postado em 08/04/2010 07:00
O livro Damas de ouro & valetes de espada: crônicas do baralho não poderia ter sido criado de maneira mais espontânea. O jornalista Leonel Prata, escritor de crônicas para o site Primeiro Programa, da rádio Transamérica FM, reuniu os colaboradores do portal num bar, em novembro do ano passado. A maioria só se conhecia virtualmente. ;Esse grupo se formou no segundo semestre do ano passado. A gente se conhecia de um ler o texto do outro;, conta. A ideia de chamar as cronistas mulheres de ;damas de ouro; e os homens de ;valetes de espada; arrancou risos dos colegas.
Prata levou tudo muito a sério e começou a cobrar o envio dos textos. Numa alusão clara ao título, ele orientou o projeto gráfico do livro como se as páginas fossem cartas de baralho. O resultado final é um deck de 176 páginas de ilustrações e textos, que podem ser manuseados como cartas de um jogo qualquer, aleatoriamente. A edição de Damas & valetes durou apenas 45 dias. Foi o tempo que o organizador precisou para selecionar textos, ilustrações e as parcerias entre damas e valetes. A primeira metade do livro comporta escritoras ;de ouro; e ilustradores ;de espada;.A segunda parte é inversa. E quem escolheu as duplas foi Leo, de 7 anos, filho do organizador do jogo, ou melhor, do livro. Também integrante do time de valetes, Prata, na orelha do livro, conta que o filho adorou a brincadeira e fez questão de abrir os papeizinhos com os nomes, e ele mesmo ler. O exercício de literatura e o jogo de cartas continuam no perfil dos autores, escrito no fim do volume. ;Brinco com o naipe nas aberturas de cada autor. Na apresentação dos autores, com ilustrador e escritora, ou ilustradora e escritor, ponho de ponta-cabeça, como se fosse carta de baralho. Virou um jogo de baralho;, enfatiza.
Mulher-palavra
Quando as cartas ainda não tinham sido dadas, ou melhor os textos, Prata havia pensado em uma aventura mais simples, com apenas algumas crônicas de cada participante do Primeiro Programa. Quando as palavras damas e valetes acompanharam a ideia de editar um livro, ele logo pensou em convocar ilustradores para acompanhar os textos. A temática da maioria das crônicas segue na mesma esteira, investindo na relação entre homens e mulheres. Mas o editor adianta: ;Os contos têm alguma coisa a ver com homem e mulher. mas nenhum é erótico;.
As tensões entre os sexos são trabalhadas explicitamente e com bom humor, como em Domingo, cuja autoria é do par Marilena Montanari/Orlando, escritora e artista gráfico. ;Almoço na casa da sogra. Os homens cochilam;, ela escreve. A ilustração enquadra as costas de um sofá, chinelos no chão e os pés de um homem confortavelmente tirando uma soneca.
Antônio Barreto, na série em que seus escritos dividem espaço com os desenhos de Maria Eugenia, compara o poder da mulher com o poder da palavra. É a vez de um homem versar sobre o sexo oposto. ;Palavra é que nem mulher. Algumas a gente admira, bota reparo, mas não as conhece. Outras a gente conhece, até sonha com elas, mas não as compreende. E outras há, ainda, que convivem conosco todo dia;, o mineiro Antônio Barreto filosofa em Catabulerindobível. Eugenia traça o corpo feminino com as curvas da expressão ;mulher-palavra; num desenho levemente femme fatale, rivalizando com a delicadeza das metáforas de Barreto.
No jogo organizado por Leonel Prata, as oito duplas distribuem, em Damas & valetes, páginas ou cartas de boa literatura e boa diversão. O leitor não tem nada a perder.
DAMAS DE OURO & VALETES DE ESPADA
Organização de Leonel Prata.
176 páginas, MGuarnieri. R$ 25.
Pode ser adquirido pelo site www.primeiroprograma.com.br e na Livraria Cultura. O livro será lançado em São Paulo (29/4), nas cidades paulistas de São José do Rio Preto (6/5, na Bienal do Livro) e Lins (7/5), e na Bienal de Belo Horizonte (15/5).
Veja trechos do livro
