Diversão e Arte

Filme que documenta a história de João MacDowell estreia nos Estados Unidos

postado em 22/09/2011 08:51

MacDowell tem estúdio em Nova York: filme dirigido por Mario Salimon

João MacDowell e Mario Salimon se conheceram na Brasília dos anos 1980. Foram contemporâneos na Universidade de Brasília (UnB), fizeram parte do cenário efervescente de bandas do período e nunca se perderam de vista. Nas últimas décadas, os caminhos foram se desencontrando. João investiu na carreira musical e foi parar nos Estados Unidos. Mario casou-se, concentrou-se em sua verve jornalística e tornou-se documentarista. Agora, os dois se reúnem em projeto cinematográfico: Parece que existo, em que o cineasta usa a vida do amigo MacDowell como fio condutor para traçar um panorama da cena cultural da cidade. O filme será exibido hoje, em Nova York, às 19h30 (20h30 no horário de Brasília), dentro da programação do Brazilian Endownment for the Arts, organização não governamental que divulga a arte brasileira na América.

;O filme conta uma jornada, uma decisão de trabalhar como músico, seja quais forem as consequências;, relata João MacDowell. Em um período em que sua banda, Tonton Macoute, estava se separando, ele contraiu uma doença que não era diagnosticada de forma correta pelos médicos. Entre a vida e a morte, sofreu durante dois meses até descobrir que tinha febre tifoide. O músico acredita que a cura é consequência dessa decisão interna de assumir a música como estilo de vida, que fez a engrenagem girar e o sucesso acontecer.

Depois de alternar trabalhos como técnico, produtor, arranjador e músico, MacDowell mudou-se para o Rio de Janeiro e, lá, caiu nas graças de produtores americanos. Transferiu-se para Nova York, onde hoje mantém um estúdio de gravação (com piano de cauda), produz discos de artistas do mundo inteiro, faz trilhas sonoras para filmes e prossegue em sua incursão pelo mundo da música erudita: prepara uma segunda ópera (a primeira, Tamanduá, já ganhou uma versão reduzida nos palcos americanos) e sua primeira sinfonia. ;Difícil é dormir;, brinca.

Cenas de rua
O projeto do filme começou a ser elaborado em 2009 e, no ano passado, foi rodado entre Brasília e Nova York. As locações são as ruas das duas cidades. A casa de MacDowell, o bairro onde vive, pontos turísticos de Brasília. Artistas importantes na trajetória do músico, como o cineasta Mauro Giuntini e o músico Paulo Cesar Cascão, dão depoimentos sobre a cena artística local. ;É um filme sem narrador externo, em que a história é contada pelas personagens ;, descreve Salimon.

Os depoimentos buscam ressaltar a influência que a arquitetura e o contexto sociopolítico da cidade exerceram nessa geração de artistas. ;Realço o fato de que houve mais do que rock em Brasília e que muitos não desistiram por serem deixados para trás pelo mercado. Seguiram vidas produtivas, mesmo que fora da música. É uma gente notável, valorosa, que merece ter voz;, acredita o diretor. As referências são pontuadas por registros fotográficos de bandas, shows de antigos projetos de MacDowell e até mesmo imagens que fazem parte de sua construção afetiva do universo musical. Os músicos da Rodoviária que ajudaram a burilar seus ouvidos surgem representados por Zé das Latas tocando na Torre de TV, na década de 1970, momento documentado pelo cineasta Vladimir Carvalho.

Por enquanto, a sessão será privilégio do público nova-iorquino. Salimon já recebeu três propostas para exibir o longa-metragem em Brasília, mas ainda não bateu o martelo. MacDowell torce para que seja logo. A vontade é aproximar sua produção recente da plateia de sua terra natal. ;Adoraria levar a ópera Tamanduá para o Teatro Nacional. Escrevi um dos papéis pensando na voz da Janete Dornellas;, conta.

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