Diversão e Arte

"Brasília vai se ver na tela", diz René Sampaio

Diretor do filme Faroeste Caboclo, inspirado na canção de Renato Russo, afirma que versão cinematográfica fugirá dos estereótipos

Renato Alves
postado em 03/04/2011 19:57
O brasiliense René Sampaio tinha 14 anos quando ouviu Faroeste Caboclo pela primeira vez. Na época, morava no Plano Piloto e estudava no Sigma. Desde então, como muitos meninos da época, queria ver no cinema as desventuras de João de Santo Cristo, o ;bandido destemido e temido no Distrito Federal; imaginado por Renato Russo em 1979, quando tinha 18 anos e era o Trovador Solitário. Após concluir o curso de Comunicação Social na Universidade de Brasília (UnB) e se enveredar no universo do cinema, fazendo curtas-metragem, como o premiadíssimo Sinistro, René colocou na cabeça o plano de filmar a canção eternizada pela Legião Urbana. Hoje, aos 37 anos, ele está próximo de concretizar o sonho. Daqui a duas semanas, como diretor, começa a rodar o longa-metragem em sua terra natal, após quatro anos de pesquisas e captação de recursos.

Em uma descontraída conversa com a equipe do Correio, no hotel para onde ele e boa parte da equipe do filme se mudaram e vão morar nos próximos três meses, René falou do seu primeiro longa. Revelou segredos como pontos de locação e até a presença do único filho de Renato Russo no filme. Só não contou qual papel Giuliano Manfredini, 22 anos, interpretará. O diretor também adiantou que tentará, ao máximo, fugir dos estereótipos da capital da República. ;Vamos contar histórias de pessoas comuns que moram na capital do país. Vamos mostrar que Brasília é uma cidade como outra qualquer, com seus problemas e suas virtudes;, ressalta.

Roteiro do filme

O filme não é exatamente de um faroeste, um bangue-bangue. Brasília tem uma secura, a poeira. Vamos filmar uma Ceilândia em construção, com características que lembram os velhos e novos filmes de faroeste. Mas vamos adaptar isso para o mundo real do início dos anos 1980. É um filme que trata das desigualdades sociais, da realidade daquele período e, principalmente, da relação de João do Santo Cristo e Maria Lúcia.

Brasília no cinema
Brasília vai se ver na tela porque vamos filmar muita coisa nas cidades-satélites. O filme vai retratar a Brasília classe média, de quem estuda na UnB (Universidade de Brasília), mora nos blocos do Plano Piloto. Maria Lúcia, por exemplo, é filha de uma família do Plano. O filme também mostrará a rotina daqueles que pegam ônibus, passam pela rodoviária diariamente. O contraste da cidade, que ainda é muito atual.

Segredos revelados
Para não perder a graça, não posso revelar detalhes do roteiro. Mas posso adiantar que filmaremos, por exemplo, duas festas. Uma de rock, no Plano Piloto, frequentada por Maria Lúcia, e a clássica Rockonha. Houve várias Rockonhas no fim dos anos 1970, mas, a da música, ocorreu numa chácara de Sobradinho. E vamos rodar lá, no mesmo local. Já visitamos o terreno, conversamos com o dono da propriedade, que organizou a Rockonha original. Já o famoso Lote 14, como toda a Ceilândia, será reconstituído em uma localidade do Entorno, onde vamos montar uma pequena cidade cinematográfica.

[SAIBAMAIS]Fugindo de estereótipos
Em Faroeste Caboclo, vamos tentar fugir dos estereótipos de filmes sobre Brasília. Não vai ter reunião de deputados para negociatas. Em vez dos policiais federais lutando contra o crime organizado, vamos mostrar os traficantes e os usuários. Vamos mostrar a vida em Brasília, mas a vida de verdade, de quem aqui mora. Vamos contar histórias de pessoas comuns que moram na capital do país. Vamos mostrar que Brasília é uma cidade como outra qualquer, com seus problemas e suas virtudes.

Escolha do elenco
O elenco é sensacional. Todos estão muito comprometidos com o filme. Eles estão se dedicando muito aos personagens. Aliás, os personagens vão dar o tom do filme. Podem até mudar parte do roteiro. Vale ressaltar que mais da metade do elenco é de Brasília. Para os protagonistas, a princípio, queríamos apenas novatos, anônimos. Para isso, fizemos testes em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo e na Bahia. Mas, a Ísis (Valverde), por exemplo, se doou tanto, mostrou tanta vontade de fazer esse projeto, que não tinha como não ser a Maria Lúcia. Já no caso do Santo Cristo, um baiano, não apareceu ninguém melhor que o baiano Fabrício Boliveira. O mesmo ocorreu com Jeremias ; será interpretado pelo carioca Felipe Adib.

Possíveis cobranças
Não sinto peso algum em filmar Faroeste Caboclo. Tenho noção da responsabilidade, o que é diferente. É uma oportunidade de fazer um grande trabalho. Mas é um trabalho artístico como tantos outros. É a versão artística de um diretor de cinema para esse tema. Talvez sinta a cobrança na estreia. Mas, até agora, não ouvi ninguém dizer coisas do tipo: ;Pra que fazer isso? Pra que fazer um filme desse?;. Isso sim seria um peso. No entanto, até agora, só recebemos apoio, principalmente de Brasília, que abraçou o projeto.

Renato Russo e família
Até agora, tivemos uma relação sensacional com a família do Renato Russo. Ela tem nos dado total apoio. Tanto que o Giuliano, filho dele, fará uma aparição no filme. Não posso revelar como, mas adianto que tem muito a ver com a história, pois hoje ele tem a idade (anos) de muitos dos personagens da música escrita pelo pai. Mas não é um filme sobre o Renato Russo, a história dele. É sobre o Faroeste Caboclo, a maior obra dele. Isso tem que ficar bem claro.

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