Diversão e Arte

Primeira exposição do francês Gérard Fromanger no Brasil reúne 120 pinturas feitas entre 1962 e 2008

Nahima Maciel
postado em 09/09/2009 07:53
Fromanger ajudou a fundar o movimento da Nova Figuração para combater a abstração que tomava conta da arte francesaTinta e pincel são as armas da guerrilha do artista francês Gérard Fromanger. No espaço bidimensional da tela, ele imprime sua linguagem de resistência e sobrevivência. A pintura não tem poder, ele reconhece. Não, pelo menos, o poder formal da política. Mas é uma maneira de resistir à morte e às crueldades do mundo. E essa é uma boa forma de encarar as 120 obras dispostas pelas duas galerias do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) na mostra A imaginação no poder, que integra a programação do Ano da França no Brasil.

Gérard Fromanger, 69 anos, é filho de maio de 1968. "A época em que acreditávamos em tudo", brinca. A época também em que empunhava o pincel para criticar a sociedade, o consumo, as guerras e até a própria arte. Com a mesma veemência que o faz gesticular as mãos diante das telas produzidas nos anos 1960, o artista levanta a voz e aposta na figura para gritar contra injustiças ou celebrar a beleza do mundo.

Na arte, Fromanger levantou o pincel para reagir contra a abstração que tomava conta da cena. Ao lado de um grupo de artistas, ajudou a fundar o movimento da Nova Figuração, ou figuração narrativa, para combater a abstração que tomava conta da arte francesa nos anos 1960. A figura, Fromanger acreditava e ainda acredita, tem muito a dizer sobre o mundo. Ainda hoje. São seres humanos que povoam as telas do artista. A maioria não tem rosto, mas todos trazem questões instigantes.

A história da França aparece em várias telas, sempre carregadas de posicionamentos políticos. De esquerda, claro. Mesmo que a denominação nos dias de hoje implique várias nuances. Ser filho de maio de 1968 tem seu preço. A guerra também é tema caro. No Iraque ou no Vietnã, ela integra a dinâmica dos homens e provoca o artista. Mas o nu, a paisagem e o retrato também têm lugar. São temas de resistência na vida e na pintura. Recorrer a eles marca uma atitude e o artista crê, assim, retomar os objetos clássico da pintura para revesti-los de novas roupagens.

Com curadoria de Wagner Barja e Anne Dary, a primeira exposição de Fromanger no Brasil tem formato de retrospectiva e apresenta pinturas realizadas entre 1962 e 2008. São obras que pertencem ao próprio artista, a coleções particulares e a museus franceses, como o Museu de Arte Moderna da Cidade de Paris. Veja abaixo do que tratam as obras e como o artista encara seu ofício.

; Três perguntas// Gérard Fromanger

Como a pintura pode sobreviver na arte contemporânea?

Fiz esses quadros grandes para fazer a pintura existir frente a todas essas técnicas contemporâneas de hoje. São pinturas que renovam os velhos temas da arte para tentar estar à altura do espetáculo das novas tendências. Meu trabalho tem o elemento político, que não é realmente aceito. Não somos, eu e meus amigos, realistas socialistas, não somos pintores acadêmicos nem capitalistas, somos pessoas críticas, contestadoras, com visões de mundo que integram o universo político comum da realidade. Nos opomos a uma arte de contemplação, de deleite, e essa atitude nos marginaliza em relação ao circuito da vanguarda mundial.

Como o senhor se sente sendo pintor num cenário que incorpora cada vez mais novas linguagens e suportes?

Me interesso realmente por todas essas invenções e novidades, essas novas linguagens do mundo, e as integro na minha pintura. Minha pintura também é conceitual e contemporânea porque sempre integrou as vanguardas. Na arte contemporânea podemos fazer o que quisermos, estamos totalmente livres. Aí estão os nós de muitas coisas que acontecerão mais tarde. Tchekov falava que "as novas formas da literatura são sempre seguidas por novas formas de vida". As coisas a serem ditas são bem conhecidas, o amor, o ódio, a poesia, a beleza. Mas a linguagem deve ser nova.

O engajamento é uma marca do seu trabalho. Como chega aos temas que sugerem engajamento?

Todos os temas são bons. Podemos procurar durante 100 anos, os temas estão todos aí. Tudo é bonito. A linguagem é que é difícil. Os temas não são difíceis. Engajamento é meu motor. Há sempre algo a dizer sobre a guerra, a máfia; Antes de ser uma resistência a todas as sacanagens da vida, a pintura é uma resistência à morte que nos espera. A pintura, podemos dizer, ela nos acompanha seja para coisas da crueldade do mundo ou seja para a beleza, mas ela não é um poder, embora tenha essa qualidade imensa de dar ideias, de adiantar ideias. Não posso travar batalhas com quem tem poder, sou impotente face a eles. No entanto, posso discutir, posso fazer guerrilha. É meu direito.

A IMAGINAÇÃO NO PODER
Exposição de Gérard Fromanger. Aberta para visitação até 15 de novembro, de terça a domingo, das 9h às 21h, no Centro Cultural Banco do Brasil (SCES Tc. 2; 3310-7087).

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