Diversão e Arte

Depois de 15 anos de estrada e dois discos lançados, Bois de Gerião se despede dos palcos

postado em 08/09/2009 08:30

O clima não foi de tristeza. Nem parecia uma despedida. Mas na noite de domingo, em cima do palco montado na área externa do Museu da República, a banda brasiliense Bois de Gerião fez soar seus últimos acordes. A apresentação do sexteto foi na programação do projeto Todos os Sons ; que contou ainda com Raquel Becker, Marcos Farias, Maurício Tizumba e os Tambores de Minas. E pelo número de pessoas cantando as músicas da banda, ficou claro que boa parte dos cerca de 350 presentes estava ali para ver o Bois. Amigos, fãs antigos e integrantes de outras bandas da cidade foram até lá para assistir ao encerramento de um capítulo do rock de Brasília. ;O Bois de Gerião abriu o caminho para toda uma geração de bandas. Esse show é simbólico, fecha um ciclo;, observou Pedro Ivo
Alcântara, 32 anos, ex-baixista da finada Prot(o).

A apresentação de aproximadamente 50 minutos contou com 13 músicas, tiradas dos dois CDs lançados pelo grupo (Bois de Gerião, de 2002, e Nunca mais monotonia, de 2006). ;Estava na hora de acabar. Nós viramos cover de nós mesmos;, comentou de cima do palco o vocalista e guitarrista Rafael Farret, 29 anos, respondendo a um grito de ;acaba não; vindo da plateia.

A decisão pela aposentadoria foi tomada em conjunto. ;Não tínhamos mais a pilha de continuar. Ficamos sem tempo pro Bois. Melhor terminar assim do que brigados. A banda durou muito por conta da nossa amizade, porque grana a gente não ganhou, então não tinha esse compromisso. Ultimamente, nos ensaios, a gente ficava mais conversando, querendo saber como estava a vida do outro, do que tocando;, continua o guitarrista, que pretende tocar outros projetos, mas não faz previsão para eles.

O derradeiro show do Bois de Gerião, na área externa do Museu da República: fim de um capítulo do rock de BrasíliaAlém do legado musical, representado por seus dois discos, a importância da banda para o cenário brasiliense está em suas incontáveis apresentações ; que inspiraram várias novas bandas. ;O primeiro show de rock que eu fui, foi do Bois. As pessoas cantavam as músicas, agitavam o tempo todo. Naquele dia percebi que existia rock em Brasília;, lembra Miguel Martins, 23 anos, vocalista e guitarrista da banda Watson. ;As pessoas medem o sucesso pela exposição na mídia. Pra mim, se uma banda fez boas músicas, ela já é bem-sucedida. Vou sentir falta;, desabafou Júnior Élcio, 39 anos, testemunha ocular da história do Bois de Gerião.

Trajetória
Com o nome tirado de um dos 12 trabalhos de Hércules, o Bois de Gerião se juntou em 1994. A proposta era colocar no mesmo bolo punk rock, hardcore e ska, mistura em voga na época. Ainda em meados da década passada, o grupo já se destacava pela presença de instrumentos de sopro na formação, pela desenvoltura ao vivo e pela quantidade de hits do repertório autoral ; o que resultava numa agenda cheia e fãs sempre presentes nos show.

Ao longo dos 15 anos de estrada, o grupo passou por mudanças na formação e orientação sonora (indo do ska-core das primeiras fitas demo ao ;rock com sopros; do segundo CD). Dos fundadores, sobraram Rafael Farret e o saxofonista Vincent Gautier. A última formação contava ainda com o trompetista Gus, o baterista Gabriel Coaracy (desde o começo do ano, integrante do Móveis Coloniais de Acaju), o guitarrista e tecladista Gustavo Dreher e o baixista Luís Ribeiro (também do Lafusa).

Revelada num período de entressafra do rock brasiliense (pós-Raimundos, Little Quail, Maskavo Roots), Bois de Gerião foi considerada durante muito tempo a banda da cidade com maior potencial de ;acontecer nacionalmente;, a bola da vez. Antes de lançarem o disco de estreia pelo selo local Protons, os músicos chegaram a ir para o Rio de Janeiro avaliar propostas de grandes gravadoras.

Lançado em 2006, Nunca mais monotonia não conseguiu a boa resposta do disco anterior. Dali em diante, o repertório ficou congelado, com eventuais covers aparecendo nos shows. Era perceptível a perda de pique da banda. Aos poucos, o público foi deixando o Bois de lado. Um prenúncio do fim.

Assista à parte do último show da Bois de Gerião

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação