Diversão e Arte

Veja íntegra da entrevista com Chiquinha

postado em 17/02/2010 08:00


Quando e como começou o seu interesse por histórias em quadrinhos? Nesta época, o que você lia?
Na verdade, não tenho muita memória de como o interesse por quadrinhos começou de fato. Desde criança, por intermédio dos meus irmãos mais velhos, sempre tive uma Chiclete com Banana, Animal ou revistas da Circo em mãos. Gostava muito de ler também coisas Disney style, Karl Barks e tal. Mas quando senti vontade mesmo, de desenhar usando recursos gráficos de HQ, minhas primeiras influências descaradas foram o Ota (cartunista e editor da revista Mad) e o Angeli. O Adão e o Allan também sempre foram fontes de inspiração nos tenros anos da minha mocidade, assim como os quadrinhos underground da década de 1960.


Sempre pensou em se tornar cartunista?
Nunca. Foi tudo acontecendo muito acidentalmente. Desenhar quadrinhos sempre foi muito mais uma válvula de escape da mente do que a de uma (aparentemente improvável) futura pretensão profissional.


Quando e como começou a sua trajetória nos quadrinhos?
Publiquei pela primeira vez na imprensa oficial em julho de 2005, na seção Abre Alas do Jornal do Brasil (RJ). Mas essa palavra trajetória implica em diferentes interpretações: pode ser que tenha começado aos cinco anos, quando tive um primeiro gibi em mãos, pode ter sido aos nove, quando desenhei um quadrinho infantil feliz pela primeira vez, pode ter sido quando trabalhei na Mad, também pode ser quando passei a publicar com regularidade na Folha de S. Paulo. Pode ter começado inclusive no dia em que tive coragem de mostrar meu trabalho através de um blog. Pode ter começado em vários pontos.


E quando você percebeu que poderia viver de sua produção de HQs?
Semana passada (mas ainda tenho minhas dúvidas).


Saber desenhar e saber fazer quadrinhos são coisas diferentes. Como foi o seu aprendizado para fazer quadrinhos?
Não tive muito aprendizado no sentido literal de estudo. Acho que o aprendizado se deu naturalmente através da leitura compulsiva desse formato desde muito cedo. Algo como causa/ efeito: a linguagem das HQs acabaram ficando no meu imaginário forever. Tipo, quando ia desenhar alguma coisa já saia naquele formato. Quadros, bonequinhos, balões, onomatopéias. Sem reflexão.


Muitas meninas não lêem quadrinhos porque as temáticas das HQs são, geralmente, masculinas ; em especial as HQs americanas. Você acredita que isso justifica o número reduzido de meninas leitoras e, consequentemente, produzindo HQs? Poderia comentar este assunto?
Não. E acho que se peca muito em dizer que as temáticas dos quadrinhos são masculinas. Essa coisa masculino X feminino já é meio coisa do passado, não? Mas enfim, entendi o ponto. Assim, eu adoro quadrinhos e nunca curti heróis ao extremo. Uma coisinha aqui, outra ali. Essa idéia de que: Quadrinhos = Marvel/ Quadrinhos = DC Comics, pra mim nunca fez sentido. Até porque o que sempre me atraiu foi o quadrinho autoral, e não essa movimentação da indústria de quadrinhos norte-americana de comics. São diversos os títulos de quadrinhos que nem se pode mais dizer que não estão no mainstream ou chamá-los apenas de alternativos pelo fato de que estão ganhando os mais importantes prêmios e notoriedade dada antes somente à literatura. Como exemplo disso (citando apenas autoras ; isso mesmo, sexo feminino) temos Alisson Bechdel (autora de Fun home) e Marjani Satrapi (de Persépolis), fora diversas autoras que abordam essencialmente temáticas do universo feminino, como Maitena e Heléne Bruller (citando aqui as mais conhecidas do grande público). O gênero quadrinhos vai muito além da grande indústria de super-heróis e acho que, ao contrário, em conseqüência do fato de terem, cada vez mais títulos e abordagens diferenciadas, tem aparecido cada vez mais meninas se aventurando no mundo dos quadrinhos. No exterior tem muita gente boa, mesmo.


Você acredita que o mangá ajudou a trazer mais meninas para os quadrinhos? Por que?
Iiiiii, essa eu não tenho conhecimento de causa suficiente pra responder.


Qual o seu conselho para as meninas que querem começar a fazer quadrinhos? E para aquelas que ainda não lêem quadrinhos?
Ler: gostar da linguagem dos quadrinhos é o primeiro passo. Fazer: desenhar o que quiser sem se importar se é legal, bonito, divertido ou vendável. Simplesmente deixar aflorar qualquer "inspiração" por mais boboca que pareça. E outra: saber desenhar, na verdade, é o de menos. Don;t worry girls.


Acha que rola preconceito contra a produção femininas nos quadrinhos?
Não é exatamente preconceito, mas rola sim uma espécie de estranhamento, inclusive ao se tratar de temas que não parecem cair bem nas palavras e pensamentos de uma "boa moça". Mas isso tem mudado bastante.


Qual tem sido o feedback para o seu trabalho?
Tudo indo numa boa. Numa super nice.


E quais serão os seus próximos trabalhos?
A minha página do Folhateen, alguns livros pra ilustrar, estou desenhando (agora durante o feirado, afe) umas tiras pra uma revista aqui do estado sobre o dia internacional da mulher e nesse mês de março tem uma matéria ilustrada por mim na revista Gloss. Além de, claro, projetos pessoais sendo tocados a passo de formiguinha. Aaaa e vou participar de uma expo muito massa, se chama Risadaria. Só monstros do humor nacional. Bááá.

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