Diversão e Arte

Nova geração de zineiros em Brasília investe na produção de quadrinhos

Com tom crítico e total liberdade de criação, eles misturam desenho e poesia

Caroline Maria
postado em 30/03/2013 09:21

Com tom crítico e total liberdade de criação, eles misturam desenho e poesia

O zine A ética do tesão na pós-modernidade defende que, quando o sentimento muda, tudo muda. E quando tudo muda, o sentimento precisa mudar. O título de tom acadêmico não passa de uma desilusão amorosa. Foi o nome que a estudante de artes plásticas Gabriela Masson escolheu para a primeira publicação, fruto de um término de relacionamento. ;Tinha que fazer alguma coisa com isso e comecei a criar quadrinhos.; A produção é um exemplar da nova geração da cultura zine, movimento que tem retomado força no Distrito Federal, sétimo estado em termos de produção nessa categoria.


Fanzines e produtores de Fanzines de Brasília




Com a assinatura lovelove6, o zine saiu em papel rosa, com tiragem de 95 exemplares, é carregada na mochila, tem preço de custo a R$ 2, versões on-line e física, artesanal do traço ao ato de grampear. Além disso, um aviso: todas as histórias são baseadas em fatos e quaisquer coincidências são meras indiretas.


Com tom crítico e total liberdade de criação, eles misturam desenho e poesia


Entrevista com o servidor público Ricardo Tubá, 49 anos, criador do Tupanzine - o zine vivo mais antigo de Brasília


Correio Braziliense - Durante quase 20 anos, o Tupanzine cobriu boa parte da cena do rock independente de Brasília. Entre tantas publicações e materiais lançados, quais você considera de grande relevância? Bandas que estouraram, situações marcantes...

Ricardo Tubá - A demo da banda de anorak rock May Speed foi o primeiro grande feito, quando o zine foi acusado de antiético por dois de seus integrantes, Frank Couto e Luciano Kalatalo, fazerem parte da editoração do zine. Depois do zine, a May Speed, única banda originalmente anorak sound da história do rock Brasília - que só tinha demo porcamente gravado em quatro canais e com o Cesinha legião errando o tempo todo nas viradas pinkfloydianas - rivalizou com a Low Dream, que já tinha quatro clipes na MTV, dois CDs lançados, mais de 60 shows pelo Brasil e um festival junta tribo de Campinas. Outros feitos antológicos foram conseguir o primeiro show da Low Dream em Maringá e incluir o Divines Man, antiga banda do Claúdio Bull, no festival Monterrey Platostock de Porto Alegre.

CB - Você assume uma persona diferente para escrever o zine ou aquele é você nu e cru?

RT - As coisas vão saindo sem sentido e por improviso mesmo. O importante é não seguir nenhum modelo e fazer tudo de forma natural e sem obrigação de agradar ninguém, sem pretensão estética e não ter rabo preso com nenhum manda chuva do indie rock. Temos que interpretar vários personagens, é assim no trabalho, na vida familiar, no futebol e no zine.

CB - Como você conseguia estar tão por dentro das fofocas e dos bastidores da cena de Brasília?


RT - Na verdade, eu raramente ia a shows, mas tínhamos alguns informantes e confesso que a maioria deles eram comentados sem assistí-los.


Escritor do fanzine Tupanzine Francisco Ricardo da Silva, conhecido por Ricardo Tubá


CB - Fazer um zine, na sua opinião, é um reflexo do desencaixe nas plataformas de massa e comercial?

RT - Fazer um zine é pra disfarçar minha frustração por não ter sido jogador de futebol profissional, já que na última reunião no franguinho, com jogadores do Furacão FC de 37 anos atrás, o William Japonês disse que tinha certeza quer eu seria jogador de futebol e que eu tinha um potente chute com a perna esquerda. O Márcio concordou que ninguém batia falta por trás da barreira como eu.

CB - Você acredita que os zines representam um espaço de crítica da própria indústria cultural?


RT - Não. Na verdade, sempre fomos boicotados pelos editores de fanzine do meio underground. Até hoje, os fanzineiros evitam ter alguma relação com o Tupanzine para não se comprometerem com o falido e decadente mundinho indie. Eu acho ótimo.

CB - Os zines costumam ser ousados, íntimos, opinativos. Quem choca com uma estética diferente e assume ideias próprias, nesse caso, se arrisca a ser marginalizado?

RT - Só tem que saber manter a postura. Não se vender a qualquer preço. Por isso o zine está aí até hoje. Um conselho aos zineiros: não sigam nenhuma fonte de inspiração e não sigam nenhum modelo. Isso é um suicidio artístico.

Confira alguns trabalhos da nova leva de zineiros de Brasília


Stenio Freitas Neto (Photoviolência) - Esquizonóia:

Gabriela Masson - A Ética do Tesão na Pós-Modernidade:

Lucas Gehre - Aether:

Augusto Botelho e Daniel Lopes - Mês:

Livia Viganó e Taís Koshino - Piqui c;açúcar:

Heron Prado - Quote, Pl1gro, Almanaque e Duto:

Paint it black:

Savant Editora:

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