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Led Zeppelin, banda ícone do heavy metal, no ínicío, tocava blues

postado em 11/12/2011 15:29 / atualizado em 19/10/2020 14:14

Guitarrista Jimmy Page, na divulgação do álbum Mothership, em Tóquio, em 2008
É difícil imaginar Jimmy Page, Robert Plant, John Bonham e John Paul Jones espremidos num quartinho de 5m x 9m, tocando Train kept-a-rollin’, uma gema do blues. Foi o primeiro ensaio do Led Zeppelin, em 1968, quando aqueles jovens nem sonhavam com o status de pais do heavy metal. A trajetória dos músicos mais insanos do rock é contada em um guia colorido, lotado de textos, imagens, pôsteres, ingressos de shows, suvenires de turnês e depoimentos de fãs famosos, como The Kinks e Bon Jovi.

Em Whole lotta Led Zeppelin: a história ilustrada da banda mais pesada de todos os tempos (Agir), o experiente crítico Jon Bream, que cobre música desde 1974 para o Star Tribune (maior jornal de Minnesota, nos Estados Unidos), reúne textos de colaboradores, entre perfis, artigos, memórias de shows e análises de discos, além de um imenso material gráfico para dar conta da jornada febril dos londrinos.

Antes da fama de selvagem e bárbara — feita de bebidas, drogas, groupies e flertes com o ocultismo —, o Led Zeppelin era apenas um projeto pessoal de Jimmy Page. O The Yardbirds, sua antiga formação de blues, ruiu com a saída de integrantes e conflitos de interesses com executivos. Page então partiu em busca de novos colegas. O vocalista Robert Plant foi indicação de Terry Reid, que recusou o convite. Ex-parceiros de Plant, o baixista John Paul Jones e o baterista John Bonham também entraram na turma.

Pôster de show em Baltimore (acima), publicado no livro sobre a banda
A alcunha de The New Yardbirds não sobreviveu por muito tempo. Como lembra o autor, Keith Moon ou John Entwistle (The Who) sugeriu algo sobre Page e companhia virem abaixo “como um zepelim de chumbo”. A referência ao dirigível do pioneiro alemão Ferdinand von Zeppelin pegou. Nascia o Led Zeppelin.

O balão decola
Já na estreia em disco, o primeiro (1969) de uma série de três LPs homônimos, os ingleses emplacaram sucessos nas rádios, como Dazed and confused. “A glória de Led Zeppelin está no som absoluto, na alquimia de quatro músicos talentosos que fazem muito barulho ao derreter o Hindenburg”, escreve Greg Kot, em artigo sobre o debute. Mas, na época, a imprensa especializada torceu o nariz para o rock agressivo dos ingleses, que, além da cadência do blues, misturava riffs e vocais esticados à leveza do folk britânico — a influência acústica apareceria com contundência no terceiro trabalho. O reconhecimento internacional veio com o segundo álbum, de petardos como Whole lotta love e Heartbreaker.

A birra com os jornalistas duraria anos, e Page fez do Led uma banda avessa a entrevistas e travessa dentro e fora dos palcos. Um bem-humorado artigo de Richard Cole, gerente de turnê por 12 anos, revela os comportamentos exaltados dos integrantes na segunda turnê americana. “Naquele tempo, fazíamos dois shows por noite em algumas cidades, geralmente às 22h e à 0h, e durante o intervalo de uma hora entre as apresentações abríamos algumas garrafas de champanhe, muitas em algumas ocasiões”, ele conta.

Depois de um terceiro álbum bem-sucedido, mas com venda inferior aos anteriores, o Led saiu de estúdio com um clássico absoluto do rock. As oito faixas compõem um disco sem título, posteriormente conhecido como Led Zeppelin IV. “Para alguns, Stairway to heaven”, diz Barney Hoskyns sobre a canção mais popular dos londrinos, “é uma palhaçada colossal, um pseudoépico impossível de se levar a sério. Para aqueles capazes de colocar a descrença cínica em suspensão por oito minutos, a canção permanece como o maior épico da história do rock”.

WHOLE LOTTA LED ZEPPELIN: A HISTÓRIA ILUSTRADA DA BANDA MAIS PESADA DE TODOS OS TEMPOS <BR> Organizado por Jon Bream. Tradução: Gustavo Mesquita, Luís Fragoso e Anna Paola Monteiro. Agir, 280 páginas. R$ 59,90.
Dois trabalhos importantes chegaram em sequência, Houses of the holy (1973) e Physical graffiti (1975), até a morte de Bonham, em 1980, asfixiado com o próprio vômito depois de um exagerado consumo de vodca. Por meio do livro Whole lotta Led, no entanto, vê-se que o quarteto continua voando mesmo depois de décadas estacionado. (FM)

Depoimentos

» “Eu estive na primeira apresentação deles em Nova York, no Fillmore East. Tinha uns 16, 17 anos, e aquele show mudou minha vida. Eles abririam para o Iron Butterfly, e um amigo meu me falou que o som deles era incrível. Ouvi o disco e fiquei estupefato. Então, quando os vi tocando ao vivo, disse a mim mesmo: ‘Essa vai ser a próxima grande banda’. E todos sabemos a história depois disso”

    Ace Frehley, do Kiss


» “Eles são a ponte entre o heavy metal e o pop rock. Não posso chamar as músicas deles de canções; o som que eles produzem é algo único, com aquele groove incessante. A música tem um espaço próprio, e isso é ótimo. Eles criaram algo que não existia antes. Essa sempre é a marca da proeminência de uma banda”


   Ray Davies, do The Kinks

» “O poder, as composições, a inovação, a forma como pegaram o blues, o eletrificaram e transformaram em algo singular — em trovão. Jimmy Page é um dos maiores guitarristas de todos os tempos, e o mesmo vale para Bonham, na bateria, John Paul Jones e Robert Plant. A combinação é simplesmente uma daquelas coisas que acontecem uma vez em um milhão”


    Lenny Kravitz, cantor

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