Diversão e Arte

O duo brasiliense de indie rock Lucy and The Popsonics prepara álbum produzido por John Ulhoa

Ele é o guitarrista do Pato Fu e responsável por nova sonoridade do casal mais querido da cena de Brasília

postado em 04/03/2010 08:14
A decoração do apartamento do casal Pil e Fernanda Popsonic na Asa Norte parece uma colagem pop. Referências da adolescência vivida na era The Simpsons se misturam a pufes coloridos, Monalisas estilizadas e mapas-múndi virados ao contrário. Um adesivo grudado na parede declara: "In pop, we trust". É uma pista para entender o som que sai dos alto falantes do microsystem na sala de estar. A audição do novo álbum, ainda sem título ou previsão de lançamento, provoca uma inevitável constatação de "quanta diferença" no trabalho dos queridinhos do indie de Brasília, conhecidos como a dupla Lucy and The Popsonics. O casal Fernanda e Pil Popsonic: As composições ligeiras do primeiro disco A fábula (ou a farsa?) de dois eletropandas abriram espaço para letras mais maduras, focadas no cotidiano de quem precisa trabalhar, pagar as contas e tomar conta do gato Napoleão, bicho de estimação do casal. "É essa parte chata e entediante do cotidiano mesmo", reclama a parte feminina da dupla. "São dois jovens adultos, amadurecendo juntos, com responsabilidades", constata a metade masculina. Nem toda diferença deve ser creditada ao fenômeno de dois eletropandas alcançando a idade adulta. O toque de um misterioso chefe tem importância fundamental no novo capítulo desta história. "Enquanto a gente não podia dizer quem estava produzindo o disco, nós o chamávamos de chefe no Twitter", revela Fernanda sobre o trabalho de John Ulhoa, veterano guitarrista da banda mineira Pato Fu, produtor musical do novo disco e responsável por uma sonosfera distante anos luz da apresentada em A fábula. "No primeiro disco, nosso som era bem naïf, minimalista. No indie se a gravação é torta, vai sair torta mesmo", compara Pil. A aproximação com o ídolo começou com um esbarrão numa madrugada no aeroporto de Belo Horizonte. "De repente, percebemos que estavam ele e a Fernanda Takai (vocalista do Pato Fu, casada com John Ulhoa) atrás da gente. Eu falei para o Pil que era nossa chance de se apresentar. Eu fui até lá e entreguei um disco para a Takai. Eu estava muito nervosa, não conseguia falar nada, só respondia com a cabeça, mas eles já nos conheciam por causa do Marcos Pinheiro (apresentador do programa Cult 22, da Rádio Cultura de Brasília) que já tinha falado sobre a gente para eles", relembrou Fernanda do Popsonics. "Depois, ele (John) disse para a gente que ouviu o disco e achou legal mas pensou 'Ah, são dois pirralhos tentando fazer um som eletrônico'", disse Fernanda. A abertura de um show do Pato durante o Rec-Beat de 2008 rendeu visita ao camarim e aí sim, um diálogo de verdade entre as duas bandas pôde ser empreendido. Alguns meses de negociação e mais os recursos adquiridos em concurso do Fundo de Apoio a Cultura (FAC) e lá se foram os eletropandas para uma temporada no estúdio 128 Japs, em Belo Horizonte. John é bem workaholic, detalhista. Tudo tem de estar claro e sair corretamente.. O trabalho disciplinado durou três semanas, com períodos de trabalho de 12 horas por dia. A confecção do novo álbum teve apenas algumas restrições. "A única coisa que nós pedimos foi o uso do delay, cow bell e vocoder (efeitos inseridos por computador) que a gente usa desde o primeiro disco", relata Pil. A forma e o conteúdo ingênuo de Eu quero ser seu tamagochi, Coração empacotado, Estetoscópio e Garota rock inglês, filhas diretas da era mp3, eram parte do charme de principiante dos pestinhas, cujo forte era a pose em detrimento do domínio da técnica. Um outro elemento tornava o grupo ainda mais peculiar em 2006 (quando começaram). Eles ficaram famosos por se apresentarem em companhia da bateria eletrônica com nome de gente, Lucy. Participações nos maiores festivais de rock no Brasil e turnês por Bélgica, França e Portugal aumentaram a autoestima do duo e também a expectativa em torno dos futuros trabalhos. O novo trabalho é um álbum de 40 minutos, distribuídos por 10 faixas que vão da euforia "poprockeletrônica" a momentos sisudos. Algumas canções têm tudo para emplacar em set lists de DJs de festa alternativa. "Nossa intenção não era produzir um disco para pistas de dança, mas como a gente tem muita influência eletrônica acabou ficando dançante mesmo", repara Fernanda. Agora, o desafio está em definir a identidade gráfica do material e encontrar uma gravadora ou selo que tope o lançamento. "Estamos em negociações", respondem sem entregar nomes. Os renovados Lucy and The Popsonics testarão o resultado no Festival SXSW, em Austin, no Texas, em março. Mas, a agenda para Brasília ainda não está fechada. ROBÔ O vocoder é um efeito sintetizador que assemelha a voz humana a de um robô. Escavações pré históricas indicam que o primeiro registro de uso do efeito foi usada na gravação de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles. VIA SATÉLITE O delay, atraso em português, é um som ouvido na música pouco depois do sinal original ser emitido. É também o nome que se dá ao atraso da voz em conversas via satélite. CAPOEIRA O cow bell é um instrumento de percussão parecido com os sinos colocados nos pescoços das vacas. Em português, é conhecido como agogô e é muito usado na capoeira e em ritmos latinos como a salsa. Três perguntas // John Ulhoa Qual o conceito privilegiado no novo álbum? Acho que a principal ideia era conseguir uma sonoridade mais potente, com referências mais abertas que o anterior, e ainda assim, manter o espírito original da banda. Foi fácil seguir esse caminho porque todos concordamos que apesar do disco anterior ter sido muito elogiado, repetir aquele som um tanto caseiro seria um pouco decepcionante. Acho que todo mundo espera um upgrade deles nesse novo CD. A bateria eletrônica Lucy é uma das marcas do grupo. A participação desta integrante está ameaçada? Ela continua firme e forte, não tem bateria gravada de verdade no disco. Porém, Lucy agora é muito mais versátil, toca até timbres acústicos. Você já atuou como produtor dos discos do Pato Fu, mas também de outros artistas. Quais são as diferenças entre o trabalho com o Pato e outras bandas? No Pato Fu eu divido de um jeito diferente as funções e decisões. Tenho de pensar como guitarrista, letrista... São coisas que às vezes faço com outras bandas, mas não são o foco principal. A principal diferença mesmo é que com outras bandas eu entro num universo diferente de referências, de habilidades. É muito enriquecedor e trago essa experiência para o Pato.

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