Diversão e Arte

Lições para cinema

postado em 20/10/2009 07:07

Eu queria que você falasse um pouco da sua experiência com o grupo goiano Artes & Fatos. Foi depois de ver uma montagem de Herdeiros de Zumbi que você decidiu ser ator, certo? Fale um pouco dessa sensação;


Não cheguei a participar como ator do grupo em nenhum espetáculo. Tinha uma proximidade com alguns atores que trabalhavam comigo em outros grupos amadores. Cheguei a fazer uma oficina com os atores do Arte & Fatos e sempre que podia acompanhava as apresentações do Herdeiros de Zumbi. Essa experiência foi decisiva para me tornar ator, eu me encantava com o espetáculo a cada vez que o via e estar no meio dos atores, dos exercícios, da montagem do espetáculo, me fizeram buscar meios de participar desse universo do "fazer teatral".

Antes disso vc pensava em ser o quê?
Pensei em entrar para a Aeronáutica, em fazer ciências ou engenharia da computação, em ser professor de biologia ou geografia, pensei até em fazer gestão pública.


Como foi seus primeiros passos no palco?
A primeira vez que pisei no palco foi horrível, o espetáculo foi resultado da primeira oficina de teatro que fiz e logo depois da estréia abandonei a peça. Durante os ensaios já não estava gostando do resultado cênico e na primeira apresentação entrei e errei o texto, acabou a peça e eu disse que não queria mais fazer. Depois uma atriz que participou desse processo me chamou para fazer um teste em uma companhia de teatro amador. Fiz o teste, passei e fiz alguns espetáculos infantis, viajei o interior de Goiás e decidi ir para São Paulo. Em São Paulo, fiz alguns espetáculos na faculdade e estreei como profissional em 2006 no papel principal de A pedra do reino de Ariano Suassuna, com a teatralização de Antunes Filho. Em seguida fiz foi Carmen, Senhora dos Afogados e A Falecida, Vapt-vupt, todos com a direção de Antunes.


Como é trabalhar com Antunes Filho, um dos nomes mais importantes do teatro brasileiro? Qual o grande aprendizado que teve com o mestre?
O Antunes me fomentou artisticamente, me sinto privilegiado pois são cinco intensos anos de trabalho onde desenvolvo diariamente uma consciência artística. Hoje em dia isso é muito difícil, geralmente os atores aprendem uma profissão e não a dimensão que a arte deve ter para quem a pratica e para quem a contempla, e esse processo, conduzido por Antunes, envolve um pensamento e uma moral que são peças fundamentais no ofício de qualquer ator.


Em 2007, a montagem de A pedra do Reino foi uma das atrações do Cena Contemporânea e vc uma das sensações do festival no papel de Quaderna. Como avalia esse reconhecimento da mídia e do público?
O reconhecimento pode ser uma armadilha. Claro que ele é fruto de um trabalho bem realizado, mas o reconhecimento para mim implica em superação. Encaro todo esse reconhecimento da crítica e do público como uma provocação, no bom sentido, como um desafio para me superar, ir além, transcender meus limites e me arriscar, não com objetivo de ter novamente o reconhecimento mas pelo desejo de percorrer o desconhecido e ampliar o alcance da minha arte tocando cada vez mais fundo aos sentidos de quem a presencia, do contrário eu poderia cair nessa armadilha e me contentar ou me repetir numa fórmula que deu certo.


O que mudou em sua vida depois do espetáculo A pedra do reino?
Mais fácil seria dizer o que não mudou. A partir do momento em que sai da figuração, onde passei um ano ensaiando e assumi o papel principal à cinco meses da estréia, minha vida mudou radicalmente. Fazer o Quaderna implicava em muita dedicação e disciplina, além de todo trabalho de construção de personagem eu tive que desenvolver um forte trabalho de condicionamento físico. Eram quase trinta páginas de texto só do meu personagem, numa peça baseada em dois livros com um total de 1000 páginas. Foram horas de estudo para entender não só o caráter do Quaderna, mas como expressá-lo no palco de uma forma teatral. Eu perdia aproximadamente três quilos por espetáculo devido ao intenso trabalho corporal e das constantes movimentações em uma hora e meia de peça. Para ganhar resistência física fazia natação, bicicleta e corrida, quase um triatleta. Por tanto, minha alimentação, minha rotina, meu tempo de estudo, minha relações sociais, minhas responsabilidades, enfim tudo se modificou e continua se modificando. Abri mão de muita coisa da minha vida pessoal, pois herdei a mesma dedicação e disciplina até em papéis bem menores que Quaderna, procurando sempre me aprofundar cada vez mais na construção dos meus personagens.

Salve geral é sua primeira experiência no cinema. Como você vê essa nova abertura profissional depois de muitos anos se dedicando ao teatro? Você faria cinema de novo?
Gosto muito de cinema, minhas principais referências e minha fonte de pesquisa e inspiração são os grandes filmes. Fazer cinema é bem diferente de fazer teatro, sou e vou continuar sendo um ator de teatro que de vez em quando vira um ator de cinema.


Como foi trabalhar com o Sérgio Rezende e a Andréa Beltrão?
São grandes profissionais, sabem muito bem o que estão fazendo e desempenham com uma incrível desenvoltura seus papéis, observei atentamente e aprendi muito com ambos.


Qual sua lembrança dos atentados do PCC? Você estava em São Paulo na Época?
Estava ensaiando A Pedra do Reino, lembro do caos nas ruas e do pânico das pessoas sem saber se teriam transporte para voltar para casa.


Qual a expectativa com relação a vaga no Oscar?

O Oscar é uma premiação que visa prestigiar e promover o cinema norte-americano. Estamos concorrendo com mais de 95 filmes a uma das cinco vagas de melhor filme estrangeiro. Portanto a minha expectativa é com relação a repercussão do filme no Brasil.


Você trabalharia na televisão?
Televisão não está nos meus planos agora.


Quais são os seus projetos futuros no teatro e no cinema?
Atualmente estou ensaiando O Triste Fim de Policarpo Quaresma, onde faço o papel-título, com estréia prevista para março de 2010. Essa semana começo a filmar um longa de Toni Venturi.

Qual sua relação com o Ciro Gomes?
Nenhuma.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação