Diversão e Arte

A loufailândia de Lê Almeida

Agitador cultural e dono de selo, músico fluminense é adepto dos discos gravados em casa, de forma simples e espontânea

postado em 05/02/2010 09:45
Se para uns gravar músicas em casa é uma questão de praticidade e economia, para outros é também uma questão estética. Caso do fluminense Leandro "Lê" Almeida, 25 anos. Morador de Vilar dos Teles, em São João do Meriti (RJ), ele registra suas composições e as das bandas dos amigos em casa, no melhor estilo lo-fi - ou seja, com gravadores de fita cassete, microfones vagabundos e computadores limitados. O músico criou até um selo para divulgar toda essa produção, o Tranfusão Noise Records. Com dois compactos e dois EPs gravados, além de um tributo ao Guided by Voices, Lê Almeida aposta em canções mais curtas para o próximo discoLendo isso, muita gente pode se perguntar se o resultado sonoro dessas experiências não deixa a desejar. Não necessariamente. E Lê sabe que gravações meio sujinhas e abafadas também têm seu charme - tanto que se tornaram uma espécie de "escola" na virada dos anos 1980 para 1990. "Gravar em casa não quer dizer, necessariamente, ser lo-fi(1). Hoje em dia, muita gente grava lindos álbuns no quarto sem parecer que foram feitos assim", compara. Desde a adolescência, Lê curte bandas como Breeders, My Bloody Valentine, Pixies e Sonic Youth. Mas sua banda preferida atualmente é a extinta Guided by Voices. "Eles passaram a ser o meu Nirvana e, logo depois, os meus Beatles." A admiração é tanta que o músico organizou um tributo ao grupo do vocalista Robert Pollard. Com a participação de 31 bandas brasileiras, Don%u2019t stop me está disponível para download na internet desde o fim do ano passado. Antes de começar as atividades como produtor e agitador cultural, Lê Almeida - que durante a semana trabalha como auxiliar de serviços gerais - passou por algumas bandas como baterista. Hoje, além da carreira solo, na qual canta e toca guitarra (nos discos, geralmente executa todos os instrumentos), ainda empunha as baquetas no projeto Carpete Florido. Até agora, a discografia dele (lançada em parceria com o selo carioca midsummer madness) contabiliza dois compactos, Fique bem com dropes de Halls (2007) e Querida Deal (de 2008, uma homenagem à sempre cool Kim Deal), e dois EPs, Loufailândia (2007) e Revi (2009) - todos em CD-R, assim como os outros lançamentos da Transfusão. Revi (se pronuncia "révi", uma zoação com heavy metal) ganhou também edição em vinil de sete polegadas pelo selo Vinyl Land. "O disco foi gravado no meu quarto e prensado em Londres", orgulha-se Lê. Em 2009, a Transfusão Noise Records lançou 10 discos. A ideia para este ano é ultrapassar essa marca. "Transfusão é um selo amigável que, no momento, está deixando de ser uma coisa só entre amigos e começando a gerar novos amigos", detalha o idealizador do projeto. Atualmente, Lê prepara seu próximo EP. "Pretendo valorizar ainda mais as canções curtas. Esse meu novo disco também vai sair em Londres, via WeePOP Records, e a versão de lá vai ter umas diferenças da daqui", adianta. A partir da Baixada Fluminense, a dominação mundial pelo lo-fi prepara seu próximo ataque. "Agora no carnaval acontece o Bloco dos Malditos em frente à Casa da Matriz, na Zonal Sul do Rio. Nesta edição vai rolar o Guided by Samba, uma espécie de 'Lê Almeida convida'. Vamos ter vários camaradas pra cantar uns covers do GBV. Acho que vai ser o carnaval mais roqueiro das redondezas." Robert Pollard ficaria orgulhoso. 1 - Baixa fidelidade O termo lo-fi vem de low-fidelity, ou seja, baixa fidelidade, e faz referência aos equipamentos usados nas gravações que, por conta de suas limitações tecnológicas, obtém resultados menos nítidos. Essas características podem ser percebidas, por exemplo, nos primeiros trabalhos de artistas como Pavement, Guided by Voices, Yo la Tengo, Cat Power e Elliott Smith. LÊ ALMEIDA Conheça o trabalho do músico fluminense e das bandas da Transfusão Noise Records em transfusaonoiserecords.blogspot.com.

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