Diversão e Arte

A inspiração é a mesma, mas compor sambas-enredo requer uma ampla pesquisa sobre o tema

postado em 16/02/2010 12:59
Inspiração: integrandes da Acadêmicos da Asa Norte, Róbson e Kadu desvendam a arte de compor um samba-enredoSe as marchinhas têm como marca maior a irreverência, nos sambas-enredo o destaque são as histórias narradas. E ser compositor de samba-enredo em Brasília não é tarefa fácil. Mas o amor pela escola de samba do coração e pelo carnaval supera tudo. Róbson Farias, 47 anos, presidente da Acadêmicos da Asa Norte, e também compositor, conta que está na escola desde adolescente e, quando a agremiação completou três décadas, em 1999, foi convidado para compor o samba-enredo daquele ano. "Eu compunha sambas, mas samba-enredo era a primeira vez. Eu não senti muita dificuldade porque eu já tinha a poesia na alma. É claro que ele é diferente do samba comum, porque você tem que pesquisar bastante, seguir o que o carnavalesco quer. Mas a inspiração é a mesma", destaca. O carioca Róbson diz que, apesar de o Rio de Janeiro ser o berço e o celeiro dos compositores dos grandes sambas-enredo do país, não tem a menor intenção de trocar a capital do país pela Cidade Maravilhosa. "Brasília tem grandes artistas, letristas, músicos e a gente tem que reverenciá-los. Nós, particularmente, da Asa Norte, procuramos valorizar a prata da casa e investir nos compositores daqui. Tem muita escola de samba no DF que prefere trazer compositor de fora", revela. Astronomia Outro compositor da Acadêmicos da Asa Norte é Kadu Souza, 32 anos. Quando não está envolvido com os assuntos da folia, ele trabalha como policial militar. Sua estreia compondo foi no carnaval do ano passado, com o enredo sobre a astronomia, seus mitos e suas lendas. Brasiliense nato, Kadu confessa que acabou se surpreendendo com o próprio desempenho. "Eu estava bem inspirado. Em 40 minutos surgiu o samba e ele acabou sendo o escolhido em 2009. Fiz sozinho e ele foi bem aceito por toda a comunidade", lembra. [SAIBAMAIS]Kadu Souza também acredita que há uma grande diferença entre o samba convencional e o de enredo, apesar de terem a mesma essência. Ele acrescenta ainda o fato de Brasília congregar gente de todos os cantos, isso faz com que os sambas daqui ganhem uma certa peculiaridade. "Você tem que dar uma aula de história com o samba-enredo, há todo um tema para seguir. Mas é legal de fazer. E em Brasília, toda essa mistura de cultura dos estados faz com que o nosso samba-enredo seja diferente dos demais lugares. E isso é bem interessante", opina. O compositor de marchinhas Rômulo Marinho também tem no currículo alguns sambas-enredo e guarda uma curiosidade sobre o assunto. No carnaval de 1988, ele foi o autor do samba da Candangos do Bandeirante, cujo enredo era Minas Gerais. No dia do desfile, o puxador da escola teve um problema sério de intestino e não conseguiu cantar. A solução: Rômulo Marinho. "Eu fui convocado no susto. O intérprete não pôde comparecer e me chamaram. Entrei cantando na cara de pau e, como eu conhecia muito bem o samba, já que fui um dos autores, deu certo. Acabamos até ganhando nota 10 no quesito samba-enredo", lembra entre risos. Marchinhas e sambas-enredo de Brasília MARCHINHA Caixinha de Pandora Cicinho Filisteu "Gatinha, você é linda Muito mais bonita Do que Pandora Você é a joia rara Do meu carnaval Em você tudo é encantador Sua boca, seus pés, suas mãos Imagino a sua barriguinha As suas coxinhas E a caixinha de Pandora" Sambas-enredo "Hoje o Sol mandou plantar o amor e partilhar Marte se encantou, Vênus beijou, não quis ficar Lua plena e linda, chorou mas não quis se entregar Pelo espaço da pureza, os astros vêm nos ensinar" Trecho do samba-enredo de Kadu Souza sobre Astronomia (Carnaval de 2009) "Oh! Brisa, me leva com os anjos nesta noite de luar Entre nuvens companheiras conduzindo esta estrela Que nasceu no Ceará O seu destino estava traçado Aos quinze anos começou a lecionar Sua história de cem anos de legado são os imortais que vão mostrar" Trecho do samba-enredo da Acadêmicos da Asa Norte sobre Raquel de Queiroz (Carnaval 2010) Autores: Erick de Andrade e Paulo Roberto

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