organização das Nações Unidas e fotografa como atividade paralela. Em parceria com a mulher, a artista plástica Liliá, 32, desenvolveu a série de fotografias Adaptação, na qual interpreta os processos de ajustes de indivíduos a contextos estranhos. %u201CO trabalho fala da relação entre contexto e sujeito, como o ambiente afeta o sujeito e como o sujeito se adequa ao ambiente. E questiona o valor de se adaptar%u201D, diz Gustav. Nas imagens, uma personagem fictícia é fotografada com máscaras de animais em diversos cenários de arquitetura tipicamente brasiliense. %u201CA máscara pode ser usada tanto para se adaptar em certo ambiente quanto para se distanciar.%u201D Paulista de Araraquara e moradora de Brasília há duas décadas, Liliá é a modelo das fotografias e autora dos figurinos. 9º PRÊMIO DE ARTES VISUAIS Exposição de 26 artistas. Visitação até esta quarta-feira (2/9), das 9h às 18h, no Iate Clube de Brasília. O número R$ 10 mil Valor do prêmio conquistado por Rodrigo Paglieri

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