Diversão e Arte

Espetáculo trata do homoerotismo e de encontros entre gays

postado em 08/12/2010 07:32
No palco: seis bailarinos entram em cena durante movimentada coreografia de Perfume de açougue, no Teatro Helena Barcellos, da UnBPerfume de açougue, novo espetáculo do Dança Pequena ; Grupo de Dança Contemporânea, é desafio do coreógrafo Édi Oliveira: criar um gestual para o erotismo e a pornografia existente nas relações homossexuais. ;Tentei evitar eufemismos, busquei falar com as cores da realidade. Apesar da carga sexual, há momentos poéticos, delicados, divertidos e leves;, explica o criador da obra, que fica em cartaz de hoje até o dia 19, no Teatro Helena Barcelos, da Universidade de Brasília (UnB).

Há tempos, ele pretendia revelar seu olhar sobre o erotismo, mas sua inspiração ainda não havia se delineado no universo de homens e mulheres que se relacionam com pessoas do mesmo sexo. O recorte surgiu depois que Oliveira ganhou de presente Um canto de amor, filme de Jean Genet, que retrata o relacionamento entre dois presidiários homossexuais. ;Como bailarino, como gay, como alguém que tem uma observação desse universo, descobri que esse seria o caminho do trabalho;, afirma.

A falta de propostas coreográficas sobre essa orientação sexual também serviu como estímulo. ;O cinema, o teatro e a literatura já abordam esse mundo de LGBT, mas a dança no Brasil ainda não se apropriou desse universo;, avalia. Por isso, ele se empenha em incluir a sexualidade no mundo dos espetáculos. Seu trabalho anterior, O espaço entre o rosa e o azul, trazia a bailarina Danielle Renée em uma perfomance sobre as fronteiras entre as duas orientações sexuais possíveis.

Espaços de sedução
A trama surgiu em uma antiga pesquisa de Oliveira. Ele percorreu espaços de sedução onde homens se encontram, como parques, saunas, sites de encontros. Conversou com frequentadores, observou comportamentos, consumiu pornografia e buscou inspiração no universo digital do sexo fácil e das páginas de bate-papo. Diante dessa vastidão de fontes documentais, criou uma movimentação viril, que transita entre a brutalidade e a delicadeza. Em cena, há nudez, simulação de atos sexuais e fantasias sadomasoquistas. ;O que apresento não é uma generalização, mas um recorte. Nem todos são assim, praticam o sexo e a sedução dessa maneira. Também não levanto bandeiras, apenas me aproprio da pornografia homoerótica por meio da dança;, observa Edi, que participa da coreografia para seis bailarinos.

Para criar essa atmosfera sexual, o coreógrafo contou com a ajuda do cenógrafo Roustang Carrilho, que leu textos, pesquisou esses espaços de convivência e descobriu que a maioria dos encontros tem como cenários lugares escuros, no submundo da cidade. Carrilho criou uma floresta simétrica, em referência ao Parque da Cidade, um dos pontos de encontro mais tradicionais de pegação. ;Para trazer a atmosfera sadomasoquista, trabalhei com preto e vermelho, e muito metal;, explica. Além do bosque, uma sauna turca também serve como cenário para fantasias gays. ;Não tive tempo suficiente para incluir os encontros em banheiros públicos e os relacionamentos via webcam;, lamenta Oliveira.

O título da peça foi inspirado no clichê que associa a homossexualidade à promiscuidade desregrada. Pelo senso comum, esses homens saem à caça sem critérios, à procura de qualquer carne, como se fossem açougueiros. Édi Oliveira evita a generalização, mas reconhece que existe um grupo representativo de gays que vive dessa maneira. ;Esse fator é bastante perceptível no universo homoerótico;, revela.

PERFUME DE AÇOUGUE
Espetáculo do Dança Pequena
; Grupo de Dança Contemporânea, no Teatro Helena Barcelos ; Complexo de Artes , IDA/UnB. De hoje a sábado, às 21h, e domingo às 20h. Entrada franca. Não recomendado para menores de 18 anos. Até o dia 19.

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