Diversão e Arte

Rafael Farret fala sobre a geração roqueira de Brasília pós-Renato Russo

Ex-vocalista da Bois de Gerião comenta sonho dos músicos que viram a Legião Urbana tomar os palcos do Brasil

postado em 03/10/2014 08:00
Ex-vocalista da Bois de Gerião comenta sonho dos músicos que viram a Legião Urbana tomar os palcos do Brasil

Farret elege Eu sei uma das maiores influências pessoais
Para quem chegou depois da Legião Urbana, fazer rock em Brasília envolvia uma responsabilidade maior. Com o grande sucesso atingido pela banda liderada por Renato Russo, os músicos da cidade buscavam cada vez mais seguir um caminho de sucesso, mas que mostrasse a própria história. Com Rafael Farret, ex-vocalista da Bois de Gerião, a história não foi diferente. Agora dedicando-se a trilhas sonoras, o músico comentou, em entrevista ao Correio, a influência de Renato Russo na carreira.



Você lembra da primeira vez que ouviu alguma coisa de Legião?
Me lembro do meu irmão mais velho ouvindo o primeiro disco da Legião Urbana na vitrola do nosso apartamento, e isso foi em 1985. Eu adorava a introdução de guitarra de Será.

Se tivesse que escolher uma música que mais te influenciou, qual seria?
Apesar de gostar muito dos três primeiros discos da Legião Urbana, não me considero um músico muito influenciado pela banda. Entretanto, até hoje considero o Renato Russo um grande vocalista e um excelente compositor, e para mim, a sua grande arte sempre foi, mais do que as letras, a de criar excelentes melodias e harmonias, as quais muitas vezes dão sentido a palavras que em nenhum momento rimam! Tenho até essa teoria: sem as melodias e harmonias criadas pelo Renato Russo, não sei se suas letras poderiam se segurar sozinhas. E o que é mais difícil: não sei se alguém conseguiria compor melodias excelentes a partir delas. Talvez somente o Renato Russo mesmo.

Um belo exemplo disso que estou falando seria a música Eu sei. Considero esse hit a síntese do que há de melhor no Renato Russo: uma letra com pouquíssimas (ou talvez nenhuma) rima - o que não é ruim, claro, mas que certamente torna o trabalho do compositor mais difícil -, com palavras fortes e bonitas em determinados momentos, e que tem uma melodia e arranjo simples, mas com muito "clima". Além disso, essa música me lembra uma fase da minha infância bem legal. Portanto, acho que Eu sei é a minha música preferida da Legião.

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E o quanto você acha que tem de influência do Renato nessa geração dos anos 1990 de Brasília?
Pessoalmente, acho que a geração do rock brasiliense dos anos 1990 procurou um distanciamento em relação à geração dos 1980. Não vejo essa geração sendo influenciada musicalmente por Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial. Talvez isso seja até natural, já que, no mundo das artes/cultura pop em geral, a geração seguinte procura se desvencilhar de aspectos marcantes da anterior. Vejo isso claramente em relação às letras, por exemplo. Aquele "rock cabeça", de cunho político ou que continha palavras mais "rebuscadas", típico das bandas de Brasília dos anos 1980, desaparece completamente do universo musical dos Raimundos, Little Quail, Oz, Maskavo Roots.

Porém, sem dúvida, acho que o fato de o Renato Russo ter montado uma banda na distante e árida Brasília da década de 1980, banda esta que tempos depois se tornou a maior banda do rock nacional, motivou a geração que era então adolescente nos anos 1980 a fazer o mesmo: "vamos montar uma banda, e virar a próxima Legião".

Quais são os projetos que você tem participado, depois da Bois de Gerião?
Atualmente, tenho trabalhado mais com trilhas sonoras, mas não consigo ficar muito longe desse universo das bandas. Tenho participado de alguns projetos, como por exemplo o Esperando Rei Zula (junto com o pessoal do Móveis Coloniais de Acaju e Prot(o), no qual tocamos músicas brasileiras e internacionais em versões jamaicanas instrumentais), e o Green Folkies (criado pelo Fernando Brasil, do Phonopop, que vai mais pra linha do folk/jazz), além de me reunir de vez em quando com o Philippe Seabra e o Carlos Pinduca pra tocar em tributo ao The Clash.

Mas nunca parei de compor desde o fim dos Bois de Gerião, e, no momento, estou montando uma banda autoral com grandes influências do reggae eletrônico dos anos 1980, e que deve sair pra tocar em breve.

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