Diversão e Arte

Maravilhosa Elza

A voz que seduziu Louis Armstrong há 50 anos, vai encantar quem for à abertura do festival internacional I love Jazz

Irlam Rocha Lima
postado em 03/08/2010 07:00
Madrinha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1962, no Chile, Elza Soares apresentava-se numa casa de show em Viña del Mar, quando observou no fundo do palco um senhor negro e sorridente que a aplaudia. Ela não tinha a mínima ideia de quem era aquela pessoa, que achou parecida com Monsueto (compositor e humorista, morto em 1973). Quando terminou de cantar, ele pediu que o levassem ao seu camarim, e Elza veio a saber que tratava-se de Louis Armstrong, simplesmente um dos um dos maiores nomes do jazz norte-americano.

;Eu não entendia nada de inglês e aí vi aquele negão dizendo ;Yeeeaaaah, doctor;. Imaginei que me chamava de doutora, mas alguém me explicou que daughter era filha na língua dele, e pediu que eu falasse my father. Na hora reagi. Como é que eu iria me oferecer para um cara que acabara de conhecer? Mesmo assim repeti my father (meu pai) e observei que o fiz feliz, pois recebi como resposta um largo sorriso, acompanhado de yeeeaaaah.;

Elza Soares: em 2000 ela recebeu o título de

Armstrong, encantado com o fraseado jazzístico, os improvisos vocais e o suingue da cantora brasileira, imediatamente tornou-se fã de Elza, que, já completamente à vontade, não escondia a alegria por ter conhecido um artista tão importante. O cantor e trompetista, impressionado com o que ouvira, a convidou para fazer shows com ele no Mississipi (EUA). ;Não aceitei o convite, pois preferi ficar no Chile com o Mané, que viria a ser a grande estrela da Seleção Brasileira, na conquista do bicampeonato mundial;, recorda-se.

Quase 50 anos depois, Elza vai homenagear Armstrong no show My soul is black, que fará hoje, no Teatro Oi Brasília, na abertura da segunda edição do festival internacional I love Jazz. Antes dela, às 20h30, apresenta-se o guitarrista argentino-brasileiro Victor Biglione que, com seu trio, acompanhará a cantora em seguida. A primeira noite do evento terá no encerramento o grupo francês Pink Turtle.

Identificada como sambista, desde o começo da carreira Elza usa sua voz rouca como instrumento para criar o scats ; um tipo de vocalize, caracterítico do jazz. Isso já era percebido, por exemplo, em Se acaso você chegasse (Lupicínio Rodrigues), seu primeiro grande sucesso; e fica ainda mais acentuado em hits recentes como Carne negra (Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette).

My soul is black
Se não aceitou o convite para acompanhar Louis Armstrong aos Estados Unidos, Elza, mais tarde, cantou ao lado de Ella Fitzgerald durante um jantar no Rio de Janeiro, do qual participaram, também, Jorge Ben Jor e o Trio Mocotó. As duas tornaram-se amigas. ;Em 1981, eu a substituí em alguns shows na Itália, na turnê do álbum Ella abraça Jobim;, lembra. No fim daquela década, mudou-se para Los Angeles, passando a cantar em clubes de jazz daquela cidade americana e, também, de Nova York e Miami.

Sempre muito elogiada, Elza se surpreendeu ao receber em 2000 o título de ;cantora do milênio; dado pela BBC de Londres. ;Cantei várias vezes em Londres, inclusive naquele ano, quando participei de um festival de música brasileira, com Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa. Quando soube da escolha, não quis acreditar. A cantora que veio da favela, ser reverenciada dessa forma, foi demais pra mim;, emociona-se.

No show My soul is black, em que terá o saxofonista e flautista mineiro Nivaldo Ornelas como convidado especial, Elza vai interpretar repertório em que a standards do jazz como Summertime (George Gershwin), I love for sentimental reasons (Willian Best e Deek Watson), What a wonderful world (Louis Armstrong), é claro, juntam-se Corcovado e Retrato em branco e preto (Tom Jobim) ; todas com arranjos de Biglione.

I Love Jazz
Shows de Victor Biglione Trio, Elza Soares e Pink Turtle, hoje, às 20h30, no Teatro Oi Brasília (Brasília Alvorada Hotel). Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia) e fila K R$ 60 e R$ 30 (meia). Observação: meia entrada para estudantes e maiores de 60 anos. Não recomendado para menores de 14 anos.

E mais...

; Amanhã, às 20h30
Claude Tissendier (França), Leroy Jonse Sextet (Estados Unidos)

; Quinta-feira, às 20h30
Antigua Jazz Band (Argentina), The Judy Barmichael Seven (Estados Unidos)

; Observação: Na quinta-feira, às 14h, haverá master class com The Judy Carmichael, no pub The Old Bar, do Brasília Alvorada Hotel; e às 23h30, jam session, com a participação dos músicos, no
mesmo local

Guitarra no tom certo

O argentino Victor Biglione, ao longo da carreira, acompanhou alguns dos maiores nomes da MPB, integrou a banda pop A Cor do Som, fez um disco de blues com Cássia Eller ; que a Universal Music não quis lançar, mas tem álbuns antológicos mo mercado, como Uma guitarra no Tom, em homenagem a Tom Jobim; e Tributo a Ella Fitzgerald, com Jane Duboc.

;Minha formação é totalmente jazzística, embora seja o músico estrangeiro com maior participação em shows e discos de artistas brasileiros. Isso, segundo pesquisa feita pelo Instituto Ricardo Cravo Albim. Na área do jazz, gravei com Lee Konitz, parceiro de Milles Davis e um dos inventores do cool jazz; e toquei com John Patituci, baixista que foi da banda de Chick Corea, com Sérgio Mendes, Eumir Deodato e Márcio Montarroyos;, conta.

No show do I love jazz, Biglione é líder do trio que conta com Sérgio Barroso (baixo acústico), e Vitor Bertrame (bateria). ;Nesta apresentação, vamos focar no jazz dos anos 1930 e 1940 e passear pela obra de mestres como George Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. Todos os temas terão novos arranjos e interpretações personalizadas;, adianta.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação