Diversão e Arte

Sandra Bullock chega como favorita ao Oscar de melhor atriz

Ricardo Daehn
postado em 09/02/2010 08:17
Numa crescente maré de sorte, desde junho passado com o sucesso absoluto da despretensiosa comédia A proposta, Sandra Bullock, sempre saudada como a queridinha da América, galga o posto de atriz dona de verdadeiro reconhecimento. "Ser uma estrela de cinema é uma questão de sorte na jogada de dados. Você só precisa reclinar, perder o controle e repetir aquele sucesso de um estranho acorde", avaliou a atriz. A recente dupla indicação ao Globo de Ouro, que coroa duas megabilheterias (A proposta e Um sonho possível), encaminhou aquela antes desacreditada estrela de Velocidade máxima (1994) para a antessala do púlpito de agradecimento da cerimônia do Oscar. No boca a boca alcançado pelo drama esportivo em que interpreta uma benfeitora decoradora para um rapaz negro adotado (nas telas, o estreante Quinton Aaron), Bullock se tornou a primeira atriz a arrecadar montante superior a US$ 200 milhões. "Ela exala carisma e adorabilidade que não podem ser ensinados ou comprados", é a corriqueira observação da diretora de A proposta, Anne Fletcher, na mídia internacional. "Ser adorável e legal não tem graça. Eu adorei ser uma vaca", brinca a atriz, com relação ao papel da desalmada editora Margaret em A proposta. Carência de graça e falta de romantismo haviam afastado Bullock das comédias, mas, no retorno ao filão, ela não deixou de encarar problemas como o tropeço no inédito Maluca paixão, capaz de, num contraponto, render à atriz o posto de pior intérprete ao qual está indicada ao Framboesa de Ouro. O reverso da temporada de prêmios não desanima a atriz, sempre bem-humorada. No empate com a "rival" Meryl Streep (Julie & Julia), a quem beijou a boca na entrega do Annual Critic's Choice Movie Awards, por exemplo, disse aos jornalistas que as semelhanças entre ambas se resumiam ao "gosto por sexo e por comida". Aos 45 anos, no auge, a estrela não encara com facilidade os elogios. Ela, que compartilha da postura popular e comum dos fãs, tem uma vida plena fora da redoma de Hollywood, precavida pelo que presenciou no sistema de indústria, em "que jovens atores são engolidos". As oportunidades crescentes, num ramo dado a "discriminações relacionadas à condição feminina e ao avanço da idade", foram fruto da jornada dupla, na pele de criteriosa produtora dos próprios filmes. Avessa à superexposição - Sandra, por exemplo, não esquece ter sido tachada de "entediante" por um leitor, na seção de cartas da revista Rolling Stone -, a atriz pouco favorece o desbravar da reservada rotina, com a custódia dos três filhos do marido, Jesse James, um tatuado empresário que, no passado, comandou o programa Monster garage (para o Discovery Channel). "Ele é uma moderna encarnação do McGyver", define o amigo da atriz Ryan Reynolds (que contracena com ela em A proposta), ao falar do homem que a conquistou por meio de e-mails. Filha do fonoaudiólogo John e da cantora de ópera alemã Helga (morta em 2000), Sandra teve como matriz um enorme apego à família. A questão de sorte, que insuflou a carreira, não fazia sentido, até que mãe sofreu de câncer e Sandra viu sentido, com a possibilidade de ajudar. Bilionária O atual cachê que, especula-se em torno de US$ 17 milhões por filme, tem possibilitado o saldo de ajudas assumidas, entre as quais a doação total de US$ 3 milhões, divididos entre as vítimas do tsunami, dos abalos no Haiti e do Katrina. A dedicação ao auxílio dado até a cachorros deficientes parece retribuída, uma vez que a estrela curte o sossego na casa de pedra, ao estilo dos anos 30, avaliada em US$ 7,5 milhões, em Austin (Texas). A aliança milionária, da famosa Tiffany & Co., é definitivamente um acessório, numa vida movida à dança, aos prazeres da comida (especialmente marshmallow) e à adoração por perfumes. Na fase de tantas conquistas, só o champanhe - deixado, aos engradados, na soleira da porta da atriz - é que não teve destino, já que ninguém, na casa, bebe. Dona de uma padaria e de um prestigiado restaurante (o Bess Bistô), abraça o momento solar, com a habitual modéstia: "É um acaso feliz, percebo que está errado" foi a resposta à premiação no Screen Actors Guild. Curioso, nessa badalação toda, é que os papéis que tanto renderam nas mãos de Sandra Bullock foram refugados justamente por Julia Roberts, a única a desbancá-la, em termos de lucros nas bilheterias. Enquanto Roberts detém a marca dos US$ 2,3 bilhões, Sandra não faz feio, com US$ 1,7 bilhão. A moça que, no passado, foi escada para Sylvester Stallone em O demolidor (1993), virou de vez a mesa, ao reproduzir a causa altruísta abraçada (na vida real) por Leigh Anne Touhy, pronta para estimular a carreira do renomado jogador de futebol americano Michael Oher. Transparente, Bullock - que ameaçou ter glória com os papéis da frívola racista de Crash (2005) e com o retrato da escritora Harper Lee (em Confidencial, 2007) - segue na trilha, desconfiada do próprio sucesso. "Serei a primeira a sabotá-lo", diz. E, quando passada a maré de sorte, qual será a nova meta? "Vou rastejar de volta para minha toca", já antecipou a atriz. Veja trailer do filme Um sonho possível

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