Diversão e Arte

Confira a entrevista com Cauê Novaes, do Coletivo Transverso

Caroline Maria
postado em 10/03/2013 14:39
Entrevista com o Coletivo Transverso

;Com nossas intervenções poéticas, buscamos dialogar com outras preocupações também presentes na cidade, outros desejos, e também outras belezas que existem nesses caminhos, que tantos diariamente fazem. Acreditamos que um pensamento novo, menos violento, pode mudar o dia de alguém que ande com o olhar atento para o que pode haver de belo na rua; Cauê Novaes, do Coletivo Transverso

Correio Braziliense ; Qual a proposta do Coletivo Transverso?

Cauê Novaes ; Trabalhamos com arte urbana e poesia. Procuramos desenvolver uma estética própria por meio da realização de intervenções urbanas autorais. Queremos criar e espalhar poesia pelas ruas e pelo cotidiano das pessoas. A arte urbana é democrática em sua natureza, não está mediada pela compra de ingresso ou pela aquisição de um bem. Existem inúmeras interfaces da arte de rua com áreas como a literatura, as plásticas, a política, a publicidade, a internet. Queremos pesquisar essas interfaces, e desenvolver um trabalho próprio que exponha e amplie o potencial imenso que existe nas ruas para a poesia.

CB ; Como e quando nasceu o coletivo?
CN ; O Transverso foi criado em janeiro de 2011, em Brasília, em almoços entre amigos em uma república da Asa Norte, começamos compartilhar técnicas e ideias sobre arte urbana. Assim, começamos a criar as máscaras de stencil. Os encontros se tornaram constantes, logo surgiram novas frases e a vontade de formar o coletivo.

CB ; Quantas pessoas envolvidas?
CN ; O núcleo criativo do Transverso, responsável pela criação de conteúdo e execução da maior parte das intervenções, além da elaboração de projetos do coletivo, é formado por Cauê Novaes (poeta), Patrícia Del Rey (poeta e atriz) e a Patrícia Bagniewski (artista plástica). Cada intervenção tem processos diferentes de criação, planejamento, produção, execução, registro e divulgação. Já realizamos mais de 300 intervenções nestes dois anos de Transverso, e hoje temos duas sedes, uma em Brasília e outra no Rio de Janeiro. Nosso projeto mais recente, chamado "Espaço destinado à poesia", propõe que os interessados em colaborar com o Transverso imprimam um de nossos poemas e colem por sua cidade (). Muitas pessoas já colaboram nas intervenções. Considerando a parte da divulgação, então, este número cresce muito. Nossa página no facebook tem quase 4000 seguidores e constantemente encontramos na internet fotos tiradas por pessoas que não nos conhecem.

CB ; Vocês se misturam às pichações da cidade. Como vocês classificam a interferência do Coletivo?

CN ; Chamamos nossas ações de intervenções poéticas. Reconhecemos, dialogamos e somos influenciados por outras formas artísticas encontradas na rua.Utilizamos principalmente a técnica de stencil que permite agilidade na aplicação. Apesar da liberdade contida na poesia, a grafia do stencil é fixa, como se fosse um carimbo.

CB ; As pichações caligráficas, em geral, são mais automáticas, contêm erros, não são muito pensadas - o que não é o caso de vocês. O Coletivo já sofreu alguma retaliação por ser muito "racional" ou "programado"?
CN ; A arte de rua permanece como um espaço de insurgência de vozes muitas vezes ausentes da mídia tradicional e da publicidade. Acontece que não existe vigilância absoluta 24h por dia e, mesmo se houver, existem pessoas dispostas a se arriscar para dizer o pensam ou para deixar alguma marca nas paredes.A arte urbana contempla o erro, o incompleto, o imperfeito, mas também o singelo, o infantil e o efêmero. E dessa contradição vem uma força expressiva bem particular.

CB ; O que vocês acham importante transmitir?

CN ; Pra gente, as intervenções são instantes de desvio. São formas de tirar o passante da sua rotina cega. Normalmente, temos olhos viciados. Quando somos surpreendidos por algo novo no caminho, percebemos a cidade como um elemento vivo. Com uma dramaturgia própria que pode ser modificada diariamente. Um poema aberto. Isso faz, com que o passante se insira/aproprie na própria cidade.

CB ; Vocês tem algum trabalho ou manifestação como inspiração e referência?
CN ; Nosso trabalho poético dialoga muito com os provérbios, ditos populares e aforismos. São referências nossas, muitas retiradas das ruas, que se somam a outras como o poema-objeto concretista. Somos muito influenciados também pela busca de concisão do haikai, forma poética oriental que no Brasil se traduziu em poemas de três versos, muito trabalhados por nomes como Millôr Fernandes, Paulo Leminski e Alice Ruiz. Entre muitos outros, gostamos de Banksy, Mundano, Fluxus, e Nicholas Behr que é colaborador do Transverso.

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