Diversão e Arte

13ª edição da Semana da Francofonia traz a Brasília eventos variados, como musicais e debates sobre o legado de Claude Lévi-Strauss

Ricardo Daehn
postado em 17/03/2010 08:30

[SAIBAMAIS]Como representar um apanhado das mais distintas culturas que unem quase 40 representações de embaixadas sediadas na capital brasileira sem esquecer da própria festividade dos 50 anos de Brasília? Longe de uma resposta objetiva, a 13; edição da Semana da Francofonia, a partir de sexta-feira, se propõe a examinar o fator de maior unidade para um grupo de 800 milhões que compartilha não apenas da língua francesa, mas também de linguagens universais, usadas no cinema, nas criações artesanais, na música e na fotografia. Conviver com o outro ; o tema que une todas as atividades culturais, a maior parte, gratuitas, estendidas até 31 de março ; expressa a proposta de celebração do Dia Internacional da Francofonia (20 de março) por parte dos mais de 56 Estados integrados pela Organização Internacional da Francofonia.

Agitado por um cardápio que inclui gastronomia e peças artesanais, o bazar, com realização em 28 de março (na Embaixada da Costa do Marfim), é um dos ápices na programação de eventos da Semana da Francofonia. Dotada também de tonalidade acadêmica, que envolve reflexões em simpósios e debates com base literária, a festividade francófona engloba figuras de relevância, como o antropólogo Claude Lévi-Strauss (morto em outubro passado) e Olivier Mongin, filósofo que há mais de 20 anos dirige a revista Esprit, referência em análises das sociedades contemporâneas.

Pesquisador aprofundado de grupos indígenas no Brasil, Lévi-Strauss terá vida e obras debatidas, particularmente no dia 29, quando estudantes e o corpo docente da Universidade de Brasília (UnB) se reunirão para assistir ao filme Claude Lévi-Strauss par lui-même e partilhar do simpósio Universalidade e alteridade: Lévi-Strauss e o diálogo das culturas. Tema de mesas-redondas, a capital subsidiará debates como Humanidade e sociedade: homenagem a Brasília por ocasião dos seus 50 anos (com o arquiteto Cláudio Queiróz, no dia 25) e será refletida em registros históricos, como o capturado no curta-metragem tcheco Deux villes (1967), que antecederá a palestra A cidade nos tempos da mundialização, de Olivier Mongin (dia 26, na Embaixada da França).

Sonoridade

Os contornos humanitários do lema ;conviver com o outro; da Semana da Francofonia se evidenciam com o show da cantora canadense Athésia, filha de haitianos, que terá renda revertida para uma ONG dedicada ao apoio do Haiti, país em fase de reconstrução, depois de atingido por terremoto em janeiro passado. Após o show do dia 20, no teatro Oi Brasília, o Haiti segue concentrando atenções com a abertura da exposição fotográfica No coração do Haiti. Montada a partir do dia 24, no Centro Cultural Sesi Taguatinga Norte (QNF 24), o enfoque, registrado em 2008, é anterior à devastação e reúne premiado material jornalístico da dupla Fernando Ramos (imagens) e Iara Lemos (textos).

Com um lote de curtas-metragens constituído pelo tema Olhares da Infância e Outros, a Semana da Francofonia terá início na sexta-feira, no Centro Cultural Sesi (Taguatinga Norte), com sessões às 10h, 16h e 20h. Reapresentados na Embaixada da França e no Cine Dois Candangos da UnB, os curtas têm em comum a reciprocidade nas antagônicas visões infantis e adultas em torno do envelhecimento. Seja no canadense A Lili do Gilles ou no suíço A verdadeira vida de Arthur, uma percepção mágica redefine conceitos como mal de Alzheimer e o desemprego, por exemplo.

Para os adeptos dos longas-metragens, a Semana da Francofonia separou o inédito Home, da estreante Ursula Meier, a ser exibido dia 24 , às 19h, na Embaixada da França.
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Carimbo azul, branco e vermelho
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Com grande expressão nos bastidores da Semana da Francofonia, dimensionada ainda para comemorar os 40 anos de atividade da Organização Internacional da Francofonia, a Embaixada da França se revela abastecida de boa quantidade de atrações, para o ano de 2010, no segmento cultural. Em abril, a vida da companhia de mímica Julien Cottereau incrementará mais uma edição do FestClown, na Sala Plínio Marcos. Feito com recurso de mímica, Imagine-toi se apega à simplicidade e ao despojamento a fim de confirmar o talento do artista que já fez turnê com o Cirque du Soleil e foi prestigiado com o prêmio Moli;re 2007 de ator revelação.

Na programação relacionada a cinema, três atrações despontam: sem data definida, uma retrospectiva da obra de Eric Rohmer está na pauta, ao lado do tradicional Panorama do Cinema Francês Varilux (de 2 a 10 de junho), enquanto as quartas-feiras (entre abril e dezembro) prometem ser movimentadas no Cineclube Le Corbusier (Embaixada da França), por causa do projeto A França no olhar do Brasil. Tendo à frente um leque de 400 títulos ofertados pela cinemateca da embaixada, convidados do porte do produtor Luiz Carlos Barreto e dos diretores Walter Salles e Nelson Pereira dos Santos escolheram títulos como Muriel, Pickpocket e Alphaville para serem exibidos ao longo de 18 sessões. O crítico Sérgio Moriconi debaterá os títulos, no fim de cada exibição.

Athésia, cantora canadense de origem haitiana:

Cinco perguntas - Athésia
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Como é o retorno a um país que contribuiu no seu enriquecimento musical?
Sim, eu tive a oportunidade de conhecer e trabalhar com grandes artistas brasileiros como Seu Jorge e Appolo Nove e me contento em religar à influência da qual tanto acalento gosto que é a bossa nova. É ótimo regressar ao Brasil, depois de quatro anos, ainda mais com meus músicos que compõem o The Gentlemen. Cantarei, em francês, Baby (do Caetano Veloso), numa versão do grande escritor Stanley Péan (de origens canadense e haitiana). Minha expectativa é a de cantar tudo com meu coração e, após, degustar uma boa caipirinha.

Ser underground é coisa do passado? Há aspecto positivo nesse rótulo?
Comecei, profissionalmente, cantando para o segmento underground. A música eletrônica nem sempre é assimilada pelas rádios comerciais. Fui mais popular nas ondas comunitárias e no circuito das rádios estudantis. Ser underground ajuda na preservação da privacidade.

Tendo contato com tantas línguas, como se deu a sua formação?
Venho de Montreal, sou filha de haitianos, e minha primeira língua é o francês. Tive uma vizinhança anglófila e pude passar meus verões em Nova York. Creio que seja influenciada por todos esses países e línguas.

Existem componentes peculiares na sua música?
Desenvolvi a minha própria linguagem ; que alguns chamam ;athesian; e mistura diversas línguas ; quando cantei em jams sessions e no cenário musical noturno e eletrônico. É meu estilo libertário que me desprende das letras e mantém em alta o meu groove. Já gravei com um produtor musical português (Miguel Graca) que achou que, de fato, eu soubesse falar português. Ele teve a impressão de que meu crioulo e e português remontarem à antiga era. No meu ;athesian;, houve quem jurasse ter ouvido até espanhol.

Qual você elegeria como a língua mais musical?
Pelas minhas preferências, destacaria o português do Brasil, o italiano e o mandarim. Todas as línguas, porém, me soam à música. Gosto de toda e qualquer música do mundo. Já houve até quem entendesse meu francês como tendo um quê ;aportuguesado;. É muito curiosa a percepção alheia.

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