Diversão e Arte

Luiz Carlos de Moraes fala sobre clã que tem 250 anos de palco

postado em 23/02/2011 07:34
Quem vê o ator Luiz Carlos de Moraes atuando em peças, novelas e no cinema nem imagina que ele possui um impressionante pedigree artístico. Em cartaz no espetáculo Quanto tempo da vida eu levo para ser feliz, encenado até o próximo fim de semana no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), o ator, que completa 50 anos de carreira em 2012, vem de uma linhagem cênica que começa na Europa, há dois séculos, e estica os tentáculos até chegar a Brasília. É neto de ninguém menos que Conchita de Moraes, um marco no teatro brasileiro, e sobrinho de Dulcina de Moraes, diva dos palcos e personagem crucial no desenvolvimento da cultura em Brasília.


As duas mulheres são a faceta mais famosa do clã, mas não são as únicas a viver de arte. O ofício começou há mais de 200 anos, quando os pais de Conchita viajavam com uma companhia de zarzuelas. O casal chegou a Cuba, onde a trupe fez sucesso, e decidiu ficar. A menina Conchita, batizada Maria de La Conceptión Alvarez Bernard, nasceu na ilha caribenha, mas, aos 2 anos de idade, mudou-se para o Brasil com a família, contratada pela companhia de teatro da atriz Ismênia dos Santos. Com a morte da mãe, Conchita mudou-se para Buenos Aires e lá viveu por 10 anos, com a família paterna.

Aos 20, voltou para o Brasil e abriu os braços para o teatro. Nos palcos, conheceu o marido Átila, que também era professor de português. ;Conchita tinha muita força, era uma grande atriz, venerada pelo público. Fazia você rir e chorar com a maior facilidade. Ia do drama à comédia na maior tranquilidade. Entrava em cena e o público aplaudia, mas só existia no palco. Fora dele, era quietinha, avozona e maezona;, relembra o neto.

A tia Dulcina é um capítulo à parte no escopo artístico do país. Além de ser um mito das artes nacionais, ela trouxe à cena textos de dramaturgos do mundo inteiro, como Bernard Shaw e Federico García Lorca, fundou uma companhia memorável ao lado do marido, Odilon, e ainda decidiu compartilhar sua experiência. Em 1955, inaugurou a Fundação Brasileira de Teatro (FBT), que se transferiu para Brasília e hoje é responsável por administrar o teatro e a faculdade que levam o nome da atriz, localizados no Conic. Dulcina viu fertilidade artística na terra vermelha do cerrado. ;Minha tia sempre lutou pela classe teatral, instituiu a folga semanal e acabou com o ponto, que guiava os atores na hora do branco. Naquela época, eles faziam várias peças, precisavam decorar muitos textos ao mesmo tempo. Ela também construía cenários trabalhados e fazia temporadas longas país afora;, relata o sobrinho.

Ruth, a mãe de Luiz Carlos e irmã de Dulcina, também foi atriz por mais de uma década e deixou os palcos para se dedicar à maternidade. Outra tia do ator, Edith de Moraes, e o marido, Manoel Durães, foram pioneiros do radioteatro, programas radiofônicos que exibiam pérolas do teatro. Odete, também filha de Conchita, não fugiu à regra e investiu na carreira. A proximidade com textos, coxias e ensaios, no entanto, não fisgou o menino de imediato. Mesmo familiarizado com o mundo artístico, ele sonhava em seguir a carreira de médico, comum na família do pai. Só mudou de ideia às vésperas do vestibular de Medicina. ;Não sei o que me fez mudar. Mas não saía do teatro quando minha tia fez a peça Tia Mame. Comecei a gostar da coisa, me deu aquele estalo, aproveitei que ela estava em São Paulo para montar Chuva, e ela topou me dar um papel pequeno no elenco;, relata.

Dulcina foi receptiva à ideia, mas nunca facilitou a vida do sobrinho, jamais barganhou papéis para ele. Quem não gostou muito da decisão foi a avó, Conchita. ;Ela sofreu bastante, carreira de ator é barra, principalmente naquela época. Ela achava que teria um neto médico, ficou um pouco emburrada comigo;, diverte-se ele. Depois da estreia ao lado da tia, Moraes entrou gradualmente no circuito profissional e trabalhou com nomes como Ziembinski, Sergio Cardoso, Bibi Ferreira, Gianfrancesco Guarnieri, Sergio Britto, Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi.

Hoje, coleciona 30 peças de teatro, 29 novelas e quatro filmes no currículo. ;Mas o teatro é muito mais quente, é minha essência, o que coça lá dentro;, avalia. Seguindo a escrita secular, a paixão pelo palco continua correndo nas veias da família. Aos 27 anos, a filha de Luiz Carlos, Talita de Moraes, trabalha como produtora teatral e faz aulas particulares para entrar no ramo do teatro musical.

Tradição
Subgênero teatral surgido na Espanha do século XVII, em que declamação, canto, dança, música e diálogo se alternam, em relatos de lendas, heróis mitológicos, aventuras e épicos. Alguns estudiosos apontam a zarzuela como precursora da ópera. Ao longo dos séculos, ela adquire um caráter mais popular e introduz quadros de costumes, imprimindo um tom mais realista às encenações.

De Hopkins a Seu Madruga

; Além de atuar em teatro, cinema a televisão, Luiz Carlos de Moraes desenvolveu uma próspera carreira como dublador. Ele já emprestou a voz a personagens memoráveis, como Júlio César, em Cleópatra, ao personagem William de Baskerville, em O nome da rosa, além de dublar o ator Anthony Hopkins em diversos filmes, como O homem elefante, Os amores de Picasso, A máscara do Zorro, além do inesquecível Hannibal Lecter, em O dragão vermelho. Seu Madruga, personagem do seriado Chaves, já ganhou a voz de Luiz Carlos de Moraes, que também se aventurou pelo mundo dos desenhos animados, dublando Seu Siriguejo, de Bob Esponja e Joe Tiger, do desenho Lion Man, entre outros. Em seu currículo, também constam documentários de natureza, para o canal
Animal Planet.

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