Diversão e Arte

Felipe Neto improvisou um estúdio e se tornou um sucesso na internet

Despretensiosamente, ele improvisou um estúdio no quarto, pegou uma câmera, passou a realizar comentários ácidos sobre ídolos dos adolescentes, e seus vídeos já receberam 12 milhões de acessos na internet

postado em 07/11/2010 08:00
Despretensiosamente, ele improvisou um estúdio no quarto, pegou uma câmera, passou a realizar comentários ácidos sobre ídolos dos adolescentes, e seus vídeos já receberam 12 milhões de acessos na internetHá seis meses, o carioca Felipe Neto, 22 anos, decidiu, à sua maneira, adaptar o lema do cineasta Glauber Rocha: ;Uma ideia na cabeça e uma câmera na mão;. Improvisando um estúdio no quarto de sua casa, começou a produzir vídeos para o YouTube no canal Não faz sentido, em que comenta e, principalmente, critica de tudo um pouco. Os seus alvos faroritos são, geralmente, os ídolos dos adolescentes como Justin Bieber, Crepúsculo, Fiuk e o grupo Restart, ;aquela gente colorida;, como Felipe define. Até hoje, seus vídeos tiveram, pelo menos, 12 milhões de acessos (esse número aumenta a cada dia). Além de ser um fenômeno na internet, ele já tem assessoria de imprensa, ganhou recentemente o prêmio de webstar do VMB, da MTV, e até criou uma loja virtual em que comercializa camisetas e canecas. Além da fama, a rede mundial de computadores lhe rendeu algumas dores de cabeça quando surgiu um boato de que ele teria sido preso por porte de drogas. Apesar do aumento do assédio feminino, Felipe Neto está solteiro e se defende do rótulo de ;do contra;. ;Eu sou contra muitas coisas assim como sou a favor de tantas outras. Não me considero em definitivo como nada; a gente é uma variável, não uma constante;, declarou Felipe por e-mail ao Correio. Confira a entrevista completa.


FENÔMENO DA WEB

Início
Comecei com os vídeos em abril. Foi da maneira mais boba possível. Na verdade, peguei uma câmera, apertei o ;gravar; e saí falando coisas aleatórias. Somente após alguns vídeos eu realmente comecei a criar o programa Não faz sentido.

Repercussão
Não esperava ter. Se eu esperasse, não teria cometido alguns erros bobos, como, por exemplo, não dar um nome ao personagem do Não faz sentido. Teria colocado créditos no fim, para ficar mais claro de que se trata de um programa mesmo. Foi tudo muito surpreendente e ainda vem sendo a cada dia.

Vídeos
O vídeo em que falo sobre o Crepúsculo é o que teve mais repercussão. Atualmente, conta com mais de 6 milhões de visualizações. Mas o de que eu mais gosto é o Não faz sentido ; Políticos. Acredito que foi meu trabalho mais bem elaborado, tanto no texto quanto na interpretação, e acabou me rendendo muitos frutos, como a inserção do vídeo em aulas de colégio e faculdade, além do reconhecimento de figuras importantes e que têm minha grande admiração, como Arnaldo Jabor.

Assédio feminino
Aumentou um pouco, mas eu lido bem com isso. Nunca fui pegador que sai com várias mulheres e vive na farra. Fico mais no meu canto, até observando de longe e me divertindo com esse mundo diferente. Não estou namorando no momento, acredito que agora não é a hora certa; estou focado no trabalho.

Não faz sentido
O nome é uma alusão aos temas que eu abordo, dando a entender que as coisas que eu critico não fazem muito sentido, mas o que é que faz, não é verdade? Eu mesmo, em vários momentos, não faço o menor sentido.

Personagem
O texto é meu, as opiniões refletem as coisas que eu penso, elaboro o roteiro em cima de coisas reais que saem da minha mente, mas o resto é totalmente inventado e planejado. No cotidiano, sou uma pessoa absolutamente calma, não consigo levantar o tom para uma mosca, a menos que ela realmente me tire do sério. O Felipe do Não faz sentido é um grande personagem, um alterego.

Mal-humorado?
Sempre fui meio ranzinza, desde pequeno, isso é algo que até mesmo meus familiares sempre disseram. Acredito muito no poder da observação e, quando você observa demais, acaba ficando incomodado com muitas coisas.

Além dos vídeos
No momento estou concentrado na minha carreira como ator, envolvido em alguns projetos diferentes.

Do contra
Isso é muito reducionista, eu sou contra muitas coisas assim como sou a favor de tantas outras. Não me considero em definitivo como nada; a gente é uma variável, não uma constante.

Afinal, do que ele gosta?
Eu gosto de muita coisa! As pessoas criam essa falsa impressão de que na verdade eu não gosto de nada, mas é uma bobagem. Eu sou muito viciado em filmes e seriados. Prison break, por exemplo, foi um dos meus favoritos, assim como Lost, Friends, Grey;s anatomy, House e tantos outros. Sou profundamente apaixonado por café, quase dependente... (risos). Sobre música, eu sou eclético pra caramba. Sou fascinado por Cartola, Cazuza, Gilberto Gil, Caetano, mas também adoro bandas como U2, System of a Down, Disturbed, Dredg e tantas outras. Sou o cara do rock com grande apreço pela MPB das antigas e bandas experimentais. Na TV, não posso deixar de comentar um novo programa, Junto e misturado, que pra mim está espetacular. Inclusive, posso falar de dois ídolos que se encontram ali: Fábio Porchat e Bruno Mazzeo. Não são só ídolos, mas também pessoas que têm me ajudado muito nesse meu começo de carreira profissional. Outras referências pra mim são Wagner Moura, Fernanda Montenegro, Rodrigo Santoro e Selton Mello.

Grife
Uma empresa entrou em contato comigo com a ideia e eu adorei. Atualmente, estamos trabalhando na criação de novas estampas e canecas e, em breve, teremos grandes novidades. Minha ideia é poder realmente montar uma linha de produtos jovens e descontraídos, coisas que as pessoas realmente sentem vontade de usar e não simplesmente pra divulgar meu trabalho.

Programa de TV
Sim, eu tenho um projeto quase pronto, mas ainda não saiu do papel.

Felipe Neto X PC Siqueira
Eu e PC somos pessoas com ideais muito parecidos, mas com programas muito diferentes no YouTube. Somos amigos de verdade e fico feliz em ser comparado com uma pessoa tão boa como ele. Nossas diferenças, contudo, são notáveis. Ele faz um Vlog, um diário pessoal de improviso em que fala sobre aspectos do cotidiano. Eu faço um programa roteirizado e dirigido, falando sobre um tema único e com uma pegada completamente diferente da dele. Apesar disso, também tenho meu segundo canal, onde também faço um Vlog e mesmo assim não tem qualquer semelhança com ele. A comparação nasce de uma vontade que as pessoas têm de estar sempre criando briga, disputa, guerra. As pessoas sentem tanto esse desejo que chegam a criar disputa entre mim mesmo, falando coisas como: ;Seu segundo canal é muito melhor que o primeiro, aff;. O que é isso senão o desejo de ver disputa?

Internet
A internet é um território sem lei que necessita urgentemente de atenção por parte dos políticos, de modo a colocar ordem na casa. As pessoas veem na internet uma possibilidade de serem aquilo que elas sonham ser, mas não conseguem, como o cara que sofre bullying a vida inteira e vai pra internet fazer exatamente a mesma coisa com os outros pra compensar sua frustração. O anonimato é o principal problema da web. Você pode falar o que quiser usando uma foto do Batman e nada vai acontecer com você. O caso do post que fizeram a meu respeito em um fórum sobre drogas é um exemplo disso. Eu levo a brincadeira numa boa, dou risada junto, mas e os que não conseguem lidar com isso? É um caso que o legislativo precisa observar, pois pode acabar com uma vida. Na ocasião, o termo ;Felipe Neto preso; virou o primeiro trending topic global no Twitter e tem gente que até hoje acha que a história foi séria e eu realmente fui preso por porte de drogas, quando naquele dia, exatamente naquele horário, eu estava numa entrevista ao vivo, numa rádio.

Celebridade
Esse conceito de celebridade é uma coisa que varia muito de pessoa para pessoa. Pra mim, celebridade é uma pessoa como a Paris Hilton. São celebridades, estrelas, pessoas de extremo apelo popular, mas não necessariamente artistas. Não me considero uma celebridade. Na verdade, não gosto muito de definir sobre o que eu sou ou deixo de ser. Rodrigo Santoro disse uma coisa muito sábia em sua entrevista com a Marília Gabriela: ;A gente não é, a gente está sendo;. Eu não sou nada, estou sempre sendo alguma coisa. Meu trabalho é de ator e roteirista e é isso que continuarei fazendo, com fama ou sem fama, com flashes ou sem flashes. Espero só poder continuar fazendo aquilo que amo fazer. O que vier é consequência e não causa.

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